Manuel de Araújo deixou o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira maior força política moçambicana, e voltou para a Renamo, partido no qual se projectou como político do seu gabarito. Ele chegou ao maior partido da oposição, onde no passado foi chefe das relações internacionais, como um Messias, foi ovacionado e será o cabeça de lista pelo conselho autárquico de Quelimane nas eleições autárquicas de 10 de Outubro deste ano. O espectro da crise está à vista na chamada facção da família Simango.
Antigo deputado pela Renamo, na Assembleia da República (AR), na legislatura 2004– 2009, Manuel de Araújo tinha sido indicado cabeça de lista pelo MDM na capital da Zambézia, a cidade que lhe viu nascer e que a conhece como a palma da sua mão.
Entretanto, o também académico muito popular em Quelimane, onde nasceu a 11 de Outubro de 1970 e fez os seus estudos primários e secundários, mandou passear o partido que o suportou até chegar à presidência daquela autarquia, alegadamente porque os “quadros do MDM a vários níveis” tomavam “posicionamentos incoerentes” relativamente à interpretação dos estatutos, bem como por conta dos “acontecimentos ocorridos nas últimas sessões da Assembleia Municipal”.
Sabe-se que, na semana finda, Domingos Albuquerque, presidente da Assembleia Municipal de Quelimane [doravante designar-se-á assembleia autárquica], desencadeou uma campanha que levou os membros do órgão a não apreciarem a proposta da edilidade com vista à atribuição do nome de falecido edil Mahamudo Amurane à biblioteca municipal, o que segundo a sua linguagem era atropelar a Constituição para “satisfazer vontades políticas”.
Mahamudo Amurane era presidente do município de Nampula e foi assassinado a tiros, na noite de dia 04 de Outubro, em frente à sua residência, naquela urbe. De Araújo desvinculou-se da Renamo em 2008. De acordo com ele, com a morte de Afonso Dhlakama a “oposição fica extremamente fragilizada”, pois “era um homem de causas e morreu a negociar a democracia até à exaustão (...)” [disse à imprensa quando reagia à morte do chamado “pai da democracia”, em Maio último].
O político que não se assume como tal, supostamente porque “está empestado à política por tempo determinado” e que considera a “Renamo tem que fazer uma escolha importante, mudar ou desaparecer do mapa político [entrevista ao Canal de Moçambique, em 2009]”, disse que retornou ao seu antigo partido porque, das várias consultas feitas, apercebeu-se de que essa era a “vontade dos munícipes de Quelimane”.
“Estamos aqui apenas para cumprir esta vontade porque não passamos de meros instrumentos dos munícipes da cidade Quelimane. Neste momento, nós estamos convencidos” de que a Renamo “é a força que melhor consegue exprimir os sentimentos e os anseios dos munícipes de Quelimane”, acrescentou De Araújo.
Em 2011, o académico concorreu pelo MDM na eleição intercalar em Quelimane e venceu. Em 2013, ele renovou o mandato pelo mesmo partido, ao vencer novamente nas quartas eleições autárquicas, boicotadas pela “perdiz”.
Não é só o actual edil de Quelimane que se bandeou para a “perdiz”. Ainda na semana passada, Ricardo Tomás, outro quadro do MDM e deputado da Assembleia da República pelo mesmo partido, foi recebido como novo reforço da Renamo em Tete, onde será cabeça de lista nas eleições autárquicas.
Ricardo Tomás, abandonou o “galo” por causa dos mesmos problemas evocados por Venâncio Mondlane, António Frangoulis, de Araújo e vários outros militantes que, igualmente, se juntaram à Renamo.
Daviz Simango diz que o MDM não está em crise
O presidente da terceira maior força política moçambicana entende não existe crise no seu seio porque o “núcleo base das pessoas que constituíram o MDM ainda está lá”. Aos olhos de Daviz Simango, alguns altos quadros abandonaram o partido porque eventualmente pensavam que encontrariam nele uma plataforma para atingir objectivos pessoais.
“Agora, se alguém entra para protagonismo individual, para interesses pessoais, naturalmente não vai encontrar essas expectativas, fica frustrado e encontra o caminho de ir a outros voos. Eu penso que o problema não é democracia, o problema são os interesses pessoais”, disse o também edil da Beira, numa entrevista ao canal de televisão privada STV.
“O MDM nunca vai ser trampolim para a vida, as pessoas que vão aos outros partidos à procura de trampolim, no MDM não”, ajuntou, e acusou a Renamo de estar a enfrentar um “défice de quadros ou défice de mobilização de pessoas. Se tu vais dizer eu quero procurar os candidatos do MDM ou ex-candidatos do MDM para serem meus candidatos, significa que tu não tens uma estratégia eleitoral, não tens uma estratégia política (...)”.
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