Na inteligência espontânea das coisas, raramente escapamos à busca do absoluto e das forças intencionais. O chamado azar mais não é do que uma intenção disfarçada.
Interroguemo-nos sobre a confiança nas conchas e nos ossos do curandeiro, na «sorte» que sentimos quando um dos nossos desejos se realiza, analisemos a atribuição de uma subreptícia intenção ao que nos acontece imprevistamente, etc.
Vamos na rua, um carro fere-nos subitamente: quantos recusariam ver nisso não o produto de uma causa ou de um conjunto de causas fortuitas (ou, como escreveu um dia alguém, «o reencontro de séries causais diferentes»), mas a expressão do azar, a sombra de uma intenção subreptícia que nos teria escolhido precisamente a nós e não a outros?
Existe uma espécie de capital mágico em todos nós, sempre pronto a vir à superfície à mais pequena oportunidade.
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