Caiu o pano sobre mais uma edição dos Prémios da FIFA, onde o ponto mais alto foi a eleição do melhor jogador do Mundo. Este prémio como bem sabemos tem a particularidade de eleger aquele jogador que mais se destacou nas competições organizadas pela FIFA ou melhor dizendo, daquele jogador que mais se destacou das competições organizadas pela UEFA, porque indo directo ao assunto não faz o menor sentido que um entidade que se diz global, sempre que há uma eleição para os melhores do mundo, o mesmo sempre é dado ou para jogadores europeus ou para jogadores não-europeus mas que actuam nas competições organizadas pela UEFA e nesse caso em particular jogadores que actuam nas cinco mais importantes ligas da UEFA os designados Big-five (Inglaterra, Espanha, França, Alemanha e Itália), sabemos nós que são os campeonatos que mais mobilizam dinheiro e público, são os campeonatos onde os Holofotes da comunicação internacional dão maior incidência todos os fins de semanas das épocas regulares.
O facto é que isto até não seria importante, se os prémios ou fossem entregues pela UEFA ou pela France Football, que já o fazem anualmente é deveras preocupante quando os tais prémios que visam enaltecer a excelência profissional dos atletas desportivos todos o anos, elegem quase sempre os mesmos intérpretes, os que jogam em uma das competições da UEFA ou que são europeus.
Um grande sociólogo europeu disse uma vez que existe um certo poder que não é imposto por meio da força ou da violência, é um poder quase invisível mas que é igualmente forte como os outros poderes e este é ainda mais efectivo, pois encontra uma legitimidade maior nos dominados, visto que estes legitimam esse poder inconsciente e conscientemente.
Todos os grupos tem valores só que existem grupos com valores que estão acima de outros e os mesmos são imposto aos outros sem ser preciso usar a força ou violência e esses valores podem-se propagar através da cultura, dos meios de comunicação, mass media, etc.
O continente europeu mesmo não sendo tão forte hoje como já foi outrora tem ainda um poder quase sem igual no mundo, circunscrevendo-se num contexto geográfico que lhe permitiu no passado e com a centralização política de muitos dos países que o compõe aceder à todos os mares do mundo na chamada “era dos descobrimentos” e dando assim início a um período igualmente importante na história do mundo mesmo que não tenha sido positivo para a grande partes dos povos que os europeus estiveram em contacto.
O facto é que mudam-se as vontades, muda-se o tempo, mais aquela sede insaciável de poder e de aceder à outros mercados para colocar seus produtos (as diversas transmissões televisas e marcas dos seus produtos) e retirar de lá a matéria-prima ainda existente (jogadores, entre outros) ainda existe.
E, é através da FIFA, uma entidade que se diz global e que representa o futebol a nível mundial que vemos a grande visão estratégica desta acção. Primeiro, a entidade que está sediada na Europa e foi por estes criada não é autónoma (depende em muito da aprovação da UEFA), mesmo com a posição de Presidente sendo rotativa a grande maioria dos seus antigos dirigentes é do continente europeu, provavelmente isto pode influenciar sobremaneira a visão mundial que estes tem do futebol, uma vez que para eles se não se joga da forma como os europeus jogam então não é futebol.
É inconcebível como o único momento de representação da diversidade futebolística mundial acontece simplesmente nos prémios de atribuição dos melhores golos (provavelmente porque os prémios valem tão pouco) “Prémio Puskas”, e o restante da competição desde a apresentação, ao local onde decorre o evento aponta única e exclusivamente para os europeus, é ainda mais impressionante e grave que todos os diferentes organismos de representação regional (CAF, CONCACAF, CONMEBOL, AFC e OFC) do futebol mundial não se rebelam contra isto, e vivem à grande e à boa na sombra e as custas dos diversos mecanismos de apoio dos europeus. Para realçar este ponto e mostrar o domínio europeu sobre os demais, olhemos para a qualificação dos países europeus à Copa do Mundo da FIFA.
É um absurdo e abuso a existência de outros países com alto potencial futebolístico ter que aceitar que a Europa como continente tenha de levar àquela competição 14 selecções (as outras confederações apuram entre 3 à 5), ocupando o espaço que poderia ser usado por outros países e confederações internacionais, sobretudo dos países africanos onde encontramos selecções nacionais fortes, mas que perdem a oportunidade de se exibir ao mais alto nível futebolisticamente por um mero capricho e necessidade de ofuscar e dominar os outros. Por esta razão, para o próximo mundial da Rússia, não teremos selecções como Gana, Camarões, Argélia, etc; só para mencionar algumas.
O artigo leva um título em que nele entram os seguintes sinais de pontuação: um ponto de exclamação e outro de interrogação. Colocamo-los ali porque, primeiro é com espanto acreditar que aqueles prémios representem algo que se aproxima a diversidade futebolística mundial, e, que os seus vencedores são de alguma forma os melhores do mundo, e segundo porque a resposta é óbvia, não. A gala da FIFA não tem absolutamente nada de internacional ou mundial, talvez só as acreditações que se dão aos jornalistas e aos representantes das federações e das organizações regionais de futebol é que tem de internacional o resto é o mesmo e antigo folclore europeu e que tem como o único propósito entreter para dominar e explorar o do outro, só desta forma o outro ainda paga pelo entretenimento relegando o seu para segundo plano.
Por Dúlcio Mazive e Raúl Barata
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