Pela primeira vez em muitos anos o Governo irá subsidiar parte do preço do algodão para assegurar que “1 milhão de moçambicanos vão pôr alimentos na mesa”. Será a primeira intervenção do ministro Celso Correia na utopia da “fome zero” que desafiou as empresas fomentadoras e aos quase 200 mil camponeses a agregarem à produção do chamado “ouro branco” outras culturas de rendimento, como a soja e o milho, para terem acesso a subsídios que podem ascender a 4 milhões de dólares só em 2020.
O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural reuniu nesta segunda-feira com os representantes dos camponeses e das empresas fomentadores do sétimo produto mais exportado pelo nosso país. “O algodão é uma cultura de rendimento que muitos não compreendem a sua importância não só social mas também económica para Moçambique. Está claro que continua a ser uma das referências de exportação, (...)representa também postos de trabalho mas acima de tudo representa cerca de 200 mil famílias que trabalham na cadeia de valor”.
“A nossa história é repleta de altos e baixos neste sector, mas importa referir que estas famílias mantêm-se firmes pois sua fonte de rendimento, a sua fonte de vida vem desta actividade. Por isso esta reunião é muito mais do que discutir o preço do algodão, é discutir a vida de 1 milhão de moçambicanos, é discutir como 1 milhão de moçambicanos vão pôr alimentos na mesa, é discutir como 1 milhão de moçambicanos vão pagar as suas necessidades básicas, como 1 milhão de moçambicanos vão suprir aquilo que são os seus desafios e acima de tudo projectar os seus sonhos”, declarou o ministro Correia.
Correia compartilhou que “o governo ao longo destes 3 meses estudou a cadeia do algodão, na sua essência, e chegamos a conclusão que o rendimento singular de quem está na cadeia do algodão ainda não é satisfatório, por outras palavras ninguém vive só do algodão no meio rural. É uma das fontes de rendimento mas não suficiente para garantir que estas famílias, que em média tem cinco membros e trabalham em áreas de 1 hectare e meio, possam sair da pobreza. O rendimento tem estado em cerca de 12 mil a 15 mil meticais somente o algodão, por isso elas dependem de outras culturas para poderem suprir as suas necessidades mais básicas”.
Tendo como referência os mercados internacionais o preço mínimo do algodão caroço que vai ser produzido na Campanha 2019/2020 – onde a expectativa é produzir pouco mais de 41 mil toneladas de algodão caroço, menos 7,4 por cento do que na Campanha 2018/2019 -, deveria ser fixado em 18 a 19 meticais por quilograma (mt/quilo), aplicando-se a fórmula acordada pelos intervenientes nacionais em 2017.
Para manter o preço do algodão em 23 meticais/quilo ou aumentar para 25 meticais/quilo AMM pede 3 a 4 milhões de dólares
Falando em nome dos 154.943 camponeses envolvidos na campanha o presidente do Fórum Nacional dos Produtores de Algodão (FONPA), Benison Simoco, pediu “que o preço permanecesse o do ano passado, de 23,30 mt/quilo para a primeira qualidade, de segunda ficasse nos 17 mt/quilo e a taxa de descaroçamento também se mantivesse nos 7 meticais”.
João Ferreira dos Santos, presidente da Associação Algodoeira de Moçambique (AAM), recordou que “vínhamos há alguns com um preço relativamente alto e estável, em torno dos 23 meticais/quilo, e sabíamos que em algum momento iria cair, commodities é assim. Há muitos anos que falamos na necessidade de termos um mecanismo de gestão de crise que possamos aplicar nestes momentos em que o preço exactamente para mantermos a estabilização dos níveis de produção e podermos intervir em anos como estes como o que estamos a viver”.
“A nossa posição como Associação, em termos da negociação do preço é a seguinte, a fórmula está na lei, lembrar que este será um preço mínimo e as empresas podem pagar acima, o principal risco que as empresas assumem neste momento é se os mercados continuarem a cair após a fixação do preço porque pode tornar-se demasiado injusto como por acaso no ano passado aconteceu. Mas neste momento, sendo um ano de crise, e principalmente com a pandemia, pensamos que temos de ser solidários, diz também a boa regra que nestes anos de queda devemos estar no intervalo máximo da fórmula, e a Associação Algodoeira não teria moral vir negociar ou regatear preços de fórmula, a nossa posição institucional é aceitarmos de imediato o intervalo máximo da fórmula que hoje apontaria para 19 meticais /quilo”, explicou.
No entanto o representante dos compradores declarou “que este preço será altamente desmobilizador para campo, que trará necessariamente uma redução do número de produtores e dos volumes de produção na próxima campanha, e isto gostaríamos de evitar a todo o custo”.
“Para nós mantermos o preço de 23 meticais/quilo, ou porque não até mesmo 25 meticais/quilo, precisaríamos entre 3 a 4 milhões de dólares. Se conseguirmos isto, ninguém conseguirá dizer ao certo, mas conseguiríamos aumentar a produção em torna de 20 por cento, se não aplicarmos estes preços e pagarmos 19 meticais/quilo poderemos assumir uma perda muito superior a 20 por cento ou superior”, propôs o presidente da Associação Algodoeira de Moçambique.
Produção integrada de algodão e outras culturas de rendimento para tirar 200 mil camponeses da pobreza
O ministro Celso Correia vai apresentar estes pressupostos ao Conselho de Ministros, esta terça-feira (12), no entanto o @Verdade sabe que o Executivo vai subsidiar o preço do algodão caroço sendo que a única dúvida é se para manter nos 23 meticais/quilo ou aumentar para 25 meticais/quilo.
“200 mil produtores já deviam estar a fazer uma revolução agrícola se estiverem bem organizados. Dos cálculos que eu fiz até é saudável fazer consorciação e rotação de culturas, o sector não deveria reportar apenas as toneladas de algodão produzido mas pelo menos três culturas. Por exemplo se este grupo de produtores decidir pode aumentar em 2 anos a produção da soja, sem pôr em causa a produção do algodão, em mais de 300 por cento”, desafiou Correia cujo objectivo é a produção integrada.
É que subsidiando o seu sub-sector mais organizado e fomentando em simultâneo a produção de duas ou três outras culturas de rendimento o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural não só garante que “1 milhão de moçambicanos vão pôr alimentos na mesa” como ainda poderá triplicar os rendimentos directos de 200 mil famílias que poderão sair da pobreza.
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