Milhares de muçulmanos rohingyas de Mianmar fugiram para Bangladesh nesta segunda-feira, em uma nova leva de refugiados que temem a fome e uma violência que a ONU denunciou como limpeza étnica.
Repórteres da Reuters localizados no distrito de Palong Khali, em Bangladesh, viram vários milhares de pessoas partindo do Estado de Rakhine, em Mianmar, ao longo de aterros situados entre campos alagados e florestas mirradas.
“Metade do meu vilarejo foi incendiada. Eu os flagrei”, disse Sayed Azin, de 46 anos, que contou ter caminhado durante oito dias carregando sua mãe de 80 anos em um cesto preso a uma vara de bambu com a ajuda do filho. Soldados e grupos budistas puseram fogo no vilarejo, disse.
“Abandonei tudo”, relatou, em prantos. “Não consigo encontrar meus parentes... não aguento mais isso”. Alguns recém-chegados descreveram ataques violentos de grupos budistas contra pessoas que caminhavam ao longo da fronteira.
Cerca de 519 mil rohingyas já fugiram de Mianmar desde 25 de agosto, quando ataques de militantes rohingyas a postos de segurança de Rakhine desencadearam uma reação militar feroz. Refugiados e grupos de direitos humanos dizem que o Exército e paramilitares budistas são responsáveis por uma campanha de assassinatos e incêndios criminosos cujo objectivo é expulsar os rohingyas de Mianmar.
Mianmar rejeita as acusações de faxina étnica e classificou os militantes rohingyas do Exército da Salvação Arakan, que realizaram os ataques iniciais, como terroristas que mataram civis e incendiaram vilas.
Entre os fugitivos estavam até 35 pessoas a bordo de um barco que naufragou no litoral de Bangladesh no domingo. Pelo menos 12 dos ocupantes se afogaram, e 13 foram resgatados, informou a polícia bengalesa. “Enfrentamos muitas dificuldades, para comer e sobreviver”, disse Sayed Hossein, de 30 anos, à Reuters, acrescentando que sua esposa, seus três filhos e seu sogro se afogaram. “Viemos para cá para salvar nossas vidas”.
O Governo de Mianmar disse que suas “operações de liberação” contra os militantes terminaram no início de Setembro e que as pessoas não têm motivo para fugirem, mas nos últimos dias relatou grandes levas de muçulmanos se preparando para partir – mais de 17 mil só em uma área.
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