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domingo, 26 de agosto de 2012

Notícias de Moçambique: Zimbabweanos continuam a atravessar a fronteira Machipanda à procura de comida

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Aug 26th 2012, 19:50


Apressado e carregado, Mazhai Puch, 34 anos, ajeita a bagagem na cabeça, na fila para carimbar o passaporte, de regresso ao Zimbabwe, na fronteira de Machipanda, em Manica, no centro de Moçambique.

"Quando chegar em Mutare (Zimbabwe) devo apanhar outro transporte para ir à zona onde vivo e o sol já vai deitar. Levo comigo arroz, massas, óleo e bolachas, parte do produto ainda deve servir para o jantar" disse Mazhai Puch, que respira de alívio por conseguir chegar a tempo à fronteira que divide os dois países.

Milhares de zimbabweanos continuam a atravessar a fronteira de Machipanda, à procura de produtos de primeira necessidade em Manica, como sabão, óleo, arroz, pão e 'chips' (batatas fritas), para consumo ou revenda, apesar da "economia local estar a sair de coma".

"A economia zimbabweana tem tentado recuperar, mas a população ainda atravessa a fronteira à procura de alimentos básicos e melhores condições de vida. Os números não são tão piores como há três anos" explicou José Marizane, chefe do posto fronteiriço de Machipanda.

Estatísticas migratórias naquele posto indicam que em 2011, das 269.592 pessoas que atravessaram a fronteira, 198.983 foram de nacionalidade zimbabweana, basicamente motivadas pela procura de comida e troca comercial.

Entre janeiro e junho deste ano, o movimento migratório aponta para 81.276 zimbabweanos que atravessaram a fronteira, do global de 124.384 pessoas que passaram do posto fronteiriço de Machipanda.

Um relatório do Programa Alimentar Mundial (PAM) prevê dias negros para o Zimbabwe, ao estimar que cerca de 1,6 milhões de pessoas vão necessitar de ajuda alimentar durante a próxima estação seca, de janeiro a março de 2013, face à fraca produção agrária, a mais baixa desde 2009, quando o colapso atingiu o pico.

Segundo o relatório, divulgado na semana passada, a produção cerealífera deste ano caiu para 1.760.722 toneladas, ou seja, um terço menos do que em 2011. Contudo, o número de pessoas necessitadas aumentou 60 por cento relativamente ao milhão que necessitavam de ajuda alimentar na última estação seca.

"Nas zonas rurais, as pessoas estão a passar fome de verdade, uma situação crítica nunca antes vista, com celeiros vazios e sem a que recorrer. As pessoas estão a ficar pálidas e os que têm gado estão a vender para adquirir comida", disse um residente da região de Manicaland, uma zona atingida pelas carências alimentares.

Kudha Kwache, residente em Masvingo, uma região que pode vir a ser afectada pela fome, previu que "pode ser a pior catástrofe" dos últimos anos, se não houver uma reacção das organizações humanitárias que actuam no país.

"Alguns só restaram com gado, mas se a fome se arrastar por muito tempo, este recurso pode esgotar. Aí é que ficaremos de mão estendida mesmo" precisou Kudha Kwache.

De acordo com o relatório, para responder às crescentes necessidades alimentares, sobretudo nas regiões mais críticas (Masvingo, Matabeleland Norte e Matabeleland Sul, e Mashonaland, Midlands e Manicaland), o PAM e os seus parceiros vão iniciar distribuições de alimentos, com cereais comprados na região, em como com óleo vegetal e legumes importados.

Moçambique e Zimbabwe assinaram, em 2008, um acordo de supressão de vistos de entrada e comércio livre, quando o Zimbabwe estava no pico da crise política e económica, gerado pela controversa reforma agrária de Robert Mugabe, mas o acordo não impediu que muitos continuassem a violar a fronteira à procura bens alimentares.


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