“O futuro começa hoje, aqui, connosco. Começa nas nossas mãos. Não podemos deixar para as gerações futuras a solução dos problemas de hoje”, afirmou Marcelino dos Santos poucos dias após ser investido como presidente da Assembleia Popular no seguimento das 2ªs Eleições Gerais que o fundador da FRELIMO acreditava terem servido para “purificação das nossas fileiras, em que o povo rejeitou os corruptos, polígamos de vocação recente, ladrões, prepotentes e outros indivíduos de comportamento estranho”.
É sepultado nesta quarta-feira (19) o último dos fundadores da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). O @Verdade recorda o discurso que Marcelino dos Santos proferiu como presidente da Assembleia Popular, a 20 de Janeiro de 1987, onde estão patentes alguns dos seus ideais que até hoje não foram materializados e outros foram subvertidos pelos seus camaradas que transformaram a Frente num partido político.
“Nesta sessão ouviram-se as vozes dos soldados, dos operários, dos camponeses e de outros sectores da nossa sociedade, todos unidos pela ideia comum de tirar o nosso país da fome, da nudez e da miséria imposta pelo subdesenvolvimento e pela guerra. Ao longo destes dias não encontramos todas as respostas. Mas encontramos a forma de dar os primeiros passos, visando atingir aqueles objectivos”, começou por declarar no encerramento da 1ª sessão ordinária da 2ª Legislatura do Parlamento.
Substituindo Samora Machel, que até a sua morte acumulou o cargo de presidente da Assembleia Popular, Dos Santos disse que: “Cumprindo com as instruções de Samora fizemos das Eleições Gerais um momento alto de consolidação da Unidade Nacional. Homens e mulheres exerceram o seu direito de elegeram e serem eleitos. Foi um processo de purificação das nossas fileiras, em que o povo rejeitou os corruptos, polígamos de vocação recente, ladrões, prepotentes e outros indivíduos de comportamento estranho”.
“Os trabalhos desta 1ª sessão tiveram como ponto dominante a discussão, quer em plenário, quer em grupos de estudo, o Programa de Reabilitação Económica do país (...) Com as medidas preconizadas no Programa de Reabilitação Económica pretende-se não adiar por mais tempo a travagem da deterioração da situação do país, revertendo a tendência no sentido do crescimento, não transferindo para as gerações vindouras o ónus da pesada situação económica e da nossa dívida externa”, augurava Marcelino dos Santos.
Para o Herói Nacional, que faleceu aos 91 anos de idade, o Programa de Reabilitação Económica (PRE) prometia “medidas de longo alcance e conteúdo, que valorizam o bom trabalho, a produção, a produtividade, a poupança e o investimento, penalizando a indisciplina, o absentismo, a ineficiência, a negligência, o esbanjamento e o mau desempenho no trabalho”.
Lutas que Marcelinos dos Santos travou após a independência subvertidas pelos camaradas
“O Estado deixará de ser distribuidor de benesses aos cidadãos, pois o direito de bem-estar deverá ser conquistado pelo nosso esforço, sacrifício e trabalho. Os empréstimos bancários não poderão ser concedidos sem a garantia do reembolso, da viabilidade dos projectos económicos e rodeados dos mecanismos legais que honrem os compromissos assumidos”, acreditava o fundador da Frente de Libertação de Moçambique.
O 2º presidente do Parlamento moçambicano terminou o seu discurso sonhando: “O futuro começa hoje, aqui, connosco. Começa nas nossas mãos. Não podemos deixar para as gerações futuras a solução dos problemas de hoje. Saibamos merecer a herança legada pelos nossos heróis e saibamos preparar o amanhã dos nossos filhos”.
Não são conhecidas as posições públicas de Marcelinos dos Santos ao longo das últimas duas décadas nas quais muitas das lutas que travou após a independência nacional foram perdidas: os ladrões tomaram de assalto o Estado, que se tornou na principal fonte de enriquecimento dos membros do partido Frelimo enquanto a pobreza do povo aumentou.
A indisciplina, o absentismo, a ineficiência, a negligência, o esbanjamento e o mau desempenho no trabalho tornaram-se normais em Moçambique e a corrupção atingiu todos os níveis do Governo e do partido libertador que se esqueceu que os empréstimos bancários não podiam ser obtidos sem a garantia do reembolso, sem viabilidade dos projectos e sem respeitar os mecanismos legais instituídos. O presente e o futuro dos moçambicanos foi hipotecado pela avidez predadora dos “camaradas”.
via @Verdade - Últimas https://ift.tt/2SZl9M6
0 comments:
Enviar um comentário