A crise económica e financeira que Moçambique enfrenta, precipitada pela descoberta das dívidas ilegais, aumentou a pobreza segundo um estudo do Instituto para Pesquisa sobre Desenvolvimento Económico da Universidade das Nações Unidas (UNU – WIDER). “Estimamos que o custo de compra da cesta básica refletidas nas linhas de pobreza pode ter aumentado entre 55 por cento e 70 por cento entre 2014/15 e Dezembro de 2016, superando a inflação registada no período. Esse aumento atingiu todas as áreas do país”.
Tendo como referência a 4ª Avaliação Nacional da Pobreza, baseada nos dados do Inquérito aos Agregados Familiares sobre Orçamento Familiar (IOF) 2014/15, que mostrou que a incidência da pobreza reduzira de 54,7 por cento em 2008 para 49,2 por cento da população moçambicana os académicos do UNU-WIDER analisaram que impacto a crise económica que Moçambique vive desde a desde a descoberta dos empréstimos ilegais das empresas Proindicus e MAM teve.
“A crise económica pode ter revertido essa tendência positiva e pode ter levado muitas famílias a um estado de pobreza. De facto, é mais provável que o maior efeito da crise económica em grande parte da população tenha sido o aumento dos preços dos bens importados, devido à rápida e significativa desvalorização da moeda nacional, que fez os preços internos subirem em 30 a 40 pontos percentuais entre Agosto de 2014 e Dezembro de 2016”, indica o documento tornado público na semana passada.
Os académicos do UNU-WIDER corroboraram as constatações que o @Verdade, analisando os Índices de Preços no Consumidor compilados pelo Instituto Nacional de Estatística, revelou. Em Outubro de 2016 o preço da comida, grande parte importada, tinha aumentado 46,56 por cento, comparando a Dezembro de 2015. “Os preços dos alimentos, especialmente os de alimentos básicos, aumentaram muito mais do que os preços não alimentares, o que pode ter afetado desproporcionalmente as famílias mais pobres e mais vulneráveis”, pode-se ler no estudo.
“Estimamos que o custo de compra da cesta básica refletidas nas linhas de pobreza pode ter aumentado entre 55 por cento e 70 por cento entre 2014/15 e Dezembro de 2016, superando a inflação registada no período. Esse aumento atingiu todas as áreas do país”, referem os académicos do Instituto para Pesquisa sobre Desenvolvimento Económico da Universidade das Nações Unidas que em Moçambique trabalham em estreita colaboração com o Governo.
Aumento da pobreza foi maior nas províncias de Cabo Delgado, Tete e Manica
Ademais o estudo indica que “os nossos resultados derivados de três simulações alternativas mostram que um grande número de domicílios que, nos níveis de preços experimentados em 2014/15, conseguiram comprar ou produzir para consumo próprio uma cesta básica de cerca de 2.150 quilocalorias por pessoa por dia e adquirir um conjunto de 13 itens básicos não alimentares, pode não fazer o mesmo ao enfrentar os níveis de preços em vigor em 2016, particularmente nos últimos meses do ano. Estimamos que a taxa de pobreza ao nível nacional pode ter aumentado para 55 por cento a 60 por cento da população, de 46,1 por cento em 2014/15”.
“O aumento pode ser estimado em aproximadamente 8 pontos percentuais para áreas rurais e cerca de 10 pontos percentuais para áreas urbanas, com um aumento provincial entre 6 e 15 pontos percentuais, com Cabo Delgado, Tete e Manica sendo as províncias onde o aumento da pobreza foram maiores”, pode-se ler no estudo da UNU-WIDER que considerou ainda que “As estimativas do impacto do aumento dos preços nas taxas de pobreza são ligeiramente menores quando se considera que um aumento nos salários aumenta os salários mínimos - em média, 6 por cento ao ano -, mas não é qualitativamente diferente”.
Os académicos do Instituto para Pesquisa sobre Desenvolvimento Económico da Universidade das Nações Unidas concluiram desejando que: “Os resultados deste estudo podem informar os formuladores de políticas sobre possíveis medidas de mitigação para os efeitos de aumentos súbitos de preços, mas também sobre os impactos microeconómicos das decisões macroeconómicas que afetam a confiança de organizações internacionais e parceiros de desenvolvimento na economia e nas instituições do país”.
A julgar pelos discursos do Governo do partido Frelimo, que primeiro prometeu que os moçambicanos não seriam afectados pela crise das dívidas ilegais e que agora apregoa “não devemos esperar eternamente que os amigos nos ajudem, nas palavras do Presidente Filipe Nyusi no passado sábado (13) no Distrito de Chimbonila, é muito provável que o desejo dos académicos da UNU-WIDER seja ignorado.
Aliás é importante não esquecer que embora a incidência percentual da pobreza tenha diminuído até 2015, o número de pobres na verdade aumentou de 9,7 milhões em 2003 para 11,8 milhões de moçambicanos. Quer isto dizer que em termos absolutos existirão, por causa das dívidas ilegais, ainda mais cidadãos pobres em Moçambique.
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