Uma cadeira de liderança no aparelho do Estado, para um
indivíduo sem escrúpulos, representa uma espécie de mina de diamantes.
Isso é evidente e nem é necessário socorrer-se de nenhuma acrobacia
intelectual engenhosa para o demonstrar. Aliás, a fortuna construída
pelos dirigentes deste país, as quais coincidem com o tempo de vigência
dos seus mandatos, é uma prova irrefutável de que onde escasseiam
escrúpulos a abundância de dinheiro marca inexoravelmente a sua
presença. Não necessariamente nestes termos.
Nesta era de especialistas em isenções aduaneiras, de vendedores
informais de atum graduados na conversão do sistema analógico para o
digital, ninguém sobrevive sem um instinto rapace e garras lestas para a
caça aos patos. Vai este intróito a propósito da exigência da paridade,
por parte da Renamo, nos diferentes ramos da Polícia, particularmente
na Força de Intervenção Rápida (FIR), na Força de Protecção das Altas
Individualidades e até mesmo nas escolas militares, superiores ou
básicas.
Tal exigência, diga-se, parece estapafúrdia, mas não é. Não teria lugar
num país despartidarizado. Ou seja, se o Exército não fosse um braço do
partido no poder, a exigência da Renamo não seria possível. Se a FIR
procedesse como uma força ao serviço do cidadão a exigência da Renamo
seria descabida. Se o Presidente da República não exibisse aquele que
vai concorrer para lhe suceder, nas próximas eleições, nas Presidências
Abertas, a posição da Renamo seria, simplesmente, ridícula. Se os
grandes negócios deste país não tivessem a cor do partido no poder
qualquer exigência de elevar o nível de partidarização do Estado seria
ilegítima.
O comportamento dos dirigentes da Frelimo em relação ao património
colectivo dos moçambicanos é que torna legítima a exigência da Renamo.
Portanto, mais do que espernear e advogar pelos princípios que regem o
Estado é preciso desandar o caminho que nos levou até aqui. Ou seja, é
preciso que a Frelimo abdique do Estado para deslegitimar a pretensão da
Renamo.
Efectivamente, o problema original é a captura do Estado pelo partido no
poder. Lembram-se das frases de Chipande? Quando disse, para quem quis
ouvir, que a Frelimo não seria do poder de forma alguma? Naquele
discurso arrogante estava embrulhado o pomo da discórdia e a confirmação
de que o partido Frelimo é maior do que o Estado. E a única forma, para
qualquer formação política racional conquistar um quinhão do poder, é
exigir a partilha do mesmo. Não há outra forma no contexto partidário.
Contudo, se a Frelimo é um partido que ama os moçambicanos o que pode
fazer, para desarmar a Renamo, é desarmar-se também. É a única via pela
qual é possível transitar com a anuência de qualquer moçambicano que se
preze.
O resto é comédia para entreter os menos capazes mentalmente...
@VERDADE – 18.04.2014
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sexta-feira, 18 de abril de 2014
Editorial: O problema real
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