O Governo de Filipe Nyusi está a ignorar a iminente perda de mais de 3 mil postos de trabalho permanente e milhares de outros sazonais na Açucareira de Mafambisse na sequência dos escândalos financeiros em que o principal accionista, a empresa sul-africana Tongaat Hulett, está envolvida acumulando uma dívida bancária de 11 biliões de rands. “Eles estão só a tirar matéria-prima, cortam a cana, carregam para a fábrica para processar e não estão a tratar a plantação que deixou de ser até regada, eles cortam e abandonam, eles não querem isto”, revelou ao @Verdade o Secretário do Comité Sindical da empresa onde o Estado é accionista minoritário.
No final do mês de Maio a Administração da empresa Tongaat Hulett informou aos seus accionistas na Bolsa de Valores de Joannesburgo, na África do Sul, que o Relatório e Contas auditado do exercício económico de 2018 tinha de ser “revisto” pois não refletia a situação financeira de forma correcta.
A imprensa económica sul-africana reportou que desde 2015 as acções da Tongaat Hulett desvalorizaram de 173 rands para 53,17 rands, no início de 2019, e estavam cotadas a 13,50 rands antes de serem suspensas da Bolsa de Valores de Joannesburgo e também do mercado secundário da Bolsa de Valores de Londres, no Reino Unido. A empresa deve 11 biliões de rands a vários bancos.
Vários executivos demitiram-se com destaque para o Chief Executive Office do grupo Tongaat Hulett, Peter Staude, assim como do Chief Finance Office, Murray Munro. O @Verdade apurou que Rosário Cumbi, o responsável pela operação da empresa em Moçambique também deverá renunciar em breve.
O @Verdade abordou o primeiro-ministro na passada quarta-feira (12) para saber se o Governo de Moçambique está a par da situação assim como as implicações para os investimentos da empresa que no nosso país detém 85 por cento da Açucareira de Mafambisse e 88 por cento da Açucareira de Xinavane.
Contudo Carlos Agostinho do Rosário revelou desconhecer a situação e sugeriu contactar o ministro da Indústria e Comércio. Interpelado, o ministro Rangendra de Sousa disse apenas “falamos noutra altura”.
“Quando eles chegaram os campos estavam vivos, e questionamos porque é que agora na hora de saída estão a delapitar a plantação?”
O @Verdade apurou que na Açucareira de Mafambisse desde a semana passada o Administrador delegado executivo, Sérgio Zandamela, e a Directora executiva de Recursos Humanos, Felizarda, têm reunido com os trabalhadores para os preparar para um possível encerramento da fábrica.
“Desde Maio que eles estão só a tirar matéria-prima, cortam a cana, carregam para a fábrica para processar e não estão a tratar a plantação que deixou de ser até regada, eles cortam e abandonam, eles não querem isto”, revelou António Bassopa, funcionário da empresa desde 1995 e líder sindical.
Após um encontro realizado na manhã desta terça-feira (18), e que deve continuar nos próximos dias, Bassopa disse que o representantes dos proprietários “tem falado que querem encerrar, mas nós dissemos-lhe que não podem encerrar só podem sair, não faz sentido alguém fechar a fábrica e destruir a plantação” .
“Nós dissemos-lhes que se querem abandonar a fábrica não cortem e deixem de tratar a plantação, porque um outro investidor poderá não querer. Lembramos-lhes que quando chegaram a Açucareira acabava de ser reabilitada, com fundos do Banco Africano de Desenvolvimento, e nós tínhamos todo equipamento tractores, máquinas para movimentar terras, autocarros, quando eles chegaram os campos estavam vivos, e questionamos porque é que agora na hora de saída estão a delapitar a plantação”, disse o Secretário do Comité Sindical.
Bassopa afirmou que o Comité Sindical tem alertado a Administração da Açucareira de Mafambisse sobre “as contratações de mão-de-obra zimbabweana a pagarem salários altos, abriram sub-empresas deles trazendo as suas famílias e máquina que alugam”.
António Bassopa clarificou ao @Verdade que o Governo, accionista da Açucareira, parece alheio a iminência de perda de 3.800 postos de trabalho permanentes e outros 4 mil sazonais. “Foi um pouco estranho, sabemos que eles tem estado em contacto com o Governador e o Ministério do Trabalho mas nunca nos levaram. Ontem (segunda-feira) é que nos levaram para uma reunião no Gabinete do Administrador do Distrito do Dondo”.
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