Passaram nesta terça-feira (05) dois meses em que o jornalista da Rádio Comunitária Nacedje e colaborador da Zitamar News, Amade Abubacar, está privado de liberdade, em Cabo Delgado, acusado de “instigação pública com recurso a meios informáticos”. A Amnistia Internacional (AI) revelou que o jornalista está a passar por maus-tratos, perante a insensibilidade das autoridades judiciais e governamentais.
Amade Abubacar foi preso por entrevistar e fotografar populares que chegavam à vila de Macomia, à procura de refúgio na sequência dos ataques perpetrados por grupos armados, desde 05 de Outubro de 2017. Ele já esteve detido num quartel militar em Mueda, sem contacto com a família.
O Ministério Público (MP) indicia o jornalista de espionagem a favor de grupos terroristas que semeiam terror em Cabo Delgado.
Nas redes sociais multiplicam-se os apelos para que as autoridades judiciais e governamentais libertem a vítima. Porém, até aqui, os esforços têm caído em saco roto.
No dia em que ele completou 60 dias nos calabouços, a AI revelou ter apurado que o estado do jornalista se “deteriorou rapidamente” desde a sua detenção.
Amade Abubacar encontra-se em “péssimas condições de detenção”, por isso, urge a sua “libertação imediata e incondicional. Ele está a definhar na prisão simplesmente por fazer o seu trabalho” e expor o sofrimento que aflige civis por conta dos “ataques mortíferos em Cabo Delgado”.
A organização que luta para pôr termo aos abusos contra os direitos humanos manifestou ainda preocupação “com a possibilidade de Amade necessitar de cuidados médicos urgentes e não estar” a recebê-los adequadamente.
O diretor regional da AI para a África Austral, Deprose Muchena, afirmou temer que a saúde do jornalista seja crítica e a sua vida esteja em risco.
Aliás, em Janeiro deste ano, a Ordem dos Advogados de Moçambique (AOM) disse, após visitar a vítima, que esta confirmou ter pernoitado algemado, algumas vezes.
Ademais, o @Verdade sabe que o jornalista estava deveras esfomeado no dia em que foi apresentado ao juiz que legalizou a sua detenção. Para realizar a audiência, o magistrado mandou comprar comida e água para a recomposição do acusado.
Na sua acusação, o MP alega que descobriu, na posse do indiciado, uma suposta lista contendo “nomes de jovens” que colaboram “com o Al-Shabab”, grupo que alegadamente promove violência em Cabo Delgado.
O jornalista não “foi capaz de explicar com clareza os motivos pelos quais” detinha a referida relação nominal.
Para o MISA-Moçambique, esta acusação não tem cabimento e só pode ser ensaiada por quem não sabe que “a actividade jornalística é liberal” e qualquer profissional como Amade “deve possuir o seu arquivo de informação”, conforme recomendam as normas da área.
Por conta da pretensa lista de jovens integrantes do grupo armado que tem semeado terror em vários distritos de Cabo de Delgado, o MP acredita que o jornalista é espião e está “envolvido na prática de crimes de violação do segredo do Estado por meios informáticos e instigação pública a um crime com uso de meios informáticos”.
Refira-se que a Rádio Comunitária Nacedje é propriedade do Instituto de Comunicação Social (ICS), uma instituição do Estado. Todavia, o MP diz que, no momento da detenção, Amade Abubacar trabalhava “sem o conhecimento do seu superior hierárquico”, o que constitui “mais um motivo forte de estar envolvido na prática do crime de que é acusado”.
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