Com somente 4 das 100 maiores empresas de Moçambique cotadas a Bolsa de Valores de Moçambique(BVM) admitiu à cotação na passada sexta-feira a primeira Pequena e Média Empresa(PME), a sociedade Zero Investimentos. Contudo o @Verdade apurou a BVM gera tão pouco negócio que as receitas nem sequer chegam para as suas despesas de funcionamento, no ano passado o Estado teve de injectar mais de 35 milhões de meticais.
“A Zero Investimentos começou como uma empresa familiar, que fez a dispersão de capitais para poder entrar na Bolsa. Neste momento a nossa expectativa é que num processo gradual possamos vir a reter para a família cerca de 40% dos capitais, dispersando cerca de 60%. Não vamos colocar 60% das acções disponíveis de imediato, o que vai acontecer é que vamos colocar gradualmente 10%, depois outros 10%, ajustando em função das necessidades dos projectos que temos e também da valorização e da resposta que o mercado vier a apresentar” explicou ao @Verdade João das Neves, o Presidente do Conselho de Administração(PCA) da primeira PME a ser admitida ao Segundo Mercado da Bolsa de Valores de Moçambique.
João das Neves que disse não ser o objectivo fundamental da empresa que dirige “ir a Bolsa ávida de obter financiamento” revelou que a Zero Investimentos, SA, tem a expectativa de obter com esta dispersão de 10% do seu capital “um valor na ordem de 27 milhões de meticais, na primeira fase”.
“Depois, nas fases seguintes, iremos estruturar os projectos em função do que for necessário no momento e também em função da valorização, até para dar algum retorno a aqueles accionista que acreditaram no projecto nesta fase e que nessa altura naturalmente que acções vão ter um valor diferente”, acrescentou o empresário.
Bolsa de Valores de Moçambique não gera nem receitas para o seu funcionamento
No entanto esta admissão à BVM que deveria ser um marco positivo nas duas décadas de existência da instituição não passa de uma mera acção política que em termos práticos traz quase nenhum valor acrescentado à economia moçambicana. Na verdade é mais uma mostra da incapacidade que a Bolsa de Valores de Moçambique continua a ter em atrair as Grandes Empresas do nosso país à cotação.
Das 100 maiores Empresas de Moçambique somente quatro estão cotadas na BVM. Das 117 Empresas Públicas e Participadas pelo Estado somente duas estão na BVM. Nenhum das 26 Instituições Financeiras comerciais que operam no mercado nacional está está cotada na Bolsa de Valores.
Questionado pelo @Verdade o Presidente do Conselho de Administração da BVM, Salim Valá, não reconheceu objectivamente os problemas. “Se nós vermos a primeira empresa que é a Cervejas de Moçambique resultou de um processo de privatização e às vezes muita gente já não se recorda. Temos a EMOSE (e a CMH), é uma empresa participada pelo Estado. Nós neste momento referimos aqui que um dos nossos parceiros estratégicos é o IGEPE(Instituto de Gestão das Participações do Estado) e estamos a trabalhar, porque o Governo tem uma estratégia de reestruturação do sector empresarial, e nós estamos posicionados com o IGEPE para assegurar que a redução do papel do Estado nessas empresas possa ser vista quando acontecer através da Bolsa de Valores” afirmou.
De acordo com Valá “a Bolsa é mais um eixo do sistema financeiro, nós não vamos resolver todos os problemas de financiamento da economia e das empresas”.
Acontece que no mundo capitalista a emissão de valores mobiliários, através das Bolsas, é uma das formas que as empresas e os organismos públicos têm para obter os fundos de que necessitam para a sua actividade através da emissão de títulos. Por seu turno, os investidores encontram na compra de valores mobiliários uma forma de remuneração dos recursos que têm disponíveis.
Aliás esta aposta da BVM na captação de PME´s não podia ser mais desfocado pois a generalidade das Bolsa pelo mundo assenta num mercado com a Grandes Empresas, com as Empresas Públicas lucrativas.
Paradoxalmente, com somente seis as empresas cotadas, a BVM continua sem conseguir criar valor para a economia e nem mesmo gera receitas para o seu próprio funcionamento.
O @Verdade apurou que o Estado teve de voltar a injectar dinheiro para o funcionamento da Bolsa de Valores de Moçambique, 35,9 milhões de meticais foram desembolsados em 2016 para fazer face aos 168,7 milhões que a BVM precisou para operar durante o ano passado. Também em 2015 o Estado teve de injectar 39,4 milhões para cobrir o défice de funcionamento, que totalizou 119,9 milhões de meticais.
O índice de capitalização bolsista da BVM é de 4, relativamente ao Produto Interno Bruto de Moçambique, e o índice da liquidez é de 0,3.
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