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domingo, 5 de março de 2017

Forças governamentais maltratam população no centro de Moçambique

Ao longo dos primeiros dois meses [03 de Janeiro a 05 de Março] de cessação temporária das hostilidades militares, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) aquarteladas nas províncias de Manica e Sofala protagonizaram pelo menos dois ataques contra os guerrilheiros da Renamo e vários desmandos e maus-tratos contra a população local.

Em Gorongosa, por exemplo, as FADM "comportaram-se mal", disse o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e acrescentou que algumas barracas foram queimadas e diversos bens pilhados. Os automobilistas e certas também não escaparam das humilhações.

Na localidade de Nhassacara, no posto administrativo de Nhapassa, no distrito de Báruè, província de Manica, as forças governamentais perpetraram um ataque contra os guerrilheiros da "Perdiz". Estes, de acordo com Afonso Dhlakama, "não reponderam porque não tinham ordem" para o efeito.

O segundo aconteceu no sábado (26.02.17). "As forças do batalhão independente de Chimoio" realizaram uma incursão à base da Renamo "na localidade de Chua, no posto administrativo de Machipanda, no distrito de Manica. Os nossos homens não responderam. Depois de dois dias, as FADM pediram desculpas” e o problema “terminou assim, mas informamos ao Governo”.

De acordo com o presidente do maior partido da oposição em Moçambique, a “situação está calma", ou seja, os ataques às bases da "Perdiz" cessaram mas ocorrem episódios constantes que consubstanciam abuso e violação dos direitos humanos.

"Não me interessa aqui elaborar muito” sobre isso, afirmou Dhlakama, na passada sexta-feira (03), numa tele-conferência a jornalistas baseados em Maputo, cujo fim era anunciar mais uma prorrogação da trégua, por dois meses.

Segundo ele, as violações mais frequentes ocorrem nos lugares onde as populações realizam o comércio e as forças governamentais apoderam-se dos bens dos vendedores e proferem ameaças.

“As próprias FADM fazem-se de agentes da Polícia de Trânsito (PT) e intimidam os automobilistas na via pública. “Mandem parar os carros, pedem 15 mil a 30 mil meticais e se não tem dinheiro o carro” fica com eles.

“Isto é frequente. É frequente. Aqui na Gorongosa se as forças da Renamo não fossem disciplinadas já teríamos violado a paz", porque as FADM "fazem emboscadas para capturar os nos homens".

À luz do acordo sobre a trégua, as forças militares de ambas as partes devem, durante a prevalência do armistício e até novas ordens, manterem-se nas suas posições. Mas por alegadas razões de segurança podem fazerem patrulhamento num raio de 3 a 4 quilómetros das bases onde se encontram.

Contudo, Dhlakama disse que as forças governamentais vão para além dos limites estabelecidos e comete, desmandos. "Isto situação não é de hoje. Chegam mesmo a agredir as mulheres. Na semana passada levaram duas mulheres" que se faziam transportar em motorizadas com os seus maridos e passaram noites com elas numa posição em Tazaronda.

O líder da Renano não é visto publicamente desde Outubro de 2015, aquando do cerco da sua residência na cidade da Beira e detenção alguns dos seus seguranças.

A Amnistia Internacional (AI), no seu relatório intitulado “O Estado dos Direitos Humanos no Mundo”, acusa as Forças de Defesa e Segurança (FDS) em Moçambique e os apoiantes do maior partido da oposição de terem cometido violações de direitos humanos com impunidade, entre os quais assassinatos, tortura e outros maus-tratos, o que forçou milhares de pessoas a fugirem para o Malawi e Zimbabwe, em 2016.

“Essas violações incluíram execuções extrajudiciais, tortura e outros maus-tratos, detenções arbitrárias e destruição de propriedades", refere o relatório.



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