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segunda-feira, 2 de março de 2020

SELO: Era da geração androide: uma tendência universalizada – por Basílio Macaringue

Muitos pensadores dedicaram seu tempo procurando conceitos para apelidar a era que actualmente se vive. De entre esses conceitos encontramos: era das consequências da modernidade, pós-modernidade, era do vazio, sociedade líquida, sociedade de risco, hiper-modernidade, era do individualismo, etc.

No entanto, em Sociologia, Antropologia, Filosofia, etc. defende-se que trata-se de um estilo de vida proveniente da revolução industrial, iniciado no século XVIII, no ocidente.

A partir daí grandes e sucessivas mudanças foram se verificando em diferentes campos da ciência e técnica, o que forneceu novos elementos para uma nova releitura das sociedades. Nesse contexto, a emergência da sociedade moderna foi acompanhada por mudanças ao nível dos padrões de acção social, onde as pessoas vão se afastando das crenças tradicionais, no tabu e em hábitos enraizados. No lugar disso, elas passam a se envolver cada vez mais em cálculos racionais que levam em consideração a eficiência e consequente satisfação.

Face a esse cenário de globalização e respectiva nova concepção de sociedade, urge a necessidade de se reflectir acerca da identidade do novo sujeito, inserido num contexto em que as mudanças são bastante rápidas e constantes. Disto veio a nascer um novo conceito: era da geração androide.

Os escritos científicos definem androide como sendo um sistema operacional baseado em Linux que opera em celulares (smartphones), netbooks e tablets, que tem como função gerenciar todos os processos dos aplicativos e do Hardware de um computador para que funcionem perfeitamente.

Desta feita, notavelmente, existe uma base de dependência entre os processos dos aplicativos e do Hardware de um computador para com o sistema androide. Essa base, no entanto, é o próprio sistema. Sem ele, esses aparelhos se tornam inúteis, descartáveis…

Literalmente, a geração actual depende sobremaneira dos telemóveis e computadores não só para se manter em conexão permanente e eficiente com o mundo ao redor, como também para organizar a sua vida individual e colectiva, através de programas como alarme, calendário, agenda, lembrete, previsão de tempo, incluindo chamadas e mensagens.

Paralelamente a isso, conforme refere Martin Heidegger, a técnica em si não oferece nenhuma questão espiritual: ela opera e não opera, funciona e não funciona. Portanto, um facto questionável, nesse cenário, é que o Homem largou “totalmente” o controlo da vida com base nas suas próprias capacidades, mantendo-se refém da tecnologia e, assim sendo, passou a ser por ela dirigido.

Adicionalmente, as sociedades dominantes transmitem suas civilizações às sociedades dominadas, através das Revistas, TV's, Redes Sociais, etc. Por via disso, as gerações mais novas das sociedades dominadas problematizam os seus costumes e as suas crenças tradicionais em detrimento da cultura transmitida pela sociedade dominante.

Nesse caso, desde a entrada da modernidade as sociedades "mais" tradicionais vêm assistindo incessantemente o enfraquecimento da sua própria coesão social em detrimento do conflito cultural entre gerações de épocas e?ou contextos sociais com normas e princípios antagónicos, e acentuada perda de poder das instituições sociais tradicionais (família e igreja) em detrimento das modernas (TV's, redes sociais, escola, etc.). Nesse sentido, actualmente as sociedades vivem em estado de permanente conflituada, numa perspectiva em que os grupos que reúnem características peculiares consideravelmente semelhantes tendem a afirmarem-se pela coesão e, por sua vez, segmentando-se e unificando-se.

Nesse contexto, o conflito social é um facto característico das sociedades contemporâneas, dinamizada fundamentalmente pelo sistema androide, acreditado como vínculo que mais impulsiona a circulação da informação. Por um lado, com a entrada desse novo estilo de vida muitos princípios e muitas normas que levam à coesão social entraram em forte declínio, em detrimento do individualismo e do modernismo. Por conta disso, hoje em dia as instruções da vida são transmitidas e adquiridas via "androide" ou mesmo TV, predominando, assim, nas famílias, sobretudo das zonas urbanas e suburbanas, as relações disfuncionais, centradas no conflito em detrimento da coesão.

Por outro lado, os desempenhos dos actores sociais muitas vezes não coincidem com as expectativas normativas agregadas aos papéis. Dito doutro jeito, a forma como age a geração actual, androide, pode implicar tanto os desvios como as conformidades.

Quando isso implicar um desvio, importa destacar, o desviado não é necessariamente a geração, mas sim as perspectivas geradas durante os encontros sociais, as expectativas normativas agregadas aos papéis em virtude das normas que normalmente actuam sobre o encontro. Nesse caso, o desvio não implica sempre uma ruptura com a ordem social, mas muitas vezes a condição de possibilidade de existência dessa nova ordem social.

Importa referir, no entanto, que enquanto a família, a classe social e, as vezes, a religião são factores de diferenciação dos indivíduos, a escola, a televisão e as redes sociais funcionam como factores de unificação, difundindo os valores e as normas que se pretende que sejam comuns a todos, numa perspectiva global.

Assim, conforme Giddens, quanto mais sabemos acerca das razões pelas quais agimos como agimos e como tudo funciona, de modo geral a nossa sociedade, tanto mais provável é que sejamos capazes de influenciar o nosso futuro.

Portanto, é imperioso que se resgate o capital social por meio da educação informal visando moldar continuamente o Homem, tornando-o, deste modo, um ser útil à sociedade na qual se encontra inserido. Esta educação vai permitir manter coesão social aliada a homogeneização de princípios, valores e virtudes socialmente desejáveis. De igual modo, é fundamental que se mantenha laços familiares saudáveis, onde as conversas construtivas se tornam o principal denominador comum dos encontros entre as pessoas.



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