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domingo, 8 de setembro de 2019

Francisco diz a Igreja de Moçambique que a sua vocação não é converter pessoas ao ...

O clero moçambicano que reuniu com o Papa Francisco na Catedral da Imaculada Conceição, na Cidade de Maputo, confrontou-o com “o desafio do duplo culto e da propagação das seitas neopentecostais que surgem com mensagens simplistas e populistas” e questionaram o foco político e social do diálogo inter-religioso. O Santo Padre disse à Igreja de Moçambique que a sua vocação “é evangelizar” e não converter pessoas ao catolicismo.

Enfrentando uma das piores crises nos vários séculos em que está em Moçambique representantes do clero nacional confrontaram, na passada quinta-feira (05), o Sumo Pontífice com os desafios que a Igreja de Cristo enfrenta na “Pérola do Índico”.

“Vivemos o nosso sacerdócio e a nossa missão cercados de muitas dificuldades e até adversidades tais a insuficiência do número de sacerdotes para atender as necessidades de todo o povo de Deus, a exiguidade de meios para realizar as nossas actividades, a problemática de uma evangelização um tanto a quanto superficial, a problemática da inculturação da fé, o desafio do duplo culto e da propagação das seitas neopentecostais que surgem com mensagens simplistas e populistas, bem como as mudanças vindas das novas tecnologias dos meios de comunicação social”, afirmou o representante dos sacerdotes moçambicanos em mensagem lida para o Papa.

Mais objectivo o representante dos catequistas nacionais disse: “Aflige-nos muito Santo Padre constatar que os casamentos de mista religião, particularmente entre católicos e muçulmanos, que antes eram completamente inquestionáveis, hoje enfrentam muitas dificuldades por causa de um certo extremismo religioso que obriga sempre a parte católica a converter-se a outra religião. Como podemos enfrentar essa situação quando o diálogo inter-religioso está mais orientado para questões políticas e sociais que propriamente para a sã convivência de uns com os outros”.

“Aflige-nos ver que não temos avançado muito no esforço da inculturação da fé, pois ainda há muitos valores das nossas culturas que são excluídos deixando estranhamente espaço a contra valores dos povos ricos que invadem continuamente a nossa sociedade através das novas tecnologias e meios de comunicação social? Santo Padre como ser desta forma verdadeiramente cristão e verdadeiramente africano quando tendencialmente não se respeitam as nossas culturas e somos sempre questionados no momento de expressar a nossa fé cristã de uma maneira genuinamente africana?”, questionou ainda o representante dos catequistas moçambicanos.

“Voltar a Nazaré pode ser o caminho para enfrentar a crise de identidade”

O Chefe da Igreja Católica, falando em portunhol, começou chamar os seus pares à Terra: “Queridos irmãos e irmãs, gostemos ou não, somos chamados a encarar a realidade como ela é. Os tempos mudam e devemos reconhecer que muitas vezes não sabemos como inserir-nos nos novos cenários; podemos sonhar com as cebolas do Egipto, esquecendo que a Terra Prometida está à frente, não atrás, e neste lamento pelos tempos passados, vamo-nos petrificando. Nos vamos momificando”.

“No es boa cosa, un bispo, un sacerdote, una hermana, un catequista momificado, no es bom. Em vez de professar uma boa nova, o que anunciamos é algo cinzento que não atrai nem inflama o coração de ninguém. Esta es la tentación”, disse o Papa Francisco citando o evangelista Lucas para responder às dúvidas do clero moçambicano.

O Santo Padre chamou os bispos, catequistas, consagrados e seminaristas moçambicanos a cultivar e fomentar: “Perante a crise de identidade sacerdotal, talvez tenhamos que sair dos lugares importantes e solenes, temos de voltar aos lugares onde fomos chamados, onde era evidente que a iniciativa e o poder eram de Deus. Ninguém de nosotros ha sido llamado para un puesto importante. Ninguno. Às vezes sem querer, sem culpa moral, habituamo-nos a identificar a nossa atividade quotidiana de sacerdotes, religiosos, consagrados, laicos catequistas com certos ritos, com reuniões e colóquios, onde o lugar que ocupamos na reunião, na mesa ou na aula é de hierarquia; parecemo-nos mais com Zacarias do que com Maria”.

“Irmão e irmãs, voltar a Nazaré, voltar a Galilea. Voltar a Nazaré pode ser o caminho para enfrentar a crise de identidade, Jesús llama para resurrección voltar a Galilea para encontrar-lhes. Voltar a Nazaré, a prima llamada, voltar a Galilea para resolver a crise de identidade, para nos renovarmos como pastores-discípulos-missionários”, recomendou o 266º Papa da Igreja Católica.

“La vocación de la Iglesia es evangelizar, no hacer proselitismo”

Sobre os casamentos de mista religião e a exclusão da cultura africana na Igreja em detrimento dos valores ocidentais o Papa Francisco esclareceu: “um matrimónio inter-religioso desafia-nos quanto a esta tendência persistente que temos para a fragmentação, para separar em vez de unir. E o mesmo se passa com o vínculo entre nacionalidades, entre raças, entre os do norte e os do sul, entre comunidades, sacerdotes e bispos. É desafio porque, até se desenvolver uma cultura do encontro numa harmonia pluriforme, requer-se um processo constante no qual cada nova geração está envolvida. É um trabalho lento e árduo que exige querer integrar-se e aprender a fazê-lo. É o requisito necessário para a «construção de um povo em paz, justiça e fraternidade, para o desenvolvimento da convivência social e a construção de um povo onde as diferenças se harmonizam dentro de um projeto comum”.

Relativamente ao foco do diálogo inter-religioso o Pontífice argentino declarou que: “a Igreja de Moçambique é convidada a ser a Igreja da Visitação; não pode ser parte do problema das competências, menosprezos e divisões de uns contra os outros, mas porta de solução, espaço onde sejam possíveis o respeito, o intercâmbio e o diálogo”.

“Vuestra vocación es evangelizar. La vocación de la Iglesia es evangelizar, a identidade da Igreja é evangelizar, no fazer proselitismo. Proselitismo no é evangelização, proselitismo no é cristão. Nuestra vocación é evangelizar, a identidad de Igreja é evangelizar”, deixou claro o Chefe da Igreja Católica recordando aos membros do clero moçambicano o compromisso baptismal de cada um.



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