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terça-feira, 4 de julho de 2017

FAO adverte que a fome no mundo aumentou novamente

A Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) advertiu hoje que o número de pessoas que passam fome no mundo aumentou novamente em 2017, ainda que os valores definitivos só sejam conhecidos em Setembro.

O director-geral da FAO, José Graziano da Silva, apontou na abertura da Conferência dessa agência que a má notícia do crescimento da insegurança alimentar não deve surpreender num ano em que se declarou fome no Sudão do Sul e mais de 20 milhões de pessoas estão a ponto de morrer de fome nesse país, na Somália, Nigéria e no Iémen.

Essa situação contrasta com o desafio de erradicar a fome ao qual a comunidade internacional se comprometeu em 2015 com a aprovação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, segundo lembrou. Ainda que os valores da fome apenas sejam divulgados no próximo Setembro, Silva adiantou que o seu nível aumentou para mais de 800 milhões de pessoas -frente aos 795 milhões que havia em 2015- após anos nos quais o seu número se tinha reduzido.

O responsável sublinhou que atualmente há 19 países que sofrem carcinogéneses prolongadas, todos eles afundados na violência, fatores que em muitos casos se combinam com a seca e outros efeitos da mudança climática.

60% das pessoas que sofrem fome no mundo vive em países afectados pelo conflito, apontou Silva, que insistiu que para salvar vidas faz falta "salvar os seus meios de vida". Silva afirmou que a fome nas zonas rurais de África, Ásia ou América Latina impacta em outras partes do mundo, como ocorre com a migração, pelo que instou aos países desenvolvidos a manter as suas contribuições à organização para a luta conjunta contra este aspecto.

O administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Achim Steiner, reiterou também na conferência que a maioria dos 65 milhões de deslocados que há no mundo ficam nos países vizinhos e não tanto na Europa.

Steiner pediu que não se subestime o efeito da mudança climática e a agir com solidariedade, vislumbrando um futuro sustentável para a agricultura, caso se quer erradicar a fome e a pobreza. Nesse sentido, afirmou que é necessário apreciar os pequenos agricultores, que produzem 80% dos alimentos disponíveis no mundo, e investir neles como base para que as comunidades possam sustentar-se a sim próprias.

"Optimizar a economia agrícola é talvez uma melhor forma de ver a agricultura do futuro. Não é produzir o máximo possível que leva a uma segurança alimentar sustentável", disse Steiner, que sublinhou o efeito que os regulamentos e os mercados têm nos produtores.

Num acto posterior, o presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Gilbert Houngbo, lembrou que muitos dos que passam fome "são o resultado da pobreza e das desigualdades, da exclusão de pequenos produtores e investimentos inadequados nas zonas rurais".

O diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos (PMA), David Beasley, urgiu a pressionar os países envolvidos em conflitos para que os solucionem. Beasley pediu que se tome consciência da "seriedade" do problema da fome em vez de falar tanto da saída do Reino Unido da União Europeia, do presidente americano Donald Trump ou da política de extrema-direita francesa Marine Le Pen.

Mais de mil participantes, entre eles 70 ministros e outros altos cargos, vão assistir esta semana à Conferência da FAO, o máximo órgão de governo dessa agência da ONU, que realiza a sua 40ª sessão, na qual se vai aprovar o seu plano de trabalho e orçamento.



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