As calorosas discordâncias e discussões de que o ensino bilingue em Moçambique tem alvo começam a ficar para atrás e já se vislumbram resultados promissores, concluíram, semana finda, os diferentes intervenientes na implementação deste projecto, reunidos na II conferência nacional sobe educação bilingue. Todavia, reconheceram que ainda há desafios para assegurar que se tenha alunos mais participativos nas salas de aula e aprendam, efectivamente, nas suas próprias línguas maternas e não apenas num único idioma (português) que lhes é, muitas vezes, estranho.
Alguns desses desafios são a falta de vocabulário próprio, elevados custos para assegurar a implementação do ensino bilingue e a multiplicidade das línguas maternas. Esta situação faz surgir um outro problema, o de padronização para que se saiba, efectivamente, o número exacto das mesmas.
Aliás, há anos, elaborou-se um projeto nesse sentido, submetido ao então Ministério da Cultura mas não se sabe se o documento existe.
Segundo o académico Rafael Sendela, a implementação do multilinguismo na 1a. 2a e 3a classes é acompanhada por aquilo que ele considerou “turbulência”, porque são necessários muitos materiais didácticos, enquanto da 4a classe em diante o trabalho é menos pesado.
“Neste momento, não se está a pensar se o ensino bilingue vai ou não funcionar”, disse Sendela, sublinhando que uma vez o processo iniciado, é para avançar.
O Governo deve “disseminar a filosofia e o objectivo do ensino bilingue” para seja devidamente percebido, especialmente pelas comunidades. Os professores só podem “transmitir e contaminar” os alunos com conhecimento se dominarem diferentes metodologias de ensino.
Durante o evento a que nos referimos, defendeu-se a necessidade de intensificar a formação de professores para essa área, pois um docente que fala uma determinada língua materna não faz dele competentes para ensinar essa mesma língua.
Para Sendela, diz-se que o ensino bilingue é ou pode ser um fiasco porque os pedagogos não conseguem usar métodos adequados para transmitir conhecimento aos seus alunos. É imperioso, principalmente, que haja domínio do que se ensina.
“É preciso transmitir e contaminar (...). Ninguém ama o que não conhece (...)”, disse o orador, apontando como outro desafio a necessidade de se “disseminar a filosofia e o objectivo do ensino bilingue”.
O português, considerado língua oficial no país desde a proclamação da independência em 1975, passou a ser um idioma obrigatório e unicamente reconhecido para o processo de ensino, num cenário em que mais de 80 porcento de crianças que entram para a escola não o conhecem.
Há poucos anos, o Governo decidiu inverter o cenário, passando a valorizar as línguas nacionais como um instrumento de instrução, sobretudo porque a própria Constituição da República as reconhece como património cultural e educacional (...).
Por sua vez, o académico Feliciano Chimbutana defendeu que o ensino bilingue no país deve acompanhar a descentralização em curso, devendo os municípios, os distritos e as províncias liderar os processos implementados pelas respectivas autoridades.
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