As autoridades costa marfinenses devem pôr termo à censura dos órgãos de imprensa que as criticam e abrir inquéritos sobre as agressões armadas contra as instalações dum grupo de imprensa, declarou no fim-de-semana o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ).
Num comunicado divulgado em Nova Iorque, o coordenador do CPJ para África, Mohamed Keita, convida o Presidente Alassane Ouattara a demostrar tolerância e compromisso com os princípios democráticos.
«Enquanto o país procura sair dum período de grande tensão, o Presidente pode dar o exemplo, autorizando as vozes da oposição a exprimir as suas preocupações e as suas opiniões, por tão duras que sejam ", sublinha.
Segundo o comunicado do CPJ, o Conselho Nacional da Imprensa suspendeu o diário "Le Temps" a 03 de Agosto corrente por 20 edições, devido a um artigo divulgado a 24 de Julho passado que teria difamado o Presidente Ouattara.
Tido como apoiante do ex-Presidente Laureng Gbagbo, Le Temps divulgou um ponto de vista sobre a violência entre os apoiantes de Ouattara e os de Gbagbo e tratando o actual Presidente de "vampiro macabro". Os grupos da oposição acusaram Ouattara e os seus aliados de visar os apoiantes de Gbagbo.
O editor-chefe de Le Temps, Simplice Allard, foi igualmente suspenso da publicação de artigos para o jornal por um mês. Um grupo de homens armados não identificados atacou o grupo de imprensa Cyclone, em Abidjan, que publica Le Temps.
Estes homens agrediram um agente de segurança, incendiaram uma sala, saquearam o escritório do jornal e roubaram vários computadores. O ataque não fez feridos mas causou consideráveis danos materiais ao jornal.
A Polícia não procedeu a nenhuma detenção, segundo os jornais locais, para quem este ataque contra o grupo de imprensa é uma represália contra a cobertura crítica de Le Temps das acções do Governo Ouattara.
O CPJ indica que num outro caso de censura oficial, o Conselho Nacional da Imprensa suspendeu "Bôl 'Kotch", um jornal satírico privado, a 08 de Agosto corrente, por artigos e caricaturas críticas contra Ouattara divulgados na sua edição de 27 de Julho.
O Conselho visou particularmente uma caricatura dum encontro entre Ouattara e um responsável do Exército que sugere que o Presidente utilizava os grupos étnicos de caçadores tradicionais para combater os apoiantes de Gbagbo no país.
Alain Tiéffi, editor fotográfico do diário pró-governamental "Fraternité Matin", declarou que os seus vizinhos aconselharam-lhe a deixar a sua casa do bairro Yopougon, considerado como um bastião de Gbagbo.
As forças de segurança, em reacção aos ataques armados contra as posições do Governo, efectuaram nas últimas semanas ataques contra casas de Yopougon e detiveram pessoas suspeitas de estar ligadas aos apoiantes armados do ex-Presidente.
Tieffia declarou ao CPJ os que fiéis de Ouattara destruíram a sua casa em Maio de 2011 e apontaram uma arma contra a sua cabeça.
"Sou o único jornalista no bairro onde vivo. A minha esposa, as minhas crianças e os meus cunhados vivem todos comigo. Actualmente, não sei o que fazer. Estou aterrorizado", confiou Tieffiau ao CPJ.
Um grupo de seis diários próximos da oposição recusou-se a publicar as suas edições de 24 e 25 de Agosto corrente para protestar contra o ataque do grupo de imprensa Cyclone e as ameaças e as agressões de que foram vítimas jornalistas ivoirienses nos últimos meses, segundo um comunicado. O grupo indicou que esta acção visava denunciar "os riscos que pairam sobre a vida dos jornalistas".
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