A equipa da Autoridade Tributária (AT) de Moçambique em Nampula, vencedora do Campeonato Africano de Voleibol da Zona VI, realizado em Lusaka, capital zambiana, nutre o desejo de transformar esta parcela do país na capital desta modalidade. Não se trata de uma aspiração envaidecida, pois, de 2009 (ano da sua criação) a esta parte, o sucesso que esta turma vem acumulando fala por si. Em 2010 venceu o Campeonato Nacional de Voleibol em juniores masculinos em Manica, proeza repetida em 2011, na cidade da Beira, província de Sofala. Foi para falar destas conquistas e da fórmula para a sua obtenção que o @Verdade abordou João Satiel, presidente da Associação Provincial desta modalidade, na cerimónia de recepção do combinado nampulense.
João Satiel fez uma radiografia sobre o percurso da equipa da AT e da modalidade. Disse que no princípio o objectivo do seu colectivo era tirar o voleibol do anonimato nesta província, o que já se conseguiu. Foram muitos sacrifícios para uma só causa: atingir resultados que pudessem dignificar a província em competições além-fronteiras. Tal propósito foi testemunhado na classificação, em primeiro lugar, da equipa da província de Nampula que participou num evento desportivo em que o maior número de equipas tinha uma experiência acumulada em competições internacionais. Recorde-se de que foi a primeira vez que a humilde equipa da Autoridade Tributária de Moçambique em Nampula participou em competições de tamanha envergadura.
(@Verdade) – Como é que nasce a equipa da Autoridade Tributária em Nampula?
(João Satiel) – A equipa da Autoridade Tributária nasce depois de uma reflexão por parte da Associação Provincial de Voleibol com o propósito de promover o desenvolvimento institucional na área do desporto. E, também, foi uma das maneiras que encontrámos para a massificação do desporto. Além de criarmos a equipa da AT, expandimos algumas equipas que eram apenas núcleos para algumas instituições. Por exemplo, a Universidade Pedagógica e a Academia Militar. Felizmente, com a ajuda da senhora Agostina (funcionária da Autoridade Tributária de Nampula), por sinal a "patrona" da equipa, ela conseguiu criar as condições básicas e tornou a equipa mais coesa e competitiva. Uma das aparições de destaque aconteceu no Campeonato Nacional de Voleibol em juniores masculinos, realizado em 2010, na província de Manica. Nessa altura, a formação sagrou-se campeã do certame. Em 2011, a proeza repetiu-se no campeonato nacional realizado na cidade da Beira, província de Sofala. Este ano também com a participação de seniores e juniores no "Nacional" que decorreu no mês de Junho na cidade de Maputo. A equipa sénior ficou em terceiro lugar e os juniores ocuparam a segunda posição na competição. Essa mesma equipa júnior acabou por se apurar para o Campeonato Africano da Zona VI, evento realizado, recentemente, na capital de Zâmbia, Lusaka.
(@V) – Quando a equipa da AT surgiu qual era o ambiente desportivo em Nampula?
(JS) – A equipa da AT de Nampula foi uma das primeiras nesta região na modalidade de voleibol, em 2009. Ela acaba por ser uma equipa mais forte mercê da intervenção da Autoridade Tributária e dos gestores dos órgãos públicos no sector do desporto a nível local. Isso permitiu a remodelação da estrutura da espinha dorsal da equipa e culminou com a contratação de um novo treinador que veio fortificá-la. Este tinha como objectivo trabalhar com os atletas a 100 porcento para um bom nível de competitividade. O treinador conseguiu remodelar a equipa e torná-la um colosso, não apenas a nível da província de Nampula, mas também a nível nacional. Em 2010, eu disse aos órgãos de comunicação social que pretendia tornar esta província a capital de voleibol e, quiçá, uma referência internacional. Este sonho está a realizar-se paulatinamente. Nampula hoje está a ser destaque na arena de voleibol. Gostaria que estes resultados não terminassem por aqui. Queremos ganhar mais troféus de gabarito internacional e ver esses jogadores que são campeões africanos a integrar a selecção nacional de voleibol com um maior número. Das sete unidades individuais que se entregam às competições, esta equipa conseguiu ter mais que metade, quatro unidades, que são os pontos-chave do voleibol. Refiro-me ao melhor marcador, rematador, ao melhor bloco e passador. Isso revela que Nampula já tem espaço na selecção nacional e o treinador merece um novo tratamento, aproveitamento do seu talento e muita atenção para com ele de modo a obter mais resultados positivos, não só para a equipa da Autoridade Tributária, mas para as outras formações desportivas.
