É possível uma vida sem água??Já imaginamos a nossa vida sem água? A água é indispensável na nossa vida diária para o consumo humano e para as actividades domésticas como cozinhar, lavar roupa, higiene pessoal. Mas também para a agricultura, a indústria e a produção de energia hidroelétrica. Estudamos nos livros de biologia que 65% do peso do corpo humano é constituído por água e para sobrevivermos temos que beber diariamente pelo me- nos entre 1,5 a 2 litros de água. Portanto, é óbvio que sem água a vida não seria possível.
Mas quantas pessoas no mundo sofrem por falta de água! No nosso planeta, quase 750 milhões de pessoas têm dificuldades em obter água adequada para o consumo, de acordo com um levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A falta de acesso à água também pode ser trágica, porque quase 1000 crianças morrem todos os dias por complicações da diarreia, ligadas à falta de água potável.
Em Moçambique, mais da metade da população não tem acesso à água potável, colocando o nosso país entre um dos piores a nível mundial. As estatísticas mostram que apenas 49% da população tem acesso à água potável. As zonas urbanas são as mais favorecidas, com 80%, enquanto as rurais, onde vive a maior parte da população, têm apenas 35% de cobertura (Fonte: Unicef, 2014).
Para ter uma ideia mais clara sobre o acesso à água na nossa vila sede, a redacção de “Pa Kwecha” pediu informações ao SDPI (Ser- viço Distrital de Planeamento e Infra-estrutura) de Chemba. A nível da vila, existem 4 bombas manuais (njigo), cuja água é salgada e das quais duas estão avariadas; 7 fontanárias com duas bicas cada, das quais uma avaria- da. Além disso, a partir do final do ano 2016, começou a construção dum projecto denominado “Madzi a Chemba” que fornece actualmante água canalizada a 171 núcleos familiares e ao Centro de Saúde. Os custos de ligação são feitos com base no pagamento dum contracto equivalente a 3000 mt para clientes domésticos e 6000 mt para instituições.
O custo mensal, regulado por um contador, é de 18 mt por metro cúbico (1000 litros. Isto é 0,018 mt por litro). É de salientar que a água é puxada do Ntunga, uma lagoa - cuja água não é corrente - alimentada pelo rio Zambeze. Está sendo elaborado um projecto pela Cáritas (instituição da Igreja Católica) para a construção duma torre com 2 tanques de 10.000 litros cada, no bairro n°4 da vila e que iria beneficiar também o bairro n°2. Este projecto será patrocinado pela Cáritas Alemã e se prevê que a gestão e a manutenção serão feitas através dum comité, a partir duma pequena contribuição mensal dos utentes.
Na nossa reportagem, entrevistámos muitos habitantes da vila sede, perguntando como abastecem água para sua casa. Na conversa, escutávamos sempre o mesmo refrão: «Eh, madzi ndi nyatwa muno!», que traduzido em português resulta: «A água é sofrimento aqui!». Vamos ver as razões. Os beneficiários da água canalizada em casa – além de queixar-se porquê a água é distribuída com irregularidade e só poucas horas por dia – representam uma pequena minoria em relação ao universo dos habitantes da vila.
Isto significa que a grande maio- ria tem que procurar água nas fontanárias, pagando um valor de 2 mt por cada botija de 20 litros. Outra alternativa é aproximar-se ao vizinho que tem água canalizada. Apesar do contracto com a empresa “Madzi a Chemba” ser individual e ser proibida a venda, a água é vendida como for- ma de ajuda, sendo que é sabida a dificuldade de acesso hídrico, a um valor de 2,5 mt por cada botija de 20 litros, isto é, 0,125 mt por litro.
Vamos fazer um pouco de matemática. Como já vimos, o utente de “Madzi a Chemba” paga a água 0,018 mt por litro. Dividindo 0,125 com 0,018, se obtém que a água é vendida ao vizinho a um preço quase 7 vezes mais. Pensamos agora ao caso mais comum de um agregado familiar em Chemba: oito pessoas (pai, mãe e seis filhos), sem nenhuma renda porque camponeses. Pensamos a quantas botijas podem se gastar por dia: tomar banho (4 botijas); beber, cozinhar e lavar pratos (3 botijas). Total: 17,5 mt. Multiplicado por 30, faz 525 mt por mês.
Pensamos também que uma vez por semana, mamã tem que recolher toda a roupa para lavar. Nesta família, mamã tem que proibir de tomar banho duas vezes por dia, pois o custo subiria. Não tem como. É assim que explicamos como a grande maioria dos habitantes de Chemba continua a procurar água no rio Zambeze, mesmo sabendo o risco enorme dos crocodilos.
Não esquecemos que no tempo chuvoso, entre os meses de Novembro do ano passado e Março deste ano, não passavam dez dias sem que uma pessoa fosse atacada ou morta pelos crocodilos.
Sabemos que existe o projecto de construção das duas barragens Chemba I e Chemba II sobre o rio Zambeze, orçamentado em 2,55 biliões de dólares (Orçamento do Estado 2015 e Pa Kwecha n°3). Não seria talvez melhor que antes deste megaprojecto, se pense ao sofrimento diário do povo? Os habitantes de Chemba estão a espera duma resposta.
Por Pa Kwecha
Distrito de Chemba, província de Sofala
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