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domingo, 13 de abril de 2014

«ZULUFOBIA»: O PORQUÊ DOS SUL-AFRICANOS ODEIAREM-NOS

«Donde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde senão nos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais e invejais e nada podeis obter…» Tiago 4:1­2

Todo e qualquer Moçambicano que por algum motivo ou força das circunstâncias demanda as terras do lendário Mandela, a menos que utilize outras vias não normais, se fôr para lá através duma das duas fronteiras habituais, (terra e ar), terá uma experiência amarga, portanto sentirá na carne, a força do escárnio que os Sul-africanos, no caso, funcionáriosalfandegários e Policias, nutrem por nós (Moçambicana (os). Julgamos nós que seja pela natureza imposta por longos anos de Apartheid, os Sul-africanos, ainda não se desembaraçam completamente do escafandro de ódio, rotularão e descriminação das pessoas em função da sua raça ou País originário. Pior tratando-se de Moçambicana(o)s. São aos magotes os episódios tristes de compatriotas nossos, escorraçados e recambiados sem dó nem piedade, deixando por terra todo o produto de anos de sacrifícios naquelas terras, ainda que provem reunir toda a documentação necessária para a sua permanência naquele Pais.

Um dos mais tristes e badalados é o da pobre senhora que viu o seu dedo amputado por um fio de cabelo para o agrado de um Polícia Sul-africano demente. Há dias deu-se um outro com um dirigente duma das nossas instituições económicas que, convidado para proferir uma palestra sobre a sua instituição num Workshop, (Seminário) em Nairobi (Quénia), teve de fazer escala de oito horas no aeroporto «Oliver Thambo» na cidade de Johannesburg. No lugar de passá-las sentado num dos bancos da sala de embarque, pensou (mal infelizmente), passá-las num quarto do hotel que fica a cinquenta metros do Aeroporto. Com lágrimas nos olhos contou-nos que, mal poisou os pés fora do alpendre do aeroporto, como por artes mágicas, viu-se transportado num suposto Táxi que corria à velocidade acima de 160Km/hora, violentamente raptado por três homenzarrões carecas mais parecendo guardas eunucos dalgum Harém. Depois de uma hora de viagem para um lugar ermo e inóspito, onde o nosso conterrâneo pensou estar a viver os últimos dias da sua existência, revolveram-no dos pés à cabeça. Safou-lhe o novo Passaporte Diplomático que inaugurava naquela viagem e o Bilhete que confirmava que ele estava em trânsito e que como podiam ver, nunca tinha posto os pés na África do Sul! O nosso desgraçado/sortudo conterrâneo afirmou-nos que com a mesma velocidade com que o raptaram, devolveram-no ao local em que se deu a rapina, donde sairia directamente para o avião que o transportou a Nairobi, jurando consigo nunca mais pôr nem os olhos nem os pés naquela maldita terra. No último final de semana, familiares nossos, foram igualmente vítimas duma gratuita violência verbal que quase terminava em vias de facto na vila de Nkomatiport a quatro Quilómetros de Ressano Garcia, onde teriam ido à procura dalguns medicamentos inexistentes nas nossas Farmácias. Foram forçados a pagar duas multas, uma de 500 Randes alegadamente por parar num daqueles mercadozinhos à beira da estrada para comprar duas maçarocas, e outra de 1000 Randes porque não traziam Extintor de Incêndio no interior do carro, repetindo-lhes várias vezes que: «here is South Africa not Mozambique, you must have it», como se eles estivessem perdidos e não soubessem onde estavam. Juraram voltar a pisar aquelas bandas só daqui a uma dezena de anos provavelmente depois da aposentação ou morte dos agentes de Trânsito que os submeteram a abusos e humilhação. Na verdade, apesar de todos sermos Africanos, (negros no caso vertente), e muitas vezes falarmos o mesmo idioma e as fronteiras serem produto de colonização, não obstante, os Sul-africanos na sua maioria, sofrem de uma doença crónica, incurável e insuportável conhecida apenas por eles pelo horrível nome de ZULUFOBIA. O Dicionário da Língua Portuguesa que tem vindo a servir-nos de Mestre, informa-nos àcerca duma moléstia conhecida por Xenofobia, palavra de origem Grega (xénos, estrangeiro + phob, de phobein, ter aversão. E mais, que o termo estrangeiro, designa o que é de uma nação diferente daquela em que se está. E não diz que essa pessoa ou coisa deva ser hostilizada. Apesar das relações humanas exigirem que a vizinhança internacional (esse imperativo geográfico incontornável), seja sempre sincera e leal, os Sul-africanos têm um conceito típico só deles), no qual a repulsa, a antipatia e ódio pelos vizinhos fazem parte da sua cultura. A. Da Silva Rego, investigador português que estudou a origem das relações entre Moçambique e a África do Sul (1652­-1900), diz numa das suas obras que, «…amagnífica Baía de Lourenço Marques incitou sempre a cobiça dos Sul-africanos por várias vezes. De 1721 a 1732 foi ocupada intermitentemente por alguns aventureiros, na sua maior parte alemães, ingleses e piratas vindos de Madagáscar. Mas, o clima encarregou-se de os dizimar, de tal forma que os Portugueses não tiveram dúvida em afirmar a sua soberania novamente em 1732. Decorridos anos, volta novamente a Baía a ser ocupada por estranhos. Os austríacos, conduzidos pelo inglês Wiliam Bolts, permaneceram no largo estuário de 1777 a 1781. Em face disto, os Portugueses resolveram ocupar definitivamente o porto, ao criar em 1782, o Presídio de Lourenço Marques».

Há muitas histórias de maus tratos aos Moçambicanos por Sul-africanos que só caberiam num Livro próprio, tudo porque eles (Sul-africanos), sempre se consideraram superiores a todos os outros Bantu aSul do Sahara. Por isso, como cantou o saudoso Jeremias Ngwenya, «aMabunu a ma lunganga»!

Chegam, comem dos nossos melhores mariscos carregam o nosso pescado e saiem sem ninguém lhes molestar. Assim, não dá para aceitarmos!

JORNAL DOMINGO – 13.04.2014

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