O ex-presidente do Peru Ollanta Humala e sua mulher se entregaram na noite de quinta-feira às autoridades após um juiz determinar que o casal fique preso por até 18 meses enquanto o Ministério Público prepara denúncias contra os dois por suspeita de lavagem de dinheiro no esquema de corrupção da empreiteira Odebrecht.
A decisão do juiz Richard Concepción, que recebeu vaias de aliados do casal durante uma audiência aberta ao público que durou dois dias, marcou a segunda vez que o magistrado decretou a prisão de um ex-presidente do Peru em decorrência do escândalo de corrupção envolvendo a empresa brasileira.
O procurador Germán Juárez citou depoimento prestado por ex-executivos da Odebrecht para acusar Humala e sua mulher, Nadine Heredia, de terem recebido pagamento ilegal de 3 milhões de dólares.
Juárez também acusou o casal de receber dinheiro irregular do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez. "Eis aqui um presidente que chegou à Presidência e nos governou com uma campanha eleitoral construída com dinheiro ilícito. Isso é sério, porque fere a sociedade moralmente", disse Juárez.
Humala, um ex-oficial militar de fala mansa que governou o Peru entre 2011 e 2016, se entregou com Nadine, co-fundadora de seu Partido Nacionalista Peruano, imediatamente após o veredicto.
Ambos negaram irregularidades e classificaram sua detenção pré-julgamento de injusta. "Isso confirma abuso de poder, que iremos confrontar em defesa de nossos direitos e dos direitos de todos", disse Humala no Twitter, enquanto a televisão mostrava imagens do casal entrando em um bloco de celas escoltado pela polícia.
O veredicto de Humala saiu um dia depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser condenado a 9 anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, e representou mais um golpe na esquerda da América Latina.
Ao contrário de Humala, Lula irá responder em liberdade. Como Lula, Humala se reformulou como um político de esquerda mais moderado para vencer a eleição de 2011, na esteira de uma campanha presidencial fracassada como aliado de Chávez em 2006. Ele encerrou seu mandato de cinco anos no ano passado com índices de aprovação baixos, apesar de ter apoiado o investimento privado e ter iniciado programa sociais para os pobres.
A queda de Humala abalou o sistema político peruano, embora não se espere que ele volte a concorrer. Grupos de direita comemoraram sua derrocada, enquanto ativistas de esquerda exortaram os procuradores a investigarem os laços da Odebrecht com políticos conservadores.
O ex-presidente de centro Alejandro Toledo, que se acredita estar nos Estados Unidos, se recusou a se entregar este ano, mesmo depois de Concepción ter ordenado que ele fosse preso e levado a julgamento devido a alegações de ter recebido 20 milhões de dólares de suborno da Odebrecht.
Toledo e Humala ascenderam ao poder graças ao apoio daqueles que um dia acreditaram que eles iriam se contrapor à corrupção e ao autoritarismo do governo do então presidente de direita Alberto Fujimori, que governou entre 1990 e 2000.
O actual presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, disse que pode perdoar Fujimori, que cumpre uma pena de 25 anos por violações de direitos humanos e corrupção, em busca de laços melhores com os apoiantes do ex-líder no Congresso.
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