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terça-feira, 15 de abril de 2014

Ex-bastonário acusado de roubo de energia

O título não é de Bula Bula que o copiou do jornal Público, um semanário da praça que escarrapacha o rosto de Gilberto Correia na capa e ainda dedica quase uma página ao assunto, cujos contornos não lembram o diabo.
Bem dizia Augusto de Carvalho, nosso saudoso colega, que “um homem nunca devia sair de casa sem primeiro medir o seu tamanho”. Parece que Gilberto Correia não só não mede o seu tamanho como também não liga para o seu peso.Não é que o homem, no caso antigo bastonário da Ordem dos Advogados, entendeu mergulhar numa peleja verbal, puramente desnecessária, com alguns técnicos da Electricidade de Moçambique (EDM) que pretendiam trocar o contador convencional de energia da sua casa, pelo sistema CREDELEC.

Gilberto Correia, segundo a notícia, que até parece entender bem das normas, vasculhou tomos da legislação vigente no país, incluindo a Lei de Florestas e Fauna Bravia e a Lei de Acesso de Menores a Locais de Diversão Nocturna, e não encontrou uma vírgula referente à obrigatoriedade de se trocar contadores, pior numa situação como a dele que nutria uma afeição platónica pelo sistema convencional.

Parece a Bula Bula que o “ex-basto” esqueceu-se de um sábio provérbio árabe segundo o qual “confie em Alah mas amarre o camelo…”

A EDM, por seu turno, entende que os contadores “antigos” já não estão na moda, porque são muito mais vulneráveis a fraudes e obrigam à contratação de um exército de funcionários para leituras do consumo mensal e conduzem a bate bocas porque, em alguns casos, a facturação é estimada.

Estes, afinal, por sua vez, lembraram-se de outro provérbio árabe que reza que “a árvore que está sendo cortada observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira”…e, toma que te dou!

Porque esta coisa de tecnologias assusta a muitos (a tecnologia só é tecnologia para quem nasceu antes dela ter sido inventada, segundo Alan Kay) e o insuspeito ex-bastonário faz parte dessa naipe, o diálogo com os técnicos deslizou para o nível de conversa de surdos. A algazarra foi tal que a EDM se viu forçada a fazer a troca “à força”, pior porque os restantes clientes da cidade da Beira, onde Gilberto Correia tem a sua residência, tinham anuído ao processo sem colocar objecções. Pelo contrário, todos se renderam às vantagens do CREDELEC.

Quando a equipa da empresa fornecedora de corrente eléctrica acedeu ao palacete de Correia, deu de caras com um insólito. Afinal, o antigo bastonário da Ordem dos Advogados não queria o novo sistema porque tinha feito umas ligações “à maneira”, aquilo a que os brasileiros chama de “gato”, que lhe permitiam consumir energia de borla. Por outras palavras, Gilberto Correia roubava energia. A equipa terá feito uma avaliação e concluiu que a fraude vinha sendo desenvolvida há cerca de um ano.

Uns diriam que “no melhor pano cai a nódoa”, mas, para Bula Bula, “na melhor nódoa cai o pano”, pois, não se percebe por que caipirice um advogado de toga, Código Civil e Penal em punho, pode-se deixar cair em tão esquisita tentação.

Bula Bulapromete mandar esculpir uma estátua de Gilberto Correia, com alicates, busca-pólos e alguns cabos eléctricos no centro da Cadeia Central para que os ladrões de energia, gado, viaturas e até de galinhas o possam homenagear numa data a ser indicada pela assembleia-geral dos gatunos.

A cereja deste caso é que Gilberto Correia, na maior cara de pau, ainda se atreveu a mover um processo contra a EDM e exigiu uma indemnização de 100 mil meticais, por lhe ter forçado a instalar um contador CREDELEC, quando ele morre de amores pelo sistema convencional. Porque os juízes, em geral, não roubam energia, julgaram aquela queixa improcedente. Só que o nosso antigo bastonário interpôs recurso, como quem não sabe que os tribunais têm processos muito mais sérios por dirimir.

Mas nestas coisas de atirar pedras para o telhado alheio, Bula Bulalembra-se de que há bem pouco tempo, Gilberto Correia escreveu uma Carta Aberta ao PCA da EDM em que, em termos mais ou menos duros, dizia, entre outras coisas que:

“Sou um dos milhões de afectados pelo apagão que flagelou o corredor da Beira (incluindo as cidades de Beira e Chimoio) durante 14 dias consecutivos e ininterruptos. Tal como a esmagadora maioria destes milhões de companheiros meus de infortúnio, quando o fornecimento de energia eléctrica melhorou um bocado (pois até hoje, dia que lhe escrevo, persistem problemas sérios de restrições e cortes em toda a cidade e quando há fornecimento, este é parcial e defeituoso), pensei em calar-me e em engolir mais este "sapo vivo". Tanto mais que, como cliente da EDM há bastantes anos, e coagido a continuar a sê-lo devido ao seu carácter monopolista, a razão e a experiência anterior dizem-me que, infelizmente, continuarei a ser maltratado, desrespeitado e a assistir à degradação progressiva dos meus direitos mais elementares de cliente e consumidor por muitos mais anos.”

Vale dizer que quem assim escreveu, não pode ser gago não…

Em jeito de fecho, há que lembrar que este mesmo Gilberto Correia tentou candidatar-se a uma vaga aberta na EDM de Chimoio e, não se sabe se por posse de cábula ou insuficiência de conhecimentos, foi reprovado, o que parece motivá-lo a desdenhar de toda a iluminação legalmente fornecida.

Os sábios (?) diziam “vez por outra dar uma surra na mulher é algo saudável: tu podes não saber por que estás batendo, mas ela sempre sabe por que está apanhando…”; mas isso, caro “ex-basto”, isso foi noutros tempos… agora toca a apanhar e por justa causa!

JORNAL DOMINGO – 13.04.2014

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