Quando ainda miúdo, andava por aí em alguma classe do ensino primário, tive um professor de português que, quase todo o exercício que desse aos alunos na sala de aulas (debaixo da mangueira) baseava-se nos escritos de Luís Bernardo Honwana – Nós matamos o cão tinhoso. Naquelas alturas, percebia apenas que o professor estava a querer instar-nos a ideia de que não podíamos criar no nosso seio, algo que a posterior viria a virar-se contra nós.
Mas acreditei na altura que não estava a perceber mal. E, mais tarde, já nos outros níveis de ensino, (em salas que não eram de autocarros avariados) percebi que, para além daquelas ideias que fomentei em mim sobre a natureza dos escritos do escritor moçambicano tinha uma outra: A arte de bem escrever e falar. Concluí assim que, a eloquência estava também por detrás daqueles ensinamentos de Luís Bernardo Honwana.
Mais tarde ainda, a Dra. Carla, uma professora de técnicas de expressão em língua portuguesa por excelência, a quem preferi na altura apelidar-lhe de “gramática sem páginas”, ensinou-me finalmente que a eloquência era a habilidade de convencer através do uso das palavras. Hoje, que já tento a todo o custo fazer o uso do aprendizado aprimorado durante todos estes anos de escolaridade, deparo-me com uma enorme contrariedade e/ou paradoxo entre aquilo que aprendi e gostaria de aplicar ou ver aplicado e, a realidade do meu país.
Contrariedade porque no meu país, há dirigentes capazes, devidamente formados e informados, que, quando fazem o uso da palavra, fico deveras atento para colher deles a melhor informação possível sobre o estado da nação nas áreas em que cada um dos discursantes dirige. Porque, e para a vossa informação, temos que nos informar para podermos transmitir a tantos outros moçambicanos que não tem acesso a informação, ou, se a tem, não tem muito tempo para acompanha-la pelo facto de terem sido informados por um certo dirigente para madrugar e irem semear tseke. Mas o tal dirigente ainda não fez chegar a SEMOC as sementes. Pelo que eu saiba, e por informações fidedignas colhidas nas lojas da SEMOC, nunca tiveram as sementes daquele vegetal. Mas isto engoli.
Volvidos alguns meses, outro dirigente aparece com a máxima de que, temos que produzir mais e mais, para que possamos todos nós andar em viaturas de luxo iguais àquelas que a assembleia da república comprou para dar honra a quem nunca lutou para que honra alguma tivesse: os deputados.
Roeu-me o estômago por ouvir isso, quis até transmitir esta informação aos meus avós camponeses, mas percebi que não iriam receber a informação de bom agrado, porque isso passa por desrespeito aos esforços que eles fazem diariamente para colocarem algo nos seus celeiros e uma parte nos mercados. Mercados esses que apenas os moçambicanos de baixa renda fazem compras, porque, os fulanos dos Mercedes só as fazem nos países vizinhos porque não podem se confinar connosco na Malanga, no Drive in, no Maquinino, no Waresta, no Quachena, entre outros mercados nacionais. Digeri isto e deixei passar.
Dias depois vem um outro dirigente, que acredito que o assunto de escolas e salas de aula não é da sua responsabilidade, e ninguém o chamou para dar palpite sobre quem estuda ou não ao relento, deixar ficar a informação segundo a qual, vai ou quer equacionar a hipótese de transformar autocarros avariados em salas de aula. Parei e pensei se podia transmitir esta informação àqueles que não a têm acesso. A consciência pesou-me e calei-me. Calei-me rodeado de várias questões que só o tempo tratará de dar respostas.
Se alguns mandam semear tseke sem colocar na Semoc as suas sementes, outros mandam cultivar mais para comprar Mercedes e eles nunca vão ao agricultor nacional para comprarem os seus produtos no sentido de ajuda-los a comprar os ditos Mercedes, outros ainda querem transformar autocarros em salas de aula enquanto os seus filhos estudam nas melhores escolas estrangeiras, onde está a eloquência de que um político e dirigente deveriam ter? O que aqui está mais patente é a indiferença e o sentimento de apatia. E o que aprendi com a minha “gramática sem páginas” é que indiferença é a característica de quem se mantém tranquilo, não demonstrando preocupação, se comportando de forma indiferente e, sentimento de apatia é a incapacidade de promover atitudes estimulantes.
A minha missão de transmissor de informações aos que pouco ou nenhum acesso tem, está cada vez mais comprometido. Quando queremos “ser” notícia, que seja pela positiva, que falemos o que agrada ao povo, instemos na população a esperança de dias melhores, mesmo ela mesma sabendo que a desgraça já os tomou conta eternamente. Há algum mal com os Carlos? Nenhum dos Carlos que o Governo tem pode trazer esperança?
Pelo que eu tenha lido, o nome Carlos tem origem no germânico Karl que significa literalmente “HOMEM DO POVO” ou da palavra Hari e nesse caso significaria “EXÉRCITO” ou “GUERREIRO” . E os nossos Carlos o que significam?
Por Aristides Sana
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