Se Moçambique está a enfrentar com a crise económica e financeira, precipitada pelas dívidas ilegais, os empresários das províncias do epicentro do país sofreram também o impacto directo do conflito político e militar, entre o Governo e o partido Renamo. “Nós fomos afectados pelas duas crises, como aquele país que foi afectado por um terramoto e depois sofreu um tsunami (...) Não podíamos fazer os transportes por causa do conflito e depois o dinheiro na banca ficou quase três vezes mais caro, ainda estamos a viver esse sufoco, ainda não saímos” desabada em entrevista ao @Verdade Ricardo Cunha, o presidente do Conselho Empresarial de Sofala.
O motor da Economia da província de Sofala é o seu corredor logístico, do interland para o mar mas também fazendo a ponte entre o Norte e Sul do nosso país. Depois do recomeço do conflito político e militar, na sequência das eleições Gerais de 2014, e que no seu auge deixou o Centro de certa forma situado pelas forças governamentais e do partido Renamo, a Economia estagnou.
“O nosso ambiente de negócios não está bom, as empresas ainda enfrentam dificuldades porque viemos de uma situação de tensão(política e militar) e apesar de Sua Excia o Presidente da República estabelecer o diálogo bom com o líder da oposição, esse é um diálogo que ainda está dentro dos bastidores. O que hoje estamos a ver é que a arma parou de soar, os camiões estão a circular, e nós que temos trabalho de estrada sempre todos os dias aplaudimos, isso é muito bom”, começou por afirmar Ricardo Cunha que desde meados deste ano lidera a maior agremiação de empresários locais em Sofala.
Na óptica do nosso entrevistado ainda “paira um pouco de incerteza nas pessoas porque ainda não temos a firmeza de quando vamos ter um paz definitiva em Moçambique. Então este espírito e a prevalência da incerteza da decisão e definição total do que vai acontecer sobre a paz está a fazer com que os empresários, alguns que querem investir cá e outros que estão aqui, tenha receio".
“Há pessoas que tem instâncias nos distritos, eu tenho ido a Caia, Inhaminga e noutros sítios, antes de rebentar o conflito aqui eram instâncias boas, mas depois está tudo abandonado, só ficaram lá os trabalhadores que não têm para onde ir. Isso faz com que o ambiente de negócios esteja difícil”, retrata Cunha que é um empresário do ramo da construção civil.
“A dívida que os empresários da Beira tem com a banca é insuportável”
Contudo, de acordo com o presidente do Conselho Empresarial de Sofala, embora “vivemos uma abertura no diálogo, os empresários estão a fazer os seus negócios, mas nós estamos também com o problema de crise económica. Hoje há empresas que já fecharam, outros lutam para manter a empresa aberta, nós que somos empreiteiros o nosso cliente é o Estado. Uma vez o Presidente(da República) disse-nos vocês estão habituados sempre fazer negócios com Estado agora vejam a mama secou, como é que vão sobreviver. Então temos empresários que estão sem trabalho, ainda por cima têm muito dinheiro a receber do Estado e não têm como manter os seus trabalhadores”.
Embora os dados da económicos e estatísticos não mostrem com clareza o impacto directo das duas crise que Sofala enfrenta em simultaneo Ricardo Cunha não tem dúvidas. “Nós fomos afectados pelas duas crises, como aquele país que foi afectado por um terramoto e depois sofreu um tsunami”.
“O impacto é muito negativo para os empresários, quando começamos a investir nos transportes (em 2014/2015) o dólar estava a 30 meticais, o camião custava cerca de 2,4 milhões mas em 2016 o valor tinha triplicado para mais de 6 milhões. A dívida que os empresários da Beira tem com a banca é insuportável” clarificou o líder do sector privado em Sofala.
Recuando no tempo o Cunha recorda-se que “quando a Economia fluía positivamente os bancos é que vinham até nós para emprestar-nos, lembro-me que nunca tinha ido ao banco para investir!! Os banco vieram vender-nos os seus empréstimos pois viam os nossos fluxos de capital. Levamos o crédito com o dólar a 30 meticais e taxas de juros abaixo dos 20% mas mudou tudo, por isso o impacto tem sido muito negativo para os empresários da zona Centro. Não podíamos fazer os transportes por causa do conflito e depois o dinheiro na banca ficou quase três vezes mais caro, ainda estamos a viver esse sufoco, ainda não saímos”.
“Quando o ambiente de negócios estava melhor nós sempre vivemos com dificuldades”
Mas o empresário, que deixou a segurança de um emprego público para se tornar empreendedor, em tempos em que esse termo não estava ainda nos discursos dos políticos, não desanimou e acredita “que as coisas irão melhorar”. Questionado sobre como as crises o tem afectado pessoalmente, Ricardo Cunha usa de um eufemismo.
“Eu lembro-me da fome dos anos oitenta, antes dela sentir-se o meu pai pelos seus recursos só podia dar-nos uma ou duas refeições, por isso eu estava acostumado a fome em relação a aqueles que tinham três ou quatro refeições que foram os que sentiram mais a crise dessa altura”.
“Por isso dia a dia, mesmo quando o ambiente de negócios estava melhor nós sempre vivemos com dificuldades, sempre faltou um mês ou outro de salário, enquanto outros estavam bem nós estávamos à rasca. Quando chegou este momento de tensão e crise financeira nós continuamos a viver normalmente, sempre vivemos em crise”, desabafou o presidente do Conselho Empresarial de Sofala.
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