O candidato presidencial Raila Odinga afirmou nesta quarta-feira(09) que os computadores da comissão eleitoral do Quénia foram pirateados de forma a colocar online resultados que dão uma grande margem de avanço ao presidente Uhuru Kenyatta, algo que descreveu como uma fraude "massiva". Duas pessoas morreram durante uma repressão policial em Nairobi e outras três perderam a vida no município costeiro de Tana River na sequência de uma ataque a um posto de contagem de votos.
A comissão eleitoral defende que as eleições desta terça-feira foram livres e justas. Mas adiantou estar a investigar se o seu sistema informático e a base de dados da contagem de votos tinham sido comprometidos, embora não tivessem tido nenhum problema com as suas passwords. Já a Comissão de Direitos Humanos do Quénia, uma organização não-governamental, disse ter descoberto algumas discrepâncias entre os resultados provisórios divulgados online e os dados em papel.
De acordo com os resultados publicados ontem no site da comissão eleitoral, Kenyatta surgia com 54,4% dos votos contados, à frente dos 44,8% atribuídos a Odinga - uma margem de 1,4 milhões de votos numa altura em que já estavam contabilizadas 96% das mesas. No Twitter, o partido de Odinga partilhou a sua própria contagem, reclamando 8,1 milhões de votos para o seu candidato, contra os 7,2 milhões de Kenyatta.
Líder da oposição, Odinga, de 72 anos, é um antigo prisioneiro político que se apresenta como sendo de esquerda. Kenyatta, de 55 anos, procura ser eleito para um segundo mandato de cinco anos e tem mantido uma liderança de cerca de dez pontos desde que os votos começaram a ser contados.
Odinga baseia as suas acusações de fraude eleitoral no facto de acreditar no roubo de identidade de um técnico da comissão de eleições que foi assassinado, tendo publicado no Facebook 50 páginas de dados informáticos para sustentar as suas afirmações.
Falando numa conferência de imprensa, o candidato da oposição pediu aos apoiantes que mantivessem a calma, mas deixou algo bem claro: "Eu não controlo o povo." "Esta é uma fraude de monumental gravidade, não foi uma eleição", prosseguiu.
Pouco depois destas declarações, a polícia disparou gás lacrimogéneo para dispersar um grupo de cem manifestantes na cidade de Kisumu, um bastião da oposição. Mais tarde, no bairro de lata de Mathare, em Nairobi, as autoridades usaram munições reais para dispersar um outro grupo, matando pelo menos duas pessoas.
"Eles faziam parte de um grupo que se manifestava nesta zona, tendo a polícia sido enviada para o local para restaurar a ordem. Foi-nos relatado que vários deles eram também ladrões que se aproveitaram da situação", declarou à AFP um responsável policial. As acusações feitas por Odinga, a par das manifestações, fazem ressurgir o rasto de violência vivido nas presidenciais de Dezembro de 2007.
Entretanto, mais tarde, uma terceira pessoa morreu quando uma gangue usando catanas atacou um posto de contagem de votos no município costeiro de Tana River e a polícia matou a tiros dois agressores, disse uma testemunha.
O funcionário eleitoral morto estava a trabalhar para o partido governista Jubilee, disse o morador Hassan Barisa. A polícia confirmou as mortes.
Há dez anos, a contagem dos votos foi suspensa e o presidente Mwai Kibaki reconduzido no cargo, originando protestos da oposição, já então liderada por Odinga, e uma onda de violência étnica, tendo levado à morte de mais de mil pessoas e à fuga de 600 mil.
Um mês após as eleições, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan chegou ao país, tendo conseguido sentar à mesa Kibaki e Odinga, que, em Fevereiro de 2008, acabaram por assinar um acordo de reconciliação.
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