Nove pessoas morreram e outras duas encontram-se internadas, em estado grave, por conta de uma suposta intoxicação alimentar, ocorrida no domingo (02), no distrito de Chiúta, um dos nove que estão a braços com bolsas de fome na província de Tete.
As vítimas fazem parte de duas famílias do posto administrativo de Kazula, que naquele domingo ingeriram chima – massa espessa que resulta da cozedura da farinha de milho – com caril de feijão.
Desconhece-se o estado sanitário da farinha de milho e do feijão consumidos pelas vítimas mas o Hospital Provincial de Tete (HPT) colheu amostras para efectuar exames com vista a apurar a causa da intoxicação.
Lídia Cunha, directora daquele hospital, o maior em Tete, disse que das nove mortes, três aconteceram em Chiúta, a 100 quilómetros da capital provincial, e seis no HPT.
As duas famílias abaladas pela tragédia são compostas por 19 membros. “Uma das famílias passou refeição em casa da outra” e, de repente, quase todos começaram a passar mal, explicou a fonte.
Outras oito pessoas que consumiram os referidos alimentos, “em menor quantidade”, não registaram quaisquer problemas de saúde, disse a dirigente, esclarecendo que os sobreviventes foram mantidos sob cuidados médicos e submetidos a interrogatório para ajudar no esclarecimento do caso. Passadas 24 horas, eles tiveram alta médica e gozam de boa saúde.
Chiuta vive o drama da fome. Entre 30 de Julho e 02 de Agosto deste ano, governo local apresentou ao Presidente da República, Filipe Nyusi, um relatório falso que afastava a insegurança alimentar.
Entre Abril a Setembro de 2018, pelo menos 531.476 pessoas de 19 distritos das regiões sul e centro foram consideradas como estando em situação de crise alimentar.
Trata-se dos distritos de Chibuto, Chicualacuala, Chigubo, Guija, Mandlakaze e Mapa (província de Gaza); Funhalouro, Mabote e Panda (Inhambane); Cahora Bassa, Changara, Chifunde, Chiúta, Doa, Magoe, Marara, Moatize e Mutarara (Tete) e Chemba (Sofala)”.
Há fome em Chiúta mas governo local mentiu ao Chefe do Estado
Contudo, no comício popular e na feira agrícola, a realidade veio a superfície. Nyusi foi confrontado com relatos de fome e desabafou dizendo: “Vocês me enganaram. Eu fui lá [em Chiuta] para dizer que não há fome e eles disseram que há fome (...). Dificultaram-me o comício. Ali, hoje eles disseram-me, em coro, que tem problemas. Para vocês não há? Qual é a explicação? Disseram em coro, vocês ouviram! Contrariaram.”
Se o povo reclama de fome e o Chefe do Estado só notou isso agora, os relatórios apresentados durante as suas visitas podem estar a propagandear das “realizações” do Governo.
Entretanto, o facto é que Nyusi também ignorou o Relatório da Análise de Insegurança Alimentar Aguda, produzido pelo Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional (SETSAN), que alertou, no início de Junho passado, que mais de meio milhão de moçambicanos precisavam de acções imediatas para colmatar a insegurança alimentar aguda em que estão.
Refira-se que a tragédia do último domingo não é a primeira. Em 2015, pelo menos 75 pessoas morreram no distrito de Chitima após consumirem uma bebida tradicional, localmente conhecida por “pombe”, preparada com base numa farinha de milho contaminada com bactéria, concluiu o Ministério da Saúde (MISAU).
Na ocasião, a instituição avançou que a farinha de milho usada para preparar “pombe” ficou deteriorada na casa onde estava guardada, depois de uma chuva que inundou o local.
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