(@V) – Como é praticar desporto, sobretudo o voleibol, com poucas infra-estruturas?
(JS) – O voleibol é uma festa porque é praticado por um grupo de amigos. Então, é fácil. Mas também torna-se difícil porque há muita distracção dos agentes económicos locais que deveriam aproveitar e fazer investimentos no voleibol para vender os seus produtos e divulgar as imagens corporativas das suas empresas. Essa distracção faz com que eles não aproveitem para melhorar a sua imagem através da modalidade que traz troféus para a província e para o país no geral. Depois da participação, pela primeira vez em Lusaka, acredito que existe um quadro aberto para que as pessoas venham tirar proveito disto, fazendo um investimento em patrocínios e a divulgação dos seus serviços. A questão relacionada com a falta de infra-estruturas para a prática desportiva é o grande dilema da província de Nampula. Isso não afecta apenas o desempenho do voleibol, mas também de outras modalidades que são praticadas nesta região. Diante da situação, os praticantes não cruzam os braços por esta deficiência que a província tem. Acho que o Ministério que tutela a área devia resolver esta questão pelos resultados que estamos a atingir. O acesso às poucas infra-estruturas que já existem tem sido deficitário. Nós reclamamos a todo o momento diante das entidades competentes desta área. Veja só que para ter acesso a um campo é necessário fazer cartas, esperar que passem pelo processo todo de burocracia e, finalmente, depois de um mês ou mais, a carta é assinada. Só assim é que temos acesso aos recintos desportivos para a realização das competições. Às vezes, somos obrigados a alterar as datas de realização das competições porque os campos não foram disponibilizados. Os poucos que nós temos deveriam ser cedidos às pessoas com vontade de trabalhar e trazer uma nova imagem ao desporto, principalmente o voleibol. Na participação que fizemos no Campeonato Africano de Luzaka, edição 2012, ganhámos uma experiência muito boa que consiste em deixar abertos os megacampos locais durante 24 horas, para os atletas fazerem ginástica, jogar o voleibol ou o basquetebol sem precisarem de requerer a uma determinada direcção. A Vila Olímpica de Lusaka está aberta a todos os cidadãos. Nós já fomos treinar às seis horas, e encontrámos crianças a praticarem desporto. Acredito que as pessoas do nosso país pensam que quem vai a um recinto desportivo faz escândalos em detrimento das práticas desportivas. Essa experiência deveria ser estendida ao nosso país. Abrir os portões e acolher todos os eventos competitivos sem precisar de muitos condicionalismos. É preciso ter consciência aberta para entender que o desporto é praticado por pessoas com uma mentalidade sã.
(@V) – No meio destes constrangimentos, como é que as equipas encontram saídas para continuarem a trabalhar sem desanimar?
(JS) – Nós acabamos por minimizar as dificuldades que temos enfrentado a cada dia que passa devido à precariedade das respectivas condições de trabalho. Aproveitamos os parcos meios disponíveis, usando campos de instituições públicas mas de gestão privada, como o campo da Escola Secundária de Muatala. As nossas sessões de treino e realização de algumas competições são praticadas naquele recinto desportivo. Este é um dos campos que ajuda na movimentação das equipas que praticam esta modalidade na província de Nampula. O campo verde do Conselho Municipal, cujas condições são deploráveis, também tem sido aproveitado porque a questão das infra-estruturas está numa autêntica crise e no meio destas adversidades não temos recursos.
