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segunda-feira, 8 de julho de 2019

SELO: As duas grandes versões à volta do vendaval por Basílio Macaringue

Hoje vamos reflectir à volta de um evento natural tratado de diferentes modos na sociedade moçambicana, particularmente, no contexto da zona sul. Trata-se do vendaval, comummente tratado igualmente como ciclone. Trata-se, nesse caso, de um fenómeno natural que ao ocorrer assola diversas famílias, sobretudo nas zonas ribeirinhas e àreas de pouca habitação populacional. Estão associadas à essa ocorrência três grandes razões, nomeadamente: a exposição ao risco, a deficiente capacidade de adaptação face à materialização do fenómeno e a deficiente capacidade de reposição. Assim sendo, com o seu decorrer observamos perdas de vidas humanas e de bens materiais, incluindo infra-estruturas sociais.

Acredita-se localmente, conforme revelam comentários de gerações mais velhas, que a ocorrência de ciclones vem sendo considerada como uma movimentação de uma certa serpente invisível que apresenta sete cabeças, designada “Mwa Mulambo”. Comentários salientam que nas zonas rurais esta espécie é tão temida que até o próprio nome não se permite pronunciar, devendo-se dizer simplesmente “Nkulu Wa Mhunu”, quando do mesmo se estiver referindo. Acredita-se, ainda segundo relatos populares, que tal espécie efectua dois movimentos, um de ida e um de retorno. Quando isto acontece, de acordo com os mesmos, significa que tal serpente saiu à busca da sua companheira.

Avancemos à reflexão: assume-se que seja uma espécie invisível e composta por sete (7) cabeças e que sai à busca da sua companheira, de acordo com relatos de terceiros. Afinal de contas, quem já a viu? Esta é a pergunta chave, não a única.

Nesse prisma, hoje vamos reflectir à volta deste episódio, procurando explorá-lo de forma mais lógica possível: Na verdade, estamos aqui perante um fenómeno que pela deficiente capacidade de explicá-lo racionalmente, as sociedades mais remotas inventaram uma dada abordagem sem alguma base sólida ou lógica, sendo sustentada apenas por um conjunto de proficias de ancestrais imaginários, garantindo assim o respeito pela ordem social e a padronização dessa crença local. Esta história foi sendo transmitida de geração para geração, pois todo Homem é fruto do meio social em que se encontra inserido. Mas a ciência torna-a numa abordagem puramente inválida.

Observemos o lado lógico deste episódio: o planeta terra sempre esteve vulnerável à diversos eventos extremos, alguns dos quais contribuíram para a extinção em massa de espécies como dinossauros e dragões. A partir do século XVIII, conforme aponta a ciência, o mundo assisti um novo episódio, oriundo do processo de desenvolvimento industrial. Daí surgem: a explosão demográfica, as urbanizações, o melhoramento das condições de vida incluindo a assistência médica, a aceleração do processo de mudanças climáticas, etc.

Vamos nos distanciar dos demais resultados e dar um olhar profundo ao processo de mudanças climáticas. Ao falar de mudanças climáticas, segundo a ciência da terra, nos referimos ao processo de alteração do clima na escala planetária e, em consequência, aumenta o índice de ocorrências de eventos extremos (sismos, ciclones, terramotos, maremotos, inundações, secas prolongadas, etc.), a prevalência de doenças respiratórias, o derretimento do gelo nas zonas polares e consequente saliniização das águas dos rios, etc.

Diante desta abordagem, devemos, obviamente, assumir que o episódio antigamente designado “Mwa Mulambo” é, na verdade, um fenómeno natural. Este fenómeno recebe diferentes designações em virtude de factores que caracterizam a sua ocorrência, desde a sua zona de origem, a sua intensidade, a área afectada, etc.

Nesse contexto, o vendaval vem sendo atribuído uma abordagem ilusória durante anos e anos, acabando por se tornar uma crença utópica generalizada na zona sul de Moçambique, com maior predominância nas zonas rurais de Maputo e Gaza. A sua ocorrência tem sido drástica nos últimos anos e, segundo a ciência, a sua magnitude tende a aumentar, ampliando, deste modo, seus impactos negativos sobre a sociedade, sobretudo as de terceiro mundo. Recentemente as zonas norte e centro do país foram vítimas de ciclones IDAI e Keneth, que deixaram marcas históricas sobre o país como um todo, desde perdas de vidas humanas, infra-estruturas sociais, etc.

Nesse caso, independentemente da crença a que a sociedade se forçar a inclinar nela, encontramos aqui a necessidade de obedecer os critérios técnicos adequados para erguer qualquer infra-estrutura social, principalmente casas, hospitais e escolas, o que poderá reduzir a nossa vulnerabilidade face à materialização deste fenómeno... e precisa-se, também, aumentar a capacidade de difusão da informação referente à este assunto, especialmente, nas zonas mais recônditas.

Por Basílio Macaringue

 



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