Moçambique cumpriu mais um ritual democrático nesta terça-feira (15), fazendo fé nas promessas dos políticos o futuro será diferente para melhor. Mas para três raparigas que não fazem parte dos 13,1 milhões de eleitores inscritos o presente é mais urgente. Vivem num passeio a poucos metros de onde são guardados os milhões de dólares das mais-valias sem saberem o que vão comer e representam a maioria das jovens moçambicanas: uma é mãe abandonada pelo pai dos seus filhos, outra padece de tuberculose e é seropositiva enquanto a terceira aguarda por um marido que foi ganhar dinheiro para lhe dar um tecto.
A mais crescida tem 32 anos de idade, encontrou na avenida Samora Machel o poiso temporário para criar um rapaz de 3 anos de idade, “eu estava no lar, depois zangou com o meu marido, o pai deste aqui”. É o seu sétimo filho, “morreu cinco, fiquei com dois, o outro está com tia” explicou ao @Verdade a jovem que embora resida em Maputo não está a beneficiar da redução que a mortalidade infantil registou de 93,6 por cento em 2007 para 67,3 por cento em 2017.
A viver há mais de uma semana no passeio frontal de um dos muitos estabelecimentos comerciais encerrados, aparentemente em resultado da crise económica e financeira que Moçambique vive desde 2016, está outra jovem que não foi votar embora entre os seus parcos pertences tenha um lenço do partido Frelimo. Contou ao @Verdade que não foi votar porque não se recenseou e vive na rua desde que a avó com quem residia faleceu e outros parentes a expulsaram da habitação no Distrito Urbano de Katembe.
O mesmo passeio, próximo ao megalómano edifício do Banco de Moçambique que custou pelo menos 300 milhões de dólares, é ainda alojamento de uma terceira jovem, de 33 anos de idade, que também não foi votar porque está doente. Deitada sobre uma capulana com a cara do candidato do partido Frelimo disse ao @Verdade que tem "uma tosse que não pára", magra e visivelmente fraca tem sinais evidentes de uma tuberculose.
Além do passeio como lar, acreditam elas temporário, e do não exercício do direito cívico de votar as jovens raparigas partilham uma escolaridade básica, a falta de emprego e o desamparo familiar que teve numa união matrimonial a esperança de sair da pobreza.
Nas promessas dos candidatos presidenciais nada indicia que, quem quer que vença a eleição, tenham soluções objectivas para romper o ciclo da pobreza em que estão mergulhadas não apenas para estas raparigas mas as dezenas de milhões de moçambicanos que vivem na pobreza.
Quiçá mais democrático seria encontrar forma de distribuir os biliões gastos em eleições injustas e no circo das campanhas eleitorais pelos moçambicanos que não tem tecto nem sabem o que vão comer nesta quarta-feira (16).
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