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domingo, 15 de janeiro de 2017

Análise de solos e plantas custa uma pequena fortuna em Moçambique

Foto de Adérito CaldeiraPassado pouco mais de ano e meio desde que o Presidente da República, Filipe Nyusi, inaugurou nos arredores da cidade de Nampula o Laboratório de Análise de Solos e Plantas nenhuma análise foi realizada em benefício dos camponeses. Além do desconhecimento dos serviços que são disponibilizados pelo empreendimento, construído com financiamento do Governo do Japão, a análise de uma porção de terra custa uma pequena fortuna: 50 dólares norte-americanos.

No bairro de Muhaivire funciona, oficialmente desde Junho de 2015, o mais moderno Laboratório de Análise de Solos e Plantas de Moçambique. Representa a componente de investigação do Programa de Cooperação Triangular para o Desenvolvimento Agrícola das Savanas Tropicais de Moçambique(ProSavana) e foi edificado graças ao financiamento japonês, estimado em 28 milhões de dólares norte-americanos.

Foto de Adérito CaldeiraJovens agrónomos moçambicanos, e estudantes, operam com perícia os mais variados equipamentos modernos que permitem determinar a composição química de um solo. Anabela Fonseca, a agrónoma que opera o novíssimo plasma de análises químicas de nutrientes e solos, explicou ao @Verdade que com base no resultado um especialista irá recomendar ao agricultor de onde a terra provém como melhorar a qualidade do mesmo e por conseguinte aumentar a sua produtividade.

Numa sala contínua dois jovens estudantes preparam várias amostras de mandioca que posteriormente serão também analisadas, a pedido de uma empresa de produção de bebidas alcoólicas nacional.

Noutro compartimento Maria Clarinda mostra centenas de porções de solos que o Laboratório recebeu e analisou. Questionada pelo @Verdade sobre quantas daquelas amostras eram provenientes de camponeses da província de Nampula, ou de outra região do País, a agrónoma e analista revela que nenhum. São amostras de investigações que decorrem para o ProSavana.

Foto de Adérito Caldeira@Verdade quis perceber como os camponeses poderiam obter informação sobre a qualidade dos solos onde cultivam. Maria Clarinda explicou que precisam de fazer chegar uma amostra da área que pretendem e o Laboratório de Análise de Solos e Plantas avalia-o, porém adicionalmente devem ser pagos 50 dólares norte-americanos, “em dólares ou ao câmbio do dia”, esclareceu.

A agrónoma clarificou ainda que para apurar a qualidade de solos numa área considerável, mais do que um hectare, são necessárias amostras de vários locais da machamba e o custo multiplica-se pelo número de porções analisadas. Para os camponeses moçambicanos, que são a maioria dos produtores de comida, este valor representa uma pequena fortuna afinal são na generalidade pobres e não têm acesso a fundos ou crédito para desenvolver a agricultura.

Além do custo exorbitante, ainda por cima em moeda estrangeira, o @Verdade entrevistou diferentes camponeses na província de Nampula, em Ribáuè, em Monapo e em Malema, que deixaram o seu evidente desconhecimento não só da instituição de análises de solos e plantas mas principalmente das vantagens que o trabalho de investigação que lá é desenvolvido poderia trazer à sua produção de alimentos.

O ineficiente serviço de apoio aos camponeses em termos de investigação e extensão rural é apenas um dos dramas conhecidos e que colocam a produção agrícola nos níveis insuficientes para as necessidades alimentares dos moçambicanos.

Vários documentos do próprio Governo indicam que existe uma “gestão de investigação deficiente”, que a planificação da investigação é inflexível e definição de prioridades inadequada e também quase não há ligação entre as várias instituições de investigação, como são os casos do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique, Instituto de Fomento do Caju, das Universidades e dos serviços de extensão agrícola.



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