Os trabalhadores da mina de platina de Lonmin em Marikana a nordeste de Pretória, na África do Sul, garantem que continuarão com a greve até que sejam respondidas as suas reivindicações. "Sem os 12 500 randes, nós iremos continuar aqui até depois da quarta-feira," disse o líder dos grevistas Zolisa Bodlani.
A Ministra sul-africana do Trabalho, Mildred Oliphant, irá se reunir com os sindicatos, a administração da mina e com os representantes dos mineiros nesta quarta-feira, numa tentativa de se ultrapassar este impasse. Os recentes protestos resultam, aledagamente, da rivalidade existente entre sindicatos no que concerne aos acordos de aumento salarial.
34 pessoas já perderam a vida e 78 contraíram ferimentos quando a polícia disparou contra os manifestantes no dia 16 de Agosto. Dez outras pessoas, incluindo dois polícias e dois seguranças da mina, foram mortos na semana que antecedeu ao massacre.
Entretanto a polícia prendeu 260 mineiros que compareceram ao Tribunal de Primeira Instância de Ga-Rankuwa nesta segunda-feira(27), onde respondem pelos casos de morte e actos de violência Pública.
Violação dos direitos
Os 260 mineiros que aguardam o seu julgamento, ao comparecerem em tribunal nesta segunda-feira, tiveram de permanecer dentro dos carros da polícia durante várias horas pois o tribunal não reúne condições para acomodar todos detidos ao mesmo tempo.
Grande número de familiares dos detidos deslocaram-se ao tribunal na esperança de poderem ver os seus familiares, mas esse direito foi-lhes negado, na medida que um cordão policial impediu o contacto entre familiares e mineiros.
Alguns mineiros que padecem de tuberculose e do HIV e Sida, estão a mais de uma semana sem medicar porque que não tem tido acesso aos seus medicamentos.
O semanário sul africano City Press, na sua edição de segunda-feira, reportou casos de espancamento e tortura dos mineiros encarcerados por parte da polícia enquanto aguardam pelo seu julgamento.
O julgamento destes mineiros foi mais uma vez adiada por um prazo de uma semana.
Entretanto os custos da defesa dos mineiros grevistas tem estado a ser suportado pelos "amigos da Liga Juvenil do ANC", um organização encabeçada Julius Malema, líder destituído da liderança da Liga Juvenil do Congresso Nacional Africano (ANC).
"O nosso trabalho de assistência às vítimas da tragédia não terminou, estamos a mobilizar um grupo de advogados e de juristas que irão defender o caso dos mineiros para que estes sejam libertados urgentemente," destacou Floyd Shivambu, porta-voz de Julias Malema.
Intimidações
Enquanto isso, nas proximidades do local onde tombaram os 34 colegas nas mãos da polícia no passado dia 16 do corrente mês, mais de 600 mineiros reagruparam-se para mais um dia de protesto nesta segunda-feira, numa altura em que a administração da mina de platina de Lonmin confirmou o regresso de apenas 13% do seu pessoal ao trabalho.
O terceiro maior produtor mundial de platina, defende que a não comparência do grosso da sua mão-de-obra deve-se aos crescentes actos de intimidação, visto que no final de semana registou-se a comparência de 57% dos mineiros.
"O balanço preliminar das comparências é de 13%. Registaram-se vários casos de indimidação durante a noite de domingo e nas primeiras horas de segunda-feira, desencorajando-os de comparecerem ao trabalho," lê-se no comunicado da Lonmin.
Os que compareceram ao posto de trabalho estão a receber ameaças de morte por parte dos seus colegas que continuam ainda de greve.
"Nós estamos informados da existência de colegas que optaram pelo regresso à mina, notamos esse tipo de comportamento, daí que temos de criar um plano para lidarmos com essa gente," afirmou Alfonso Mofokeng, mineiro vindo do Lesotho. " Ao retomarem o trabalho querem nos dizer que de nada serviu o sangue derramado e que eles estão bem com esta situação" acrescentou Mofokeng.
As reivindicações
Os mineiros que continuam com a sua greve nesta semana, acreditavam que os seus delegados às negociações com a administração da mina, lhes informariam que a reivindicação dos 12 500 randes de salários mensais, tinha sido aceite. De acordo com um contracto de trabalho que um dos mineiros mostrou aos jornalistas presentes no local, ele recebe cerca de 4 914 randes, e os custos de acomodação, caso resida fora dos dormitórios da mina, 1 770.
"Vivo nas acomodações da mina. Não sou abrangido pelo custo de residência. É dificil viver com os 4 mil randes", afirmou o mineiro Abram Pitso.
Pitso, adiantou ainda que deseja remodeler a sua casa, mas que essa intenção só poderia ser possível se lhe pagassem um valor de 12 mil randes. "Os 12 500 pelo menos podem nos compensar o esforço que dedicamos à mina," acrescentou.
Ameaças da Cosatu
A Federação dos Sindicatos da Àfrica do Sul, Cosatu, através do seu Presidente, Sdumo Dlamini, garante que irá calar o destituído presidente da liga juvenil do ANC, Julius Malema, e o Presidente da Amcu, o Sindicato dos Mineiros e dos Constructores, Joseph Mathunjