Observei ontem, demoradamente, algus na cidade de Maputo, o processo generalizado de carregamento, andamento e descarregamento de pessoas nos chapas do tipo carrinha de caixa aberta. Doeu e dói ver, doeu e dói imaginar o sofrimento dos utentes transformados em gado descartável. Dói duplamente: por intuir que, remetidas à impotência contínua, as pessoas parecem conformar-se com este horrível processo de humilhação; por saber que semelhante processo tem curso sem impedimento estatal. Um dia pode acontecer que as pessoas tragam para fora, violenta e catárquica, a raiva tanto tempo contida. Certamente já a trouxeram em 2008, 2010 e este ano, por essa e por outras razões. E poderá voltar a acontecer. Antes e depois, são os tempos dos augustos arcontes da terra, dos pontífices da moral impoluta em suas entusiásticas, punitivas e públicas preleções morais - abaixo os vândalos!, vociferam -, condenando com veemência os excessos de múltiplas situações degradantes que não vivem, nem viverão.
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