Hélio tombou quando regressava da escola. Vítima de uma bala "perdida" que escolheu o seu corpo para se alojar. Num dia em que a polícia, com a força de um dogma, afirmou reiteradamente que disparou apenas balas de borracha o corpo do Hélio, já sem vida, foi um desmentido público que devia corar de vergonha todo o sistema repressivo nacional.
A criança que, acidentalmente, virou símbolo das manifestações contra o custo de vida sonhava com um emprego honesto com o qual, no futuro pudesse, com o suor do seu trabalho, mitigar o sofrimento da sua mãe. Uma empregada doméstica que perdeu o emprego por ter ido enterrar um filho que o Estado lhe roubou.
O enterro de Hélio foi simples e as despesas foram totalmente cobertas pelos parcos recursos da família, com o apoio de vizinhos e amigos. Sem nenhum representante do Estado que lhe impediu de continuar a crescer.
Hoje, volvido um ano e meio, Rute ganhou a sua batalha contra o Estado, o qual foi condenado a pagar uma indemnização no valor de 500 mil meticais. Uma vitória que, na verdade, representa uma perda. Ou seja, a vida de um filho não tem valor para uma mãe. Rute irá receber o dinheiro, mas viverá, para sempre, amputada. Perder um filho é o mesmo que perder um membro do corpo.
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