(@V) – Qual é o apoio que a modalidade de voleibol recebe nesta região?
(JS) – Acho que com a nova governadora, a mentalidade acaba por ser outra, ela é mesmo acessível na área do desporto. Isso notou-se na preparação da equipa com vista à sua participação no campeonato de Lusaka, edição 2012. Houve muito apoio material, moral por parte da pessoa da governadora e, particularmente, da comunicação social desta região. Mas nós gostaríamos que estes apoios não fossem feitos apenas pelo governo da província de Nampula. Queremos que o município mostre a sua cara apoiando na reabilitação dos recintos escolares e consequente disponibilidade para o seu acesso. Os agentes económicos também devem contribuir para o desenvolvimento da modalidade de voleibol. O município deve aparecer para apoiar as equipas que trazem resultados satisfatórios. Se há uma modalidade que traz troféus nesta província, esta é o voleibol. Os resultados alcançados anteriormente pelas equipas da Autoridade Tributária e Universidade Pedagógica são o exemplo de que nós estamos a trabalhar. Agora foi a vez de sermos considerados campeões africanos da zona VI. O apoio que o gabinete da comunicação e imagem da Autoridade Tributária nos disponibilizou foi material e moral. A AT é a única instituição que está sempre presente nos momentos de tristeza e de alegria para prestar qualquer apoio. Quando criámos a equipa, esta era considerada uma formação desportiva anónima mas, desde que trouxe troféus, a AT acreditou que a equipa podia ser um veículo muito importante para a atingir não apenas os objectivos desportivos, mas também a popularização do imposto a partir das actividades desportivas. Esta é uma estratégia que estamos a implementar a nível das instituições, acção que consiste no aproveitamento da boa prestação da equipa de voleibol.
(@V) – Depois do apuramento para o "Africano" houve o imperativo de reestruturar a equipa?
(JS) – Houve sim, mas não foi uma mudança drástica, se calhar uma reestruturação de apenas 5 a 10 porcento. Houve o reforço do atleta Dércio que estava na Académica de Maputo e acabámos por contratá-lo para garantir a nossa participação. Agora estamos a negociar um contrato mais longo com o jogador e, a cada momento, vamos tentar fortificar a equipa buscando mais reforços, embora tenhamos uma equipa coesa. A equipa continua a mesma, apenas tivemos dois reforços de fora da província.
(@V) – Desde já quais são os objectivos da equipa da AT?
(JS) – Pretendemos continuar a ganhar mais troféus, vencer os jogos africanos da modalidade que terão lugar na cidade de Cairo, no Egipto. Queremos tornar esta equipa um modelo nacional. Vamos avançar com o desenvolvimento dos potenciais pilares junto dos técnicos da Associação Provincial de Voleibol de modo a não vacilar nas próximas competições. A associação não irá apenas implementar estratégias de desenvolvimento na equipa da Autoridade Tributária, mas também nas equipas que já mostram alguma maturidade técnica, como é o caso da Universidade Pedagógica, Academia Militar, entre outras formações desportivas. Uma das estratégias que a associação está a utilizar é a promoção de apadrinhamento nas instituições públicas e privadas para engrossar as equipas filiadas na associação. E com isso acreditamos que poderemos trazer mais equipas que vão levantar a bandeira de Moçambique. No próximo ano, iremos participar nos jogos africanos de 2013 no Cairo. Caso haja alguma alteração do local de realização, estamos preparados para participar onde quer que seja. Queremos que toda a sociedade moçambicana esteja envolvida nas realizações da equipa da Autoridade Tributária, visto que é a única da África Austral que vai participar nesses jogos. Isso merece a atenção não apenas da AT, mas também das autoridades governamentais a nível provincial e central. Este interesse não é apenas provincial, mas de todo o país. A partir de agora quero apelar aos dirigentes no sentido de prestarem apoio para se assegurar a evolução da equipa em todas as competições que participar.
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