Cinco dias após o Ciclone tropical IDAI dissipar-se milhares de moçambicanos continuam sitiados nos tectos de casas e em copas de árvores no Centro de Moçambique onde as Bacias do Búzi e Púnguè estão inundadas. Os meteorologistas prevêem que as chuvas fortes, rajadas de ventos e trovoadas severas vão continuar, pelo menos até quinta-feira (21), e sugerem “rezar para que nenhum sistema de baixa pressão se formar”, pois as condições no Canal de Moçambique continuam propícias para mais chuvas intensas. Reunido na destruída cidade da Beira o Conselho de Ministros declarou Emergência Nacional, pela primeira vez na nossa História, e Luto por um período de 3 dias. Existem 202 óbitos confirmados.
O Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) não tem registos precisos de quanta chuva caiu nas últimas 24 horas em Sofala nem a Direcção Nacional de Recursos Hídricos sabe o nível exacto de inundação nas Bacias do Búzi e Púngué devido aos danos causados pelo Ciclone IDAI nas suas infra-estruturas contudo é facto que continua a chover muito no Centro de Moçambique, pelo menos 75 milímetros de precipitação em 24 horas, os rios e seus afluentes desde sábado que estão em situação de cheias que poderá estender-se a Bacia do Save, na Vila Franca do Save.
A polícia lacustre e fluvial na província de Manica recolheu 11 cadáveres desde domingo no rio Lucite, no posto Administrativo de Dombe, no distrito de Sussendenga e resgatou de árvores e do tectos de habituações mais de 300 cidadãos.
“A água estava a terminar no pátio quando falei para a minha senhora leva as crianças e sai com vovó para a estrada, depois tivemos de subir árvore onde ficamos quase 6 dias. Muitas pessoas morreram, outros já estavam a largar a árvore por causa de frio”, relatou um dos sobrevivente visivelmente faminto mas aliviado com a chegada das equipas de resgate que estão a ser apoiadas por experientes nadadores e salva-vidas da África do Sul.
Uma avaliação aérea feita pelas autoridades humanitárias mostra um raio de 50 quilómetros da província de Sofala debaixo de água, em várias zonas a profundidade ultrapassa os 6 metros.
A barragem de Chicamba, que descarrega as suas águas para as bacias do Búzi e do Púnguè, estava com um enchimento de 70 por cento na manhã desta terça-feira (19) no entanto desconhece-se a qualidade de água que estará a vir do Zimbabwe onde as estações hidrológicas foram danificadas pelas cheias. Se uma quantidade de água acima do normal vier do país vizinho a Barragem poderá ter de iniciar descargas de emergência que deverão agravar a já dramática situação de centenas de milhares de moçambicanos sitiados.
“Vamos rezar para que nenhum sistema de baixa pressão se formar”
O INAM prevê a continuação de ocorrência de chuvas fortes (acima de 50 milímetros em 24 horas), localmente muito fortes (mais de 75 milímetros em 24 horas), ventos com rajadas e trovoadas severas, até quinta-feira (21) em todos os distritos das províncias de Sofala, Manica, Zambézia e nos distritos de Cuamba, Metarica, Mecanhelas, Mandimba, Chimbunila e Lago (na Província do Niassa).
O meteorologista Acácio Tembe chamou atenção para o facto de embora o ciclone tropical já se tenha dissipado, na sexta-feira (15), “temos uma zona de baixa pressão nas províncias de Sofala e de Manica que está a persistir e está estacionário e faz com que tenhamos muita quantidade de chuva principalmente nessas duas províncias”.
“A época chuvosa nominalmente termina a 31 de Março mas se olharmos para os fenómenos que estão a acontecer todos eles começaram mais tarde, em relação as outras épocas, então podemos ter alguma precipitação nos primeiros dias de Abril. Temos de continuar a monitorar porque as águas no Canal de Moçambique estão acima de 30 graus e qualquer sistema de baixa pressão que entrar na Região Centro vai desenvolver-se e poderá de novo criar chuvas, então vamos rezar para que nenhum sistema de baixa pressão se formar”, acrescentou Tembe.
“Emergência Nacional na República de Moçambique”, há confirmação de mais de 200 óbitos
Na destruída capital da província de Sofala os beirenses tentam retomar a vida limpando o que restou das suas habitações numa cidade onde não há água potável, não há electricidade, falta comida e todos outros produtos de primeira necessidade.
“Nós ouvimos o aviso do ciclone mas não acreditamos que fosse tão forte”, lamentou Aquino, sexagenário que não tem memória de outra calamidade similar no Chiveve, “no ano 2000 não foi nada disto” recordou o reformado que ainda está a tentar contactar todos os seus familiares na Beira e lhe foi indiferente a presença de todo o Conselho de Ministros e do próprio Presidente Filipe Nyusi.
Após várias horas de reunião, nas instalações dos Caminhos de Ferro, o Chefe de Estado anunciou, pela primeira vez desde que Moçambique existe: “Porque a situação está grave o Governo vai decretar a Emergência Nacional na República de Moçambique”.
“Pela informação que nos foi fornecida aqui, neste contexto de mortes confirmadas, aquilo que nos foi dito e com tendências a crescer, vínhamos aqui com 84 mas depois no terreno fomos vendo que estamos já nos duzentos e tal, e não só, mas também dos 350 mil cidadãos que se encontram em situação de risco e ainda das severas destruições devido a esta tragédia então o Conselho de Ministro decide decretar Luto Nacional na República de Moçambique por um período de 3 dias com início nas próximas zero horas”, acrescentou o Presidente Filipe Nyusi.
A directora do INGC precisou ao @Verdade que com “as actualizações de Dondo, Nhamatanda e Manica” existem 202 óbitos confirmados, elevando para 268 o números de vítimas mortais desde o início da época chuvosa em Moçambique.
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