O jornalista da Agência de Informação de Moçambique (AIM), Anacleto Mercedes, foi forçado a interromper o seu trabalho e conduzido ao posto policial junto à Escola Central do Partido Frelimo, onde foi submetido a um interrogatório sobre a finalidade da gravação que efectuava quando Filipe Nyusi, Presidente do partido no poder e da República, proferia o discurso de abertura do XI Congresso, que decorre desde terça-feira (26), no município da Matola.
Os protagonistas do acto, que pode ser interpretado como uma tentativa de reduzir a liberdade de imprensa a limites mais estreitos, foram supostos agentes do Serviço de Informação do Estado (SISE), apurou o @Verdade.
Acto contínuo, os presumíveis jagunços do partido dos camaradas e do seu chefe confiscaram o equipamento de trabalho de Anacleto Mercedes e só lhe foi restituído horas mais tarde, graças à intervenção do gabinete de imprensa da própria Frelimo.
Chegado à referida unidade policial, escoltado pelos alegados elementos dos serviços secretos, o visado recebeu ordens expressas para eliminar tudo o que já tinha gravado, mas tal aconteceu porque determinados militantes daquele partido intervieram.
Não foi possível apurar, nem do próprio jornalista – que se mostrou indisponível para explicar o sucedido – por que carga(s) de água ele foi obrigado a abandonar a sala e sujeitado a tal interrogatório.
“Surgiram certos indivíduos que se apresentaram como agentes do SISE. Um deles ordenou que o colega parasse de gravar” exactamente quando Filipe Nyusi estava a discursar. “Não percebemos por que motivo isso aconteceu mas o jornalista acatou sem questionar (...)”.
O @Verdade sabe, porém, que Anacleto Mercedes estava a fazer o que o seu ofício lhe compete e não oferecia ameaça alguma a qualquer pessoa presente na cerimónia nem impedia o decurso normal da mesma.
Importa frisar que o XI Congresso da Frelimo está a ser transmitido em directo, sobretudo pela televisão que sobrevive à custa de parte dos impostos dos moçambicanos.
Informações a que este segmento de media teve acesso dão conta de que, primeiro, um fulano dirigiu ao jornalista e deu ordens expressas no sentido de não efectuar nenhuma gravação do que Nyusi dizia.
Volvidos alguns minutos, o mesmo cidadão deu o dito por não dito, autorizando “o colega a fazer o seu trabalho porque já estava tudo acautelado”.
Contudo, um outro beltrano atirou-se contra Anacleto Mercedes e convidou-o acompanhá-lo até ao posto policial. O que realmente lá ocorreu, só a própria vítima e os mentores desta tamanha infâmia podem relatar com o devido pormenor. Aliás, os outros profissionais de comunicação social testemunharam, in loco, a expulsão em alusão – qual alguém estupefacto com alguma coisa que causava arrepio e dava nervos à flor da pele – mas não tugiram nem mugiram.
Todavia, se uma situação similar tivesse sido orquestrada por algum governante, algures neste vasto Moçambique, o problema seria tomado como tão bicudo a ponto de dar manchete a algumas estacões televisivas, radiofónicas e jornais. Ou será que o problema deixou de ser grave e ter interesse porque se passou num evento do partidão?
Anacleto Mercedes viu o seu ofício comprometido, na medida em que passou maior parte do tempo confinado naquele posto policial e sem fazer o que o levou à Escola Central do Partido Frelimo.
AIM é uma instituição pública tutelada pelo Gabinete de Informação (GABINFO).
O episódio acima narrado é apenas um exemplo, dentre vários, de que os jornalistas de diferentes órgãos de comunicação social em Moçambique são muitas vezes privados de realizar livremente o seu trabalho, o que coloca em xeque o direito acesso à informação e às liberdades de imprensa e de expressão.
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