O irmão da falecida Valentina Guebuza disse ao tribunal, na terça-feira (19), que o seu cunhado Zófimo Muiuane, incriminado de assassinato com recurso a uma arma de fogo, é uma pessoa de poucas falas e hipócrita. Constrangia habitualmente a sua esposa e tinha atitudes reprováveis, mas na presença da família da malograda fazia-se passar por uma pessoa educada e com um comportamento cortês.
Mussumbuluko Guebuza, de 38 anos de idade, declarou que a sua relação com Zófimo Muiuane era boa, mas quando a sua irmã começou a se queixar de maus-tratos no seu lar, supostamente protagonizados pelo marido, concluiu que o seu cunhado “tinha duas caras”, ou seja, era um dissimulado, pese embora “frequentava a igreja”.
“Em casa dele era um homem violento e mau. Junto dos sogros fazia papel de um genro exemplar (...)” e com um conhecimento abrangente sobre um pouco de tudo. “Ele era muito calado e falava muito pouco”.
Durante as conversas, mesmo as que eram iniciadas por ele, evitava tecer comentários ao pormenor e deixava que as outras pessoas o fizessem, enquanto acompanhava caladinho.
De acordo com Mussumbuluko Guebuza, Valentina não tinha o costume de manusear arma de fogo e não tinha habilidades para manejá-la com rapidez. Tininha [como era carinhosamente tratada], de 36 aos de idade, encontrou a morte na noite de 14 de Dezembro de 2016. O seu irmão foi quem efectuou a queixa na 2a. esquadra da Polícia da República de Moçambique (PRM), contra Zófimo Muiuane, na manhã do dia 15 do mesmo mês.
Mussumbuluko narrou que minutos antes de a sua irmã ser baleada mortalmente, enviou-lhe uma mensagem a solicitar os homens de segurança da casa do pai – que fica a poucos metros da sua habitação – para lhe ajudarem a tirar Zófimo de residência. “Foi entre as 20h09 e 20h10”. Volvidos 20 minutos, a ajudante de campo da Valentina, e nome Raquel João Alves, de 31 anos de idade, dirigiu-se a residência dos progenitores da sua patroa, desesperada, em busca de socorro, pois a vítima “estava no chão a sangrar”.
Raquel declarou também que no fatídico dia, ela, a patroa e a filha desta chegaram à casa por volta das 17h00. Tudo parecia tranquilo mas quando entraram no elevador do prédio onde a finada morava, ela disse: “Raquel, terei uma reunião (...) Se ouvires algum barulho entra na sala [onde estaria a decorrer o referido encontro]”.
Tratava-se de uma visita dos padrinhos de casamento e de baptismo da Valentina [Eulália Muthemba e Feliciano Gundana e Rosa Chongo e Amosse Zita]. Eles foram à residência do casal, pela primeira vez volvidos poucos mais de dois anos de casamento.
O encontro não serviu para nada, na medida em que os padrinhos não conseguiram debelar o mau ambiente em que os afilhados viviam. O conselho foi de que o casal devia pautar pelo diálogo, tolerância e ponderação.
A ajudante de campo da Valentina garantiu ao tribunal que, finda a reunião, apercebeu-se de que a sua patroa estava preocupada e desorientada. “Perguntei se estava tudo bem e ela respondeu que precisávamos sair de casa” imediatamente. “Perguntei se não precisava de uma oração” mas a malograda não correspondeu favoravelmente.
De seguida, Valentina e Zófimo foram para o quarto, de onde se “ouviu um grito”, disse Raquel, ajuntando que quando foi procurar perceber o que estava a acontecer a sua chefe estava no chão, ferida com uma arma de fogo e a lutar pela vida.
Quando a ajudante do campo procurou saber por que razão Zófimo supostamente atirou contra a esposa, respondeu: “já fiz, ela ofendeu-me muito em frente dos padrinhos. Ela humilhou-me”.
As declarações da Raquel e da senhora que cuidava da filha da Valentina – de nome Regina Alexandre, coincidem com a acusação que o MP fez contra Zófimo.
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