Sei que muitos me tomarão como profano ao baptizar a presente reflexão com o título em epígrafe, pois de longe carrega uma conotação pejorativa e a demonstração de um sentimento anti-nacionalista. Porém, sei mais ainda que as mentes mais sensatas se deixarão possuir pelo espírito racional e realista que caracteriza a mesma reflexão e me ilibarão de tais acusações.
O Triunfo dos Porcos, A Quinta dos Animas ou ainda Animal Farm são os títulos do livro de George Orwell publicado em 1945, um dos mais iluminados escritores britânicos do século XX. A pergunta que não quer calar provavelmente seja onde entra Orwell e seu livro na história da independência de Moçambique, ainda com o título que carrega.
Quem for ler o livro em causa perceberá que se trata de uma fábula que narra a história de um conjunto de animais domésticos que vivia numa quinta no interior da Inglaterra e por entender que o seu dono e os demais seres humanos aproveitavam-se dos trabalhos e bens produzidos pelos animais e no fim ainda os maltratavam, algo que não deixa de ser verdade, decidem levar a cabo uma rebelião e expulsam os homens que os maltratavam para passarem a partir daquele momento a dirigir as suas vidas.
Conseguida tal proeza decidem criar regras das quais acho melhor destacar as seguintes: "Nenhum animal matará outro animal; todos os animais são iguais". No início as regras foram cumpridas, os animais viviam felizes, porém com o passar do tempo os porcos que eram os mais inteligentes e líderes da rebelião colocam-se acima dos outros animais, a igualdade desaparece, os demais animais fazem o trabalho produtivo e os porcos que eram os privilegiados fazem o administrativo.
Numa situação de luta pelo poder um dos porcos (líder da rebelião) é expulso com recurso à violência e à mentiras. O porco que fica a dirigir aos demais comete abusos e os animais que só sabiam dizer sim vão sofrendo com as decisões do chefe que continua a ter uma vida privilegiada. Ao longo do tempo as regras preestabelecidas vão sendo modificadas até se permitir que os animais líderes matassem os demais. No fim da fábula os porcos se encontram numa festa com a espécie que outrora detestavam e a semelhança entre estes é tão pujante que os demais animais não conseguiam distinguir qual deles era porco e qual deles era humano.
Esta esplêndida fábula embora seja uma sátira ao Comunismo do século passado, parece a meu ver a narração perfeita da história da nossa nação, desde a conquista da independência até os tempos que correm. Que me julgue quem quiser, mas é meu dever como jovem dizer que embora a nação esteja independente continua a existir um grupo de pessoas privilegiadas, que vive à custa do trabalho do povo.
Enquanto o povo é obrigado a madrugar para tomar o chapa, os privilegiados andam em viaturas luxuosas pagas pelo erário público que já o roubam. Enquanto o povo é obrigado a comer Tseke, os privilegiados comem do bom e do melhor nos restaurantes.
Enquanto os filhos dos privilegiados estudam nas melhores escolas, o povo estuda debaixo das árvores e para entreterem o povo dizem que os autocarros avariados serão transformados em salas de aulas. Em grande parte o colono não se distingue dos actuais privilegiados, o que difere é que estes não o chamboqueam com o cassetete e fingem algo fazer pelo povo, enquanto o que realmente está em causa são os seus interesses…
Se mais não digo, é porque cada um dos moçambicanos tem muito mais por dizer. Valorizemos a independência nacional e não deixemos que a nossa história se assemelhe a que nos conta Orwell.
Por Miguel Luís
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