Filipe Nyusi perdeu uma oportunidade soberana de justificar os imensos fracassos dos seus quase cinco anos de governação com as dívidas ilegais contraídas por Armando Guebuza. Num mandato de “adversidades inéditas” o Chefe de Estado apontou as hostilidades militares com a Renamo e a suspensão dos desembolsos de fundos para o desenvolvimento pelos Parceiros de Cooperação como os “fenómenos alteraram os parâmetros de estabilidade política e económica em que havíamos baseado a nossa visão”.
Apresentando nesta quarta-feira (31) o último informe sobre o Estado da Nação durante o seu 1º mandato como Presidente da República, Filipe Nyusi começou por assinalar: “Nesta caminhada deparamo-nos com inúmeras adversidades resultantes de factores internos e externos, internamente as acções de violência militar localizada e a suspensão dos desembolsos de fundos para o desenvolvimento pelos Parceiros de Cooperação, que se diga a bem da verdade, estes fenómenos alteraram os parâmetros de estabilidade política e económica em que havíamos baseado a nossa visão. A seca no Sul, as cheias, ciclones e inundações no Centro e Norte levaram o Governo a adoptar medidas excepcionais para salvar vidas, reassentar populações em zonas seguras e repor infra-estruturas destruídas”.
“Na frente externa, a queda dos preços dos bens de exportação no mercado internacional, particularmente do carvão, o alumínio, reduziu a disponibilidade de divisas condicionando a nossa economia e encareceu as nossas importações”, acrescentou o Chefe de Estado.
Nyusi afirmou: “Procedemos a correcção gradual do desequilíbrio entre a receita e a despesa pública tendo o défice orçamental baixado de 13 por cento em 2014 para 8,2 por cento em 2018, e é real. Realizamos a despesa pública e melhoramos as fontes da receita de forma a financiar o programa quinquenal do Governo, focando a actuação na melhoria das fontes de receita e racionalização das despesas. A implementação destas medidas permitiu controlar a inflação, isto é a subida do nível geral de preços que já esteve a níveis de 26 por cento em 2016 e que actualmente situa-se em cerca de 4 por cento”.
“Estabilizar a nossa moeda em relação as principais moedas de transacção, a título de exemplo em 2016 o dólar chegou a custar 80 Meticais e rand 5,15 Meticais, actualmente o dólar 62,2 Meticais e rand 4,22 Meticais, e através do incremento da produção aumentamos a disponibilidade de alimentos sobretudo cereais, hortícolas e aves. Enquanto trabalhamos para o dossier de paz fomos gerindo a macroeconomia para a estabilização deste país”, disse ainda o Presidente da República.
Dívidas ilegais como causa da crise económica e financeira é assinalada pelo Banco Mundial
O 4º Chefe de Estado moçambicano declarou: “Entendemos a pressa e a impaciência em ver esclarecida a dívida não declarada, mas todos sentem os esforços e passos que a nossa Justiça tem dado, acreditamos nela porque há muitos exemplos no mundo de grande celeridade para este tipo de crime e o nosso caso não está fora dos parâmetros”.
“Em relação a dívida pública temos vindo a dialogar com os credores com vista a garantir a sua sustentabilidade e reforçar a confiança do nosso país junto dos Parceiros de Cooperação e dos mercados financeiros com o título de facilitar o acesso em termos favoráveis a recursos para financiar projectos estruturantes da nossa economia” concluiu Nyusi.
Mas a verdade é que a inflação só começou a subir em consequência da derrapagem do Metical que começou a desvalorizar-se assim que o Fundo Monetário Internacional descobriu que além da dívida ilegal da EMATUM o Executivo de Armando Guebuza havia contraídos outros dois empréstimos ilegais, à favor das empresas Proindus e MAM, e escondeu essa informação do povo assim como dos seus Parceiros de Cooperação.
Aliás a causa da crise económica e financeira é assinalada pelo Banco Mundial, o principal parceiro de cooperação de sucessivos governos do partido Frelimo, num relatório de 2018. “Na sequência das revelações de dívidas ocultas, em 2016, deu-se um declínio da confiança dos investidores e doadores, à medida que a dívida pública foi aumentando para um nível insustentável e as percepções quanto ao risco se foram deteriorando, o que contribuiu para uma redução nos fluxos de fundos externos provenientes de doadores e investidores”, pode-se ler no documento intitulado “Actualidade Económica de Moçambique Outubro de 2018”.
Mais recentemente, outro parceiro do Governo, o Instituto para Pesquisa sobre Desenvolvimento Económico da Universidade das Nações Unidas (UNU – WIDER), afirmou que depois da pobreza ter reduzido de 54,7 por cento em 2008 para 49,2 por cento em 2014, “A crise económica pode ter revertido essa tendência positiva e pode ter levado muitas famílias a um estado de pobreza. De facto, é mais provável que o maior efeito da crise económica em grande parte da população tenha sido o aumento dos preços dos bens importados, devido à rápida e significativa desvalorização da moeda nacional, que fez os preços internos subirem em 30 a 40 pontos percentuais entre Agosto de 2014 e Dezembro de 2016”.
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