O director-geral das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) anunciou que a empresa vai deixar de fazer “chapa”: “já não voamos Maputo – Tete - Beira – Maputo”. João Carlos Pó Jorge revelou que a aposta da empresa, apesar de não estar a conseguir amortizar as dívidas de 16,1 biliões de meticais, “é de ficar no break-even depois de 9 meses assumindo que conseguimos uniformizar a frota”.
Quatro meses após assumir a direcção da falida companhia aérea de bandeira moçambicana João Carlos Pó Jorge anunciou que: “Com a introdução de novo horário o que nós fizemos também foi voar de ponto a ponto, já não voamos Maputo – Tete - Beira – Maputo. Isto tem uma vantagem que é o passageiro quando compra o bilhete compra Maputo –Beira e vai para Beira directo e não tem que passar por Tete, portanto o voo dura aquela que estava indicada”.
O director-geral das LAM explicou em conferência de imprensa, para abordar a estratégia de sobrevivência da companhia aérea, há poucos dias do início dos voos da mais um concorrente directo nas rotas domésticas, que a empresa não está a amortizar as dívidas correntes de 10.746.559.834 meticais nem a pagar os 5.404.664.426 que deve à banca a longo prazo, ”nós vamos ter que a pagar reestruturando, indo a banca”.
“Empresas de aviação não têm um retorno de investimento que seja grande e permita pagar a dívida, portanto tem que se ir a banca e reestruturar e já estamos a fazer esse trabalho com os bancos e com a ajuda do IGEPE”, explicou João Carlos Pó Jorge na passada sexta-feira (23) em Maputo.
O @Verdade tem revelado que as Linhas Aéreas de Moçambique estão em falência técnica há pelo menos 3 anos. No fecho do exercício económico de 2017 acumulava dívidas correntes com fornecedores, nacionais e estrangeiros, de 6.326.771.933 meticais e outros 1.808.010.084 com bancos.
“A percentagem é muito pequena do que podemos estar a pagar para trás”
Dentre as dívidas correntes mais elevadas destacam-se os 2.407.168.242 meticais que devia aos Aeroporto de Moçambique, referentes as taxas aeroportuárias de sobrevoo e aterragem que não paga desde 2014, e 2.611.607.286 meticais que devia à Petróleos de Moçambique (Petromoc), valor que não amortiza desde 2015.
João Carlos Pó Jorge afirmou que: “estamos em pré-pago (de combustíveis) neste momento, é muito difícil gerir assim e principalmente quando a tarifa não cobre os custos na totalidade, mas estamos a fazê-lo dia a dia, aos dois fornecedores que são a Puma e a Petromoc”.
“Estamos a pagar pequenos fornecedores para nos garantir combustível, avião mas a percentagem é muito pequena do que podemos estar a pagar para trás” aclarou o director-geral que assumiu a companhia aérea em finais de Julho, quando a Petromoc suspendeu o abastecimento a crédito e na sequência do congelamento das contas bancárias da empresa por decisão judicial relativamente a um processo de pedido de indemnização que foi movido, e ganho em primeira instância, pelo antigo Administrador Delegado Iacumba Aiuba.
De acordo com João Carlos Pó Jorge o congelamento das contas bancárias: “Está resolvido, continua o processo em tribunal”.
Aligeirar a estrutura sem despedir nenhum dos 860 trabalhadores
“A nossa aposta é de ficar no break-even depois de 9 meses assumindo que conseguimos uniformizar a frota” revelou o director-geral como parte da estratégia de sobrevivência das LAM precisando: “Nós estamos a fazer uma uniformização da frota, que obviamente demora conseguir aviões de substituição não é fácil, mas vamos querer ter essencialmente duas frotas. Uma para os voos mais magros, para destinos como Inhambane ou Vilankulo que não permitem aviões de grande porte, e outra que serão jactos para fazer Nampula, Pemba, Beira, Tete e que são os voos com mais pressão”.
