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segunda-feira, 8 de maio de 2017

SELO: Moçambique visto a partir do Arco do Cego, uma pátria amada ou amuada? - Por Miguel Luís

Em momentos de tensão, como os que continuamente se vivem na pátria mãe, todos presumíveis bons filhos acordam e dormem com os olhos virados a ela. Não que fazer isto me torne necessariamente bom filho. No entanto, assumo, faz-me viver e sentir o equivalente ao que quem nela está.

E é daqui de um dos bancos do Jardim do Arco do Cego, no centro de Lisboa, rodeado por estabelecimentos devotamente visitados por centenas de jovens que procuram usufruir da cerveja barata, que me proponho a ver Moçambique. Parece-vos um lugar inadequado para tal, pois não? A pátria mãe que me perdoe e a verdade seja dita, é que o ambiente de zaragata que caracteriza este lugar em muito se assemelha a realidade da "Pérola do Índico" que com os acontecimentos dos últimos tempos soa bem chamar-lhe "Pérola do atum".

Num pleno repúdio dos princípios regedores de um Estado que se diz respeitar os direitos fundamentais, cujo fim primordial é a dignidade da pessoa humana, os ditos dirigentes políticos circunspectos numa panóplia de actos obscuros e obscenos tudo fazem em benefício do interesse próprio e nóxio ao bem comum. Hectare a hectare se vai vendendo a terra aos de fora, com olhos num curto prazo que só nos dá migalhas e explora desumanamente gente local.

A justiça, essa que deveria ser para todos, fica trancada em escritórios e promessas eleitorais. Quantos inocentes se encontram encarcerados por pura negligência de quem de direito? Quantas pessoas são violentadas, roubadas e os responsáveis não são penalizados porque são os ditos detentores do capital ou porque o juiz não estava bem-humorado?

Os serviços médicos que me inibo de falar mais acerca deles, por razão de sua precariedade, só beneficiam um quinhão de pessoas.

Hoje me falam de uma "trégua sem prazos", algo que tantos ovacionam e cada partido político puxa o mérito para o seu dirigente. Porém, a meu ver, isso já tivemos desde os Acordos de Roma, a novidade mesmo seria uma paz sem prazos. O que me proíbe de acreditar que isto reflecte a preocupação com as eleições que se avizinham?

Miguel Torga disse em 1976 que "uma pátria é o espaço telúrico e moral, cultural e afectivo, onde cada natural se cumpre humana e civicamente. Só nele a sua respiração é plena, o seu instinto sossega, a sua inteligência fulgura, o seu passado tem sentido e o seu presente tem futuro", porém acrescento eu dizendo que isso só se vislumbra numa pátria amada e não amuada.

Hoje vejo a partir do Arco do Cego uma pátria sem sossego, que não incentiva os seus habitantes a respirar como se deve, que vive suspensa num prisma de um presente e futuro incerto. Hoje vejo uma pátria amuada.

Por Miguel Luís



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