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segunda-feira, 23 de julho de 2018

SELo: A crise de relações familiares - Por Basílio Macaringue

A Família constitui “um” centro de aprendizagem e construção de todo o ser humano. É um laço que estabelece um contacto imensurável entre diferentes pessoas unidas e que, geralmente, trabalham de forma coordenada e limitadas através de um conjunto de normas de conduta, algumas das quais são estabelecidas e transmitidas em público e outras são ocultas.

Hoje em dia, a família, disputa suas responsabilidades com outros agentes de socialização que, inevitavelmente, também têm a dura tarefa de moldar a conduta do ser humano e troná-lo útil à sociedade em que se encontra inserido. Tais agentes de socialização são: as congregações religiosas, as escolas, as redes sociais, etc. Hoje vamos dar um olhar às crises que emergem no dia-a-dia das famílias moçambicanas, especialmente nas da zona sul de Moçambique.

A necessidade de trabalhar para garantir o pão de cada dia, certamente, exige pais e encarregados de educação a deixarem seus filhos ou educandos sob mera responsabilidade de seus empregados domésticos ou das instituições de ensino para crianças (centro infantil). Estes exercem o seu papel de educador, embora com algumas reservas. Ora vejamos que existe sempre um vínculo insubstituível entre a cria e o criador. Deste vínculo resulta um afecto inexplicável que permite compreensão mútua, maiores chances de a cria desejar imitar o criador, seguindo os seus passos. Ainda podemos destacar algumas componentes indispensáveis a cria: a educação, o carinho, a atenção, o amor, etc.

Este distanciamento forçado pelas necessidades da vida culmina com o surgimento de uma determinada crise nas relações familiares. Isto cede um espaço para aquisição de novos valores culturais por parte das crianças, adolescentes e jovens, visto que acabam gastando maior parte do seu dia nas redes sociais, programas televisivos e radiofónicos, revistas de moda, etc. Com isto, inevitavelmente, vai se construindo um novo indivíduo, o virtual-imitador. Este processo não é observável a curto prazo, podendo se perceber as respectivas implicações negativas a partir dos quinze (15) anos de idade, quando o adolescente ou o jovem começa a assumir o desejo de concretizar suas fantasias e matar suas curiosidades, provando novas coisas.

Esta deficiente capacidade da família exercer o seu papel na formação do Homem, deixa graves lacunas que nenhum outro agente de socialização consegue preencher. Por conta disto, surge um Homem diferenciado e que depois de um longo tempo, deverá se enquadrar ao contexto cultural padrão por obrigações morais. O que me atrevo a afirmar que é quase impossível.

A camada juvenil, segundo dados recentes, ocupa aproximadamente setenta por centos (70%) da população moçambicana, sendo, por isso, o epicentro do desenvolvimento familiar, comunitário, distrital, provincial ou nacional. É nesta fase que se forma o Homem que vai assumir o papel decisório de adulto na sociedade da geração vindoura.

Mas, na verdade, é uma fase muito complexa e conflituosa. Complexa porque é, consideravelmente, vulnerável às influências de terceiros ou de um determinado contexto observado ou revelado e é conflituosa porque é nesta fase que nasce a vontade de distanciar-se dos pais para colher novas experiências de vida, sejam académicas, amorosas, profissionais, etc. Este inevitável afastamento, geralmente, induz os pais e encarregados de educação a reduzirem ou eliminarem os benefícios que vinham atribuindo para seus filhos ou educandos.

É importante destacar que, apesar de algumas asneiras cometidas, merecem total apoio moral e parcial apoio financeiro (que deve ser determinado pelas capacidades de oferecer e de ser bem gerido por quem lhe é dado) e orientação pata reduzir ou eliminar as chances de ocorrência de conflitos sociais entre diferentes gerações.

Dois (2) grandes factores concorrem para a transformação do ser humano em inculto, nomeadamente: a existência de uma considerável estabilidade financeira ou o alcance de um considerável grau de formação académica. Mas os agentes de socialização tem por objectivo moldar e controlar a conduta do ser humano, enquanto membro de um determinado grupo de seres semelhantes, por um lado.

Por outro lado, as necessidades e as capacidades de compreensão individuais permitem a diferenciação de cada um, o que nos remete a admitir que existem outros factores que tornam o indivíduo único pelas suas qualidades. Isto nos coloca a perceber que é insubstituível o papel da família na formação do Homem, permitindo que haja homogeneidade cultural (convergência de valores, princípios, crenças, regras de convivência, conservação da identidade, etc.).

Hoje em dia assistimos casos em que os jovens sofrem fortes tendências de viverem a vida real de forma virtual e vice-versa. Isto é reflexo de ruptura de cumprimento do papel da família na construção do ser humano.

A família, naturalmente, tem o poder de oferecer apoio emocional, moral e financeiro. Três (3) grandes factores indispensáveis na vida do ser humano, enquanto membro de um agrupamento de seus semelhantes. É por esta e outras razões que o exercício do papel da família constitui um passo inquestionável e crucial, apesar das diversas dificuldades que a vida nos impõe. Mais vale investir muito para educar o ser humano enquanto menor de idade, para evitar castigá-lo pelos erros a cometer futuramente.

Por Basílio Macaringue



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