“Estávamos a recuperar do ciclone quando veio a água”, revelou um dos muitos sobreviventes no distrito que está no epicentro das cheias que se seguiram ao Ciclone IDAI e deixaram pelo menos 447 mortos no Centro de Moçambique. Contudo disse ao @Verdade que “a vila do Búzi já não está submersa”.
Fernando Domingos recorda-se que: “Estávamos a recuperar do ciclone quando veio a água. Por volta das 18 horas (de sábado 16) apareceu uma vizinha a dizer que há cheias, ela vive perto do rio Búzi. Como já não havia energia por causa do ciclone o carro da polícia começou a circular a avisar as pessoas para retirarem-se. Eu peguei em algumas coisas, na minha família e fomos para o centro da vila, para a Rádio Comunitária que é 1º andar, já lá estavam outros vizinhos”.
Na companhia da esposa, dois filhos de 3 e 4 anos de idade, assim como de uma cunhada e o sobrinho Domingos disse telefonicamente ao @Verdade que “a água subiu com muita velocidade, até as 21 horas já estava tudo cheio. A meia noite éramos umas cem pessoas, juntas em pé, adultos e crianças. Ficamos lá até na quinta-feira(21)”.
“Sobrevivemos com entreajuda, o pouco que cada um tinha conseguido trazer fomos repartindo, priorizamos as crianças que fizeram uma refeição por dia” retratou-nos lembrando-se do choro interminável das crianças que ainda não se tinham recuperado dos ventos fortes que o ciclone havia trazido quando foram forçados a enfrentar as cheias, dois traumas para toda a vida.
Residente desde sempre no Búzi, a casa de Fernando Domingos é de alvenaria e dista cerca de um quilómetro do local onde procurou refúgio, não tem memória de cheia idêntica. “Já tinha chovido muito, estava a chover mas pensávamos que se houvessem inundações (tal como todos anos) não seria muito grave, mesmo no ano 2000 que encheu muito não foi como desta vez”.
Apoio muito limitado para quem não está nos centros de acomodação
O sobrevivente assinalou que o Governo do distrito não abandonou-os, contudo o único apoio que conseguiu prestar foi moral, “só na segunda-feira veio o primeiro helicóptero que atirou umas bolachas”.
“A vila do Búzi já não está submersa, algumas localidades nas zonas ribeirinhas ainda tem água”, precisou Domingos que tenta recomeçar a vida com os seus próprios meios. “Agora que água baixou estamos a tentar recomeçar a vida mas continuamos sem energia, água potável, o banco não funciona, o mpesa não tem sistema e os preços aumentaram muito. Um saco de farinha que estava 850 vendem a 1.400 Meticais”.
Segundo o sobrevivente das cheias no Búzi “ontem (domingo 24) o Governo começou a distribuir algum apoio: arroz, macarrão, óleo, sal e açúcar mas não chega para uma família para uma família toda”.
Fernando Domingos não faz parte dos 128.941 cidadãos que estão a viver em 143 centros de acomodação criados pelo Governo com apoio das inúmeras organizações humanitárias nacionais e estrangeiras que não param de chegar a Moçambique.
É um dos milhões que tem casa convencional mas que ficou sem tecto e agora precisa de pelo menos ter acesso as infra-estruturas básicas para com o seu suor recomeçar a vida.
102 milhões de dólares para actividades de emergência e reabilitação até Agosto
Oficialmente o Governo de Filipe Nyusi não tornou público quanto precisa no total para as acções de resgate e assistência humanitária de emergência. O Programa Mundial da Alimentação disse ter efectuado um pedido inicial de 40 milhões de dólares enquanto o Fundo das Nações Unidas para a Infância revelou precisar de 30 milhões de dólares para a ajuda inicial.
No entanto neste sábado (23) as Nações Unidas, através do seu Escritório para os Assuntos Humanitários que assumiu a coordenação da gestão humanitária no Centro de Moçambique, revelou que o Executivo de Nyusi pediu provisoriamente 102 milhões de dólares norte-americanos para actividades de emergência e reabilitação entre Março e final de Agosto deste ano.
“Uma quantia irrisória”, nas palavras de um conhecido cadastrado moçambicano, quando comparado aos 2,2 biliões de dólares que o Governo do partido Frelimo endividou os moçambicanos ilegalmente e muito aquém do bilião de dólares que o Governo guarda num “saco azul” e usa sem sequer submeter-se à obrigatória fiscalização do Tribunal Administrativo.
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