Actualmente a companhia aérea de bandeira nacional possui quatro aviões a jacto (Boeing 737-700, Boeing 737-500, Embraer 190), que pretende reduzir, e um turbo-hélice (Q300). “Estamos a considerar tirar dois jactos e pôr dois turbo hélices que é para permitir ir a Vilankulo e Inhambane e fazer rotas magras no Norte. Temos também a MEX que nos serve com três aviões (Embraer 145) de 50 lugares, esses vão se manter” detalhou João Carlos Pó Jorge que perspectivou que até finais de 2019 a meta é “chegar a mais ou menos aos 600 lugares”, tendo como foco ganhar como clientes as multinacionais do gás e petróleo.
Paralelamente, a direcção das LAM declarou pretender reduzir o orçamento operacional, situado em 7 a 8 milhões de meticais mensais, “em cerca de 15 a 20 por cento no próximo ano, já estamos a trabalhar nisso, e já estamos a reduzir isso reduzindo alguns contratos”.
Todavia o @Verdade sabe que os gastos operacionais são muito mais elevados, em 2017 foram de mais de 600 milhões mensais e totalizaram 7,6 biliões no fecho a 31 de Dezembro passado, para rendimentos operacionais de pouco mais de 5,3 biliões de meticais.
Grande parte dos custos operacionais são com combustíveis, 22 por cento, o preço do Jet A1 há alguns anos que foi liberalizado pelo Governo. O aluguer de aviões representa 14 por cento, as despesas com o pessoal 12 por cento, as amortizações e depreciações 13 por cento e os serviços adquiridos a terceiros pesam 17 por cento.
Parte da estratégia passa por “reduzir o número de direcções, ou por outra a aligeirar a estrutura (...) mas incorporando toda a gente”. O @Verdade apurou que as Linhas Aéreas de Moçambique possuem 931 trabalhadores, dos quais 860 efectivos, 26 avençados, 4 consultores, 14 pilotos em comissão de serviço pela Moçambique Expresso, 13 outsourcing e 14 em processo de reforma.
LAM está a negociar com parceiro para entrar até ao fim do ano
Questionado pelo @Verdade que estratégia tem para recuperar a quota de mercado que tem vindo a perder João Carlos Pó Jorge disse que “no serviço internacional ainda temos muita competição, a South Africa Airways que tem voos muito colados aos nossos e muito outros operadores que agora vem directamente a Maputo que anteriormente nós levávamos a alguns hubs (Dar es Salaam, Nairobi e Johannesburgo) e nesse ainda não estamos a ver uma subida, mas no doméstico já estamos a ver uma tendência para subir. Estamos a fazer um esforço muito grande para isso”.
O @Verdade descortinou que nos últimos 4 anos as Linhas Aéreas de Moçambique têm vindo a perder passageiros. Os 750.393 que transportou em 2014 reduziram para 684.896 em 2015, 663.408 em 2016 e caíram para 559.689 no ano passado. Em 2017 a queda no segmento regional foi de 21 por cento enquanto nas rotas domésticas, onde só em Novembro começou a ter um corrente directo em algumas rotas, perdeu 14 por cento dos seus passageiros.
Inquirido pelo @Verdade sobre a estratégia de sobrevivência que, segundo o Governo, o seu principal acionista, passava pela entrada de um parceiro o director-geral das LAM explicou que: “estamos a discutir com parcerias a dois níveis. Uma é algum parceiro que esteja disposto a tomar risco e a investir capital que é para podermos iniciar mais voo e fazer alguma da reestruturação da frota”.
“Outra é juntar um parceiro que tenha um grande network, uma linha aérea no sistema da qual nós entremos e comecemos a vender bilhetes da Beira para o resto do mundo. Estamos muito próximo de fazer isso, queríamos fazer até dia 31 de Dezembro também”, concluiu João Carlos Pó Jorge.
A maior companhia de aviação de África esteve em negociações com as LAM para uma potencial parceria mas as condições exigidas pela empresa moçambicana ditaram a preferência da Ethiopian Airlines por iniciar uma operação própria de voos domésticos em Moçambique, que estão previstos iniciar no próximo dia 1 de Dezembro.
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