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terça-feira, 3 de setembro de 2019

Vou dizer ao Papa Francisco “que gostaria que todos meus irmãos aqui saiam da rua”

Foto de Adérito CaldeiraPerto de duas centenas de moçambicanos com necessidades especiais, toxicodependentes, abandonados e desfavorecidos pela sociedade terão o privilégio de encontrar-se com Jorge Mario Bergoglio num dos momentos mais privados da Visita Apostólica do Santo Padre a Moçambique. “Vou dizer lhe que gostaria que todos meus irmãos aqui saiam da rua, que deixem as drogas, que tenham nova casa para viver, tenham um sítio para estudar e aprender uma profissão” confidenciou ao @Verdade um dos jovens que na próxima quinta-feira (05) deverá encontrar-se pessoalmente com o Papa Francisco na “Casa Mateus 25”.

Perto da fronteira entre o bairro da Malhangalene e o populoso bairro da Maxaquene um novo lar nasceu nos últimos dias. Quem por fora passa não se apercebe que quando o sol se põe a porta abre-se e crianças, jovens, adultos de ambos os sexos ali se reúnem todos os dias para conversar sobre mais um dia de sobrevivência na capital moçambicana, juntos oram, cantar e jantar!

É um ritual que começou há pouco mais de um ano juntando algumas dezenas de pessoas no passeio do Parque dos Continuadores, há poucos metros da indiferente Presidência da República. Depois mudaram-se para o pátio da Igreja da Nossa Senhora das Victórias e o grupo ultrapassou a centena.

“Temos aqui pessoas de vários credos, diferentes problemas, que são licenciadas, teriam tudo mas por coincidências e desgraças encontram-se aqui e precisam de um apoio momentâneo para levantarem-se. Aqui a dependência é forte, de droga e álcool”, contou ao @Verdade o Monsenhor Cristiano Antonietti que não pretende criar mais um lar de acolhimento ou um centro de reabilitação mesmo agora que o Governo atribuiu instalações bem muito condignas, a propósito da Visita Apostólica que acontece nesta quarta, quinta e sexta-feira.

Foto de Adérito CaldeiraO Secretário e Encarregado da Nunciatura Apostólica em Moçambique, instituição que criou o “Projecto Mateus 25” explicou ao @Verdade que terá as portas sempre abertas para quem precise de conforto, um ombro amigo e de um prato de comida quente, afinal a “Casa” que o Papa vai inaugurar carrega o nome do apelo que Jorge Mario Bergoglio faz recorrentemente para viver intensamente o que o Evangelho de Mateus diz no capítulo 25, “Tive fome e destes-me de comer...”. Porém Monsenhor Antonietti ressalva os participantes têm de submeter-se às regras.

“Nós nunca dizemos não, está aberto para todos mas para muitos deles é impossível vir sempre porque nessa altura estariam noutro sítio a fazer biscates, vir aqui no final da tarde ainda é hora de guardar carros. Vir aqui e não poder fumar ou outro vício é difícil. Quem está na rua dificilmente aceita regras, aqui está aberto mas as 20 horas fecha, depois por nenhuma razão se abre. Restrição é todos rezam, todos levantam, todos lavam as mãos”, disse-nos.

Os participantes da iniciativa, depois de algum tempo, e de largarem os vícios, beneficiam-se de formação profissional e chegam mesmo a ser reinseridos na sociedade. “Criamos ocupações para dar oportunidade de descobrirem que são úteis, que confiamos e apostamos nele, é uma segunda oportunidade”, explicou ao @Verdade.

Agora que vou conhecer o Papa vai ser uma bênção

Paulo é um dos jovens que sente ter conseguido uma segunda oportunidade na vida. Tem 17 anos de idade e confidenciou ao @Verdade que saiu “de casa com 10 anos por ser batido, por alguém que não é sua mãe. A minha mãe abandonou-me com o meu pai eu tinha 3 anos, o meu pai amava-me de um jeito mas quando chegou a nova mulher tudo mudou. Maltratavam-me, ia para a escola sujo, os vizinhos é que ajudavam para comer e dormir... acabei saindo e a viver na rua”.

O jovem recorda que o primeiro contacto que teve com a religião foi na igreja Maná, a convite de um professor, quando ainda estudava na Escola Estrela Vermelha, “depois chegou um espírito e parei de ir a igreja”.

Foto de Adérito CaldeiraA viver na rua juntou-se ao “Projecto Mateus 25” em Novembro de 2018, ainda no passeio do Parque dos Continuadores, foi para poder comer mas “depois participei dos 12 passos, em que começamos por fazer reunião com as irmãs, abrir-se com elas, e depois comecei a ir a um curso de decoração de eventos durante 4 meses, sexta-feira passada fui graduado. Agora voltei a estudar de novo para ser carpinteiro”.

“Eu prometia aos irmãos que até 2019 não pode eu estar na estrada, era uma promessa que eu fiz com Deus, eu disse Senhor me ajuda porque até Outubro de 2019 não quero estar nas ruas”, a prece foi ouvida e Paulo foi acolhido por uma família na Cidade da Matola, “mas continuo a vir aqui ao grupo todos os dias”.

Está empolgado com a visita do Pontífice argentino. “É um privilégio o Papa vir aqui a Moçambique, desde que nasci nunca vi um Papa, só via na televisão e na internet mas agora que vou conhecer vai ser uma bênção, se ele vem aqui e consagra a casa gostaria que muitos jovens que estão aqui venham a sair das drogas. O mundo das drogas arruína, isso mata, não é para ninguém, é um caminho que não queria seguir mas tudo na vida acontece”, disse ao @Verdade.

O antigo menino de rua confidenciou-nos o vai falar com o Papa Francisco, “vou dizer lhe que gostaria que todos meus irmãos aqui saiam da rua, que deixem as drogas, que tenham nova casa para viver, tenham um sítio para estudar e aprender uma profissão”.



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