Celebrar uma festa de aniversário não é um erro. Nem na Ponta Vermelha, nem na Casa Branca. A celebração da data de nascimento de qualquer ser humano deve ser incentivada, apoiada e aplaudida. Mesmo no caso de um Chefe de Estado esse direito e incentivo devem ser garantidos.
O sofrimento é tão antigo quanto a humanidade. Na história da humani- dade houve sempre um espaço para as calamidades naturais. Elas, tal como o ser humano, fazem parte do mundo. E se a calamidade faz parte da essência da natureza não é menos verdade que celebrar, quando necessário, é parte intrínseca do ser humano. Do mesmo modo sempre tivemos ricos e pobres.
Num país terceiro mundista como o nosso isso é ainda mais evidente. Ainda assim, não pode ser negado aos integrantes desse país subdesenvolvido o direito à celebração de seja o que for. Mesmo os que celebram a morte dos que pereceram nas enxurradas que assolam Maputo têm direito.
É, portanto, impossível coarctar tal direito. Moralmente podemos condenar, mas não lhes podemos negar esse direito. Eles podem ficar contentes pelas casas que se foram e pelas famílias que estão privadas de um tecto. Nessa perspectiva, não há nada de errado no facto de o Chefe de Estado ter celebrado a sua festa de aniversário.
Isso é até louvável. Guebuza tem o direito de ser celebrado por quem lhe quer bem. Isso não lhe pode ser negado de forma alguma. Sucede, porém, que a festa de Guebuza foi amplamente difundida pela televisão pública.
Aqui, no nosso entender, mora uma contradição tremenda entre a festa e o interesse público. E aqui levanta-se uma questão que nos parece não estar a ser considerada com a devida atenção por aqueles que acham legítimo o televisionado ostensivo de uma festa privada. Aliás, o espaço privado dos cidadãos é um limite imposto por qualquer órgão de informação sério.
Trata-se de um princípio há muito consagrado no jornalismo de qualidade e que pressupõe cuidados especiais na elaboração de notícias. O aniversário do Chefe de Estado até pode ser noticiado. Um destaque nos serviços noticiosos é suficiente. O país não precisa de saber como e de que forma Guebuza celebra os seus aniversários.
Um aniversário não pode, de forma alguma, ocupar mais espaço de antena do que o resultado das calamidades que assolam o país. Morrem pessoas e a televisão pública oferece aos telespectadores a festa do Chefe? Será que o aniversário de Guebuza é mais relevante, por exemplo, do que as 70 mil vítimas das enxurradas em todo o país?
O aniversário de Guebuza ocupou mais espaço de antena do que a explosão do paiol num passado recente. Ocupou mais espaço de antena do que a abertura do ano escolar. Teve tanto destaque quanto a apresentação do Estado Geral da Nação.
O problema não está no celebrado, mas na forma como o mesmo é celebrado. O serviço público de Televisão tem por desiderato científico o debate público e a construção de um cidadão culturalmente informado para participar da edificação da República.
Não cremos que o acto de genuflexão da televisão pública tenha servido para tal. A nossa indignação não se pretende constituir a prova de que Guebuza errou ao celebrar o seu aniversário. Guebuza está mais do que certo ao fazê-lo.
O que sempre dissemos e voltamos, agora a repetir, a televisão pública não tem o direito de brindar os contribuintes com horas e horas de uma festa privada. Ainda que seja a festa do Chefe de Estado. Isso é que é brutalmente errado...
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