Parece-me que hoje virou algo normal falar de corrupção praticá-la. Quase em todos os sectores ela é encarrada como uma questão de vontade, ou melhor, é vista como combustível ou energia que permite o funcionamento normal das actividades que foram incumbidas ao agente de serviço. Na maioria dos casos, o agente em acusa aceita e exige dinheiro para compensar o salário mísero que ele recebe. Neste caso, ele esquece que existem pessoas que vivem sem salário, mas nem por isso chegam de cometer este tipo irregularidade.
Ora, neste assunto de corrupção, o Centro de Saúde de Mavalane não está isento. Quase todos médicos, enfermeiros e serventes são corruptíveis naquela unidade sanitária. Aliás, ninguém é atendido com urgência sem que tenha dinheiro nas mãos para facilitar o processo de consulta. Digo isto com conhecimento de causa, porque sempre que vou lá cobram-me 100 meticais para um atendimento com urgência, o que nunca aceitei.
Parece-me que Mavale é um centro de saúde cuja estrutura de corrupção está bem montada. Há negligência e, por causa disso, um dia, uma menina gravemente ferida num acidente de viação morreu no Banco de Socorros. Enquanto a família da Fátima clamava por ajuda, os médicos e enfermeiros desfilavam no corredor do hospital recolhendo seus “impostos”. Eles só começaram a mostrar preocupação depois de a vítima manifestar o último suspiro. Fiquei traumatizado e impotente. Fiquei com medo de eu ser o próximo.
Ora, se nos nossos hospitais o bom atendimento é dependente de valores monetários, então o juramento feito pelos nossos médicos e enfermeiros é inútil e fútil. Antigamente, a bata branca dos médicos e dos enfermeiros simbolizava a paz e salvação, mas hoje tem outra simbologia: abismo e cobrança ilícita de dinheiro aos enfermos.
É inconcebível que os nossos hospitais, sobretudo o Centro de Saúde de Mavalane, se transformem num estabelecimento de negócio. Afinal, o que é ser médico ou enfermeiro?
Começando pelo primeiro atributo, talvez os donos nem sabem quem são realmente. Ora, suportando-me em Dioclésio, diria que ser médico é associar a ciência e a consciência a fim de usar os melhores recursos em benefício do bem-estar físico, mental e social das pessoas. Porém, os nossos médicos fazem o contrário, associam a ciência e os interesses particulares para usar melhor os recursos em benefício próprio.
Diz ainda Dioclésio que ser médico é juntar conhecimento e acção em benefício da vida saudável, e não cobrar dinheiro ao paciente só para fazer análise de sangue. Ser médico é colocar a experiencia e a intuição ao serviço de ser humano ameaçado por doença que lhe esvazia a sensação de segurança existencial, não só, ser médico é regozijar-se com a conversão da tristeza em alegria, do choro em riso, da depressão em animo, do pálido em bem corado, da dor em prazer, do desespero em esperança, da hipotonia em dinamismo. Eu acrescentaria que ser médico é atender e respeitar os enfermos sem injustiça, nem cobranças ilícitas de dinheiro.
E o que é ser enfermeiro? É do domínio público que ser enfermeiro é ser um profissional bem qualificado que usa suas competências técnicas, relacionais, éticas e culturais para o bem-estar das pessoas, família e comunidade, ou seja, ser enfermeiro é ser anjo da guarda que cuida de ti e de todos que o rodeia, ou ainda, prestar cuidado ao outro como desejaria que lhe prestasse a si, aliás, ser enfermeiro é ser aquela pessoas que cuida dos outros sem benefícios imediatos, é ser aquele que está no momento da doença para uma melhor e rápida recuperação.
Portanto, nenhumas dessas qualidades se harmonizam com a postura dos nossos médicos e enfermeiros. Talvez é porque esqueceram o que aprenderam nas suas formações, mas seria o momento de visitar os calhamaços, porque estamos saturados com a incompetência e desordem nos hospitais.
Por Rabim Chiria
via @Verdade - Últimas http://ift.tt/2or3tLE
0 comments:
Enviar um comentário