Plano tecido por Kofi Annan para cessar conflitos na Síria ainda não conseguiu acabar com a violência no país. Observadores da ONU não podem fazer nada e não há alternativa realista ao plano de Annan.
Tropas do governo sírio e combatentes da oposição continuam torturando, assassinando e abusando da violência no país. A cada dia são registrados tiroteios, bombardeios e atentados.
Um ataque com tanques de guerra a prédios residenciais em Hula, a noroeste de Horms, centro dos protestos, morreram mais de 90 pessoas entre sexta-feira (25/05) e sábado (26/05), entre elas 32 crianças. Segundo informações fornecidas por ativistas, tropas do regime Assad atacaram a localidade de Taldo com canhões e morteiros.
A trégua, prevista pelo plano de Annan e teoricamente em vigor desde abril último, definitivamente só existe no papel. Cada vez mais combatentes da oposição estão se armando. Em uma declaração, o Exército Sírio Livre exigiu da ONU que acabe imediatamente com o conflito. Caso contrário, também não iria mais respeitar a trégua.
Uma comissão de inquérito da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas já temia, antes dos recentes acontecimentos, uma "militarização crescente" do conflito. Tendo em vista os terríveis massacres desde o início dos protestos no país, o major-general Robert Mood, coordenador da missão dos observadores da ONU na Síria, fala de uma "tragédia brutal".
Em meados de maio, Mood havia se pronunciado com otimismo sobre a missão, prevendo um "apaziguamento imediato da situação" após a chegada dos observadores. Hoje, 260 já estão no país. A Alemanha também pretende participar da missão, com o envio de até 10 militares.
A tropa desarmada da ONU tem por função fiscalizar a implementação do Plano de Seis Pontos desenvolvido por Kofi Annan e pela Liga Árabe para a Síria. O plano prevê a retomada do diálogo político, o acesso ao país a ajuda humanitária, a libertação de presos políticos, a liberdade de ir e vir para jornalistas, bem como a liberdade de reunião e manifestação para a população em geral. Até agora, o regime não respeitou ainda de fato estas exigências, diz Corina Hauswedell, do Centro Internacional de Conversão, sediado em Bonn.
O presidente sírio, Bashar al Assad, queria, pelo que tudo indica, apenas ganhar tempo. Seu "sim" ao plano de Annan diminuiu, pelo menos a princípio, a pressão internacional sobre Damasco. Para pôr realmente um fim no conflito, Assad teria, contudo, que renunciar ou pelo menos entregar parte do poder à oposição.
"Mas isso certamente não está nos planos do regime", analisa Hauswedell. Em vez disso, as tropas do governo continuam atacando com intensa brutalidade oposicionistas e manifestantes, como pôde ser observado no massacre em Hula.
Rolf Mützenich, porta-voz para questões de política externa da bancada do Partido Social Democrata (SPD), na Alemanha, também duvida da disposição de Assad em selar acordos. Por isso, diz ele, a pressão sobre o governo deveria aumentar: "Eu desejaria que o Conselho de Segurança da ONU optasse por uma resolução, a fim de exercer maior pressão sobre o regime", diz Mützenich. No entanto, o Conselho encontra-se dividido, pois a China e a Rússia, países com poder de veto, defenderam o regime de Assad nos últimos meses, impedindo desta forma uma postura mais rígida contra a Síria.
Diante das complexas relações de poder dentro do Conselho de Segurança da ONU, alguns oposicionistas sírios pleiteiam um ataque militar ao país sem a aprovação do grêmio. Mützenich, por sua vez, rejeita esta possibilidade: "Ações unilaterais, levadas a cabo sem a legitimação do Direito internacional, não vão de forma alguma solucionar a situação", diz o político. E o governo alemão defende uma postura semelhante. De qualquer forma, há, no momento, pouca disposição internacional no que diz respeito a uma intervenção militar na Síria.
A pesquisadora Hauswedell também rejeita o fornecimento de armas para a oposição. "Acreditamos que esta seja uma política kamikaze, também no sentido de uma regulamentação pacífica". Já agora países da região do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos apoiam a oposição financeiramente. Teoricamente, o dinheiro é destinado ao pagamento do soldo dos rebeldes. No entanto, não se pode afirmar com segurança que esses recursos não estejam sendo de forma alguma destinados à compra de armas.
Corinna Hauswedell acha que ainda está muito cedo para abdicar do plano de Annan. "Não há, no momento, nenhum outro caminho viável", diz ela. Mützenich também acredita que é preciso manter os pés no chão. "Este é, no momento, o único plano no qual a comunidade internacional pelo menos tenta ir adiante. Infelizmente precisamos nos contentar com aquilo que está sendo viável no cenário internacional", completa Mützenich.
Segundo ele, é preciso esperar para ver como a situação se desenvolverá depois que a missão estiver completa, com seus 300 observadores no país.
Mas uma coisa está clara para o major-general Robert Mood, diretor da missão de observadores da ONU na Síria: "Se os lados envolvidos no conflito não quiserem dar de fato uma chance para o diálogo, nós observadores não teremos como acabar com a violência a longo prazo, não importa quantos sejamos", conclui.
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