Uma das tradições da maior igreja evangélica do Sul de África, professada pelos zulus, entre eles o Presidente Jacob Zuma, está a ameaçar os leopardos em Moçambique. “Eles usam vestes com base na pele de leopardo” explicou ao @Verdade Carlos Lopes Pereira mostrando imagens de pele ilegalmente traficada e apreendida em Outubro de 2016, “já não há leopardos para fazer isto”, lamenta o chefe do Departamento de Fiscalização da Administração Nacional das Áreas de Conservação(ANAC).
Fundada em 1910 por Isaiah Mdliwamafaa Shembe a Igreja Batista Nazaré, ou iBandla lamaNazaretha, é um movimento religioso enraizado nas tradições dos Zulu, para alguns estudiosos tornou-se numa forma africanizada de cristianismo. O ritual para louvar Isahia Shembe acontece habitualmente ao sábado, a céu aberto.
As mulheres trajam saias coloridas e os homens que além de vários adornos típicos, da lança e do escudo, vestem sob o dorso uma espécie de camisete feita a partir da pele de leopardo.
O drama é que os crentes são aproximadamente cinco milhões, maioritariamente na África do Sul e na Swazilândia, e o uso desta pele que é símbolo de orgulho, poder, beleza, força e realeza tem contribuído, ao longo do século, para o abate de milhões de leopardos.
“Isto são tradições, usos e costumes, mas já não há leopardos para fazer isto. A África do Sul baniu a caça do leopardo e colocou-o na lista das espécies protegidas”, aclarou Lopes Pereira.
O @Verdade apurou que na África do Sul para se trajar com pele de leopardo é necessária uma autorização especial emitida pelo Estado, incluindo os membros da realeza Zulu e até o Presidente do País vizinho, Jacob Zuma. Mas nas igrejas, de acordo com a imprensa sul-africana, a maioria dos fieis usam os seus trajes garbosos de pele de leopardo sem nenhum controlo das autoridades.
Não sendo possível obter a pele do leopardo no seu País os crentes da Igreja Batista Nazaré tornaram-se potenciais compradores de peles provenientes de outros países onde a caça ainda é permita, como é o caso de Moçambique.
O mercado da pele de leopardo é a África do Sul e a Suazilândia
“Aqui ainda se pode caçar na Reserva do Niassa, na parte da concessões mas é muito controlado”, afirmou Carlos Lopes Pereira explicando que “existe um controle de qualidade, a caça é feita por estrangeiros mas não podem levar os troféus sem notificar a idade do animal e outros detalhes que temos capacidade de verificar”.
Ao @Verdade o chefe do Departamento de Fiscalização da ANAC detalhou que em caso de disputa com o caçador, relativamente as premissas para o abate de leopardos no nosso País, como é o caso da idade, as autoridades moçambicanas têm capacidade no Niassa para apurar todos os detalhes sobre o animal e, caso verifique-se tratar-se de uma abate não autorizado, o prevaricador é multado.
De acordo com com Lopes Pereira em Moçambique existe uma quota de caça de leopardos, “uma quota de 21 por ano”, porém “não se sabe muito bem a população existente de leopardos” por isso é preciso apertar a fiscalização e encontrar uma solução para a tradição dos Shembe, “se não resolvemos isto vamos acabar com os leopardos”.
O @Verdade apurou que em 2015 a quota aprovada pelo Governo para o abate de leopardos foi de 119 animais, nas dezenas de áreas de conservação e coutadas existentes pelo País.
Entretanto 2016 a ANAC registou 17 carcaças de leopardo na Reserva do Niassa e apreendeu uma pele do felino a ser traficada entre Pemba e Maputo, “o mercado é a África do Sul e a Suazilândia”, revelou Lopes Pereira. Organizações ambientalistas estimam-se que entre 1500 e 2500 leopardos sejam mortos todos os anos em vários países apenas para satisfazer a procura dos Shembe.
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