As declarações de Zófimo Muiuane em tribunal, segundo as quais é inocente e está a ser acusado injustamente de assassinato a tiros da sua esposa Valentina Guebuza, foram desacreditadas e rebatidas pelos peritos da medicina legal que examinaram o corpo da vítima. A conclusão a que eles chagaram, de acordo com os mesmos inabalável e irrefutável, indica que os dois projécteis que tiraram a vida da filha do ex-Presidente da República, Armando Guebuza, na noite de 14 de Dezembro do ano passado, não foram disparados à boca-tocante ou queima-roupa. Significa os disparos “podem ter sido efectuados à curta ou longa distância”.
Por outras palavras, ao contrário do que o réu alegou no tribunal, o relatório dos médios legistas diz que Valentina Guebuza não pode ter disparado contra ela própria, mesmo tratando-se de uma disputa de arma de fogo.
Hilário Joaquim, médico legista, afirmou, em tribunal, sem dúvidas, o seguinte: “com toda a franqueza, não acho que a vítima [Valentina] tenha pressionado o gatilho, ainda mais fazendo dois disparos”.
A mesma posição foi corroborada por Stela Mantsinhe, outra médica legista, que asseverou, tendo em conta as lesões observadas no cadáver da malograda, que “não teria sido possível ela efectuar os dois disparos”. Contudo, a finada apresentava sinais de ter travado uma luta com o seu ofensor.
Hilário Joaquim classificou as contusões de “lesões de defesa. Tinha lesões no dorso das mãos, as unhas acrílicas estavam partidas e tinha lesões nos antebraços”.
Jacinta Silveiro, igualmente médica legista, assegurou que cada um dos tiros atingiu órgãos vitais e teve um impacto maior.
Relativamente ao crime que pesa sobre Zófimo Muiuane, este defendeu-se dizendo que, após a reunião com os padrinhos, ela e a mulher foram ao quarto. De repente, a Valentina desarmou-lhe e quando virou-se para ela, corria perigo de vida. Seguiu-se uma disputa pela arma de fogo e a finada feriu-se mortalmente.
Jacinta Silveiro desvalorizou os argumentos do arguido, afiançando que “dificilmente a vítima continuaria a lutar (...)” depois de ser atingida pelo primeiro tiro. “Quando a vítima recebeu o primeiro tiro”, praticamente “desfaleceu”.
Ela começou por explicar que, no cadáver da Valentina foram observadas os ferimentos produzidos pelos projécteis quando estes impactaram no corpo (...). E tendo em conta os golpes por ela analisados, “dificilmente ela [Valentina] foi socorrida com vida” para o Instituto do Coração (ICOR). “A laceração da veia cava foi grave”, por exemplo, e a vítima sangrou bastante. “Tinha lesões mortais (...)”.
No momento do disparo, ela estava numa posição “de frente à arma de fogo. O primeiro tiro tingiu o quadrante inferior e interno da mama direita, saiu por baixo”. A um centímetro de diferença, a mesma bala fez uma perfuração e saiu pelo abdómen.
No seu trajecto, o disparo “afectou o fígado e a veia vaca, facto que foi agravado ainda mais pelo segundo projéctil, que atingiu o local onde termina a 10a. costela, penetrou, fez o seu trajecto e afectou a 11a. costela – que é flutuante – atravessou o estômago, atingiu o baço” e fê-lo explodir.
“Temos a certeza de que o tipo não foi à boca-tocante”, disse Jacinta Silveiro, explicando que durante a perícia não foram encontrados elementos que permitissem concluir que o disparo foi feito à curta ou longa distância. A roupa que Valentina trajava no dia do assassinato não foi examinada porque só se teve acesso a ela dias depois e já tinha sido muitas vezes manipulada. A mesma foi enviada ao Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) para perícia.
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