Quiçá para sinalizar que as portas do mundo financeiro estão a reabrir-se o Presidente Filipe Nyusi participou, entre domingo (19) e terça-feira (21), na 1ª Cimeira Reino Unido – África, no país onde as dívidas ilegais foram contraídas. Embora tenha convidado “os britânicos para investir em Moçambique” a primeira viagem do seu 2º mandato revelou-se pouco produtiva, só 64 milhões de libras em investimentos foram assegurados. A verdade é o Reino Unido não tem sido um grande parceiro comercial do nosso país.
“Os bens, a riqueza que existe em Moçambique, têm de beneficiar em primeiro lugar o nacional moçambicano. Mas para tal estamos a mobilizar os investimentos estrangeiros para poderem vir operar a Moçambique. Estou aqui neste país, e aproveito para convidar os britânicos para investir em Moçambique”, afirmou Nyusi nesta segunda-feira (20) discursando em Londres.
Um dos 16 chefes de Estado que aceitaram o convite do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o Presidente de Moçambique explicou a plateia de investidores que o nosso país “ainda é virgem em termos de riqueza. Tem o subsolo rico em minerais, tem o solo, que dá para fazer todo o tipo de agricultura. O mais fácil é dizer o que não se faz, porque produz-se tudo. Mas Moçambique também tem o mar, tem lagos. Moçambique tem muitas fontes de energia: solar, eólica, hídrica, carvão, gás, etc. Mas o principal que existe em Moçambique é o capital humano”.
Nyusi reconheceu os desafios da paz que o país enfrenta, “o país tem de estar estável do ponto de vista de segurança, porque todos os investimentos só podem ser realizáveis num país seguro, onde as pessoas se sentem à vontade, onde se pode investir e esses investimentos podem progredir”.
Contudo o Presidente da República parece não ter convencido aos ingleses pois dos 6,5 biliões de libras estrelinas em acordos comerciais rubricados com os 21 países africanos presentes Moçambique assegurou apenas 64 milhões de libras: investimento até 22 milhões num novo programa para aumentar o acesso à energia doméstica e comercial, 2 milhões para aumentar o empoderamento económico das mulheres, e até 40 milhões para incrementar o apoio ao sector agrícola nos próximos cinco anos.
A perder Investimento Directo Estrangeiro (IDE) há cinco anos consecutivos a verdade é que o Reino Unido não tem sido um grande investidor nem parceiro comercial de Moçambique. Em 2014 os investimentos provenientes deste país europeus foram de pouco mais de 62 milhões de dólares, reduziram para 45 milhões em 2015, caíram para 25,5 milhões em 2016, cresceram em 2017 para 45,5 milhões mas em 2018 regrediram novamente para apenas 20,3 milhões de dólares norte-americanos.
Reino Unido quer exportar mas Moçambique pretende diminuir importações
O @Verdade apurou que uma das razões deste parco investimento do Reino Unido em Moçambique deve-se ao facto das empresas britânicas não estarem envolvidas directamente nos megaprograjectos, são provedoras de serviços a muitos dos grandes projectos de carvão e gás natural, e outras usam artífices contabilísticos e paraísos fiscais para movimentarem as suas libras, casos da Gemfields, Standard Bank, Vodacom, Barclays, British American Tobacco, TechnipFMC ou da BP.
Em termos comerciais Moçambique importa principalmente bulldozers, maquinaria pesada, camiões, tractores e óleos de petróleo tendo em 2018 gasto 52,6 milhões de dólares, um aumento relativamente aos 36 milhões de 2017.
O Reino Unido importa do nosso país alumínio e alguns dos seus derivados. Em 2018 começou a comprar açúcar moçambicano e as trocas ascenderam a 228 milhões de dólares, comparativamente aos 210 do ano anterior.
Contudo mais do que aumentar as suas importações de África o objectivo do Reino Unido nesta 1ª Cimeira era posicionar-se melhor para vender os seus produtos ao cada vez maior mercado africano, tendo em conta que está a sair da União Europeia e precisa de estabelecer novos acordos comerciais.
Aliás a promessa do primeiro-ministro britânico, durante o discurso de boas vindas, que os “bifes das vacas do Uganda terão um lugar de honra nas mesas do Reino Unido pós-Brexit” e que “as famílias de Angola em breve irão comer deliciosos frango saudáveis da Irlanda do Norte”, não deve ter agradado o Presidente Filipe Nyusi que durante o seu 2º mandato pretende que a agricultura enfim dê certo em Moçambique com “carne nacional e rendas para os camponeses”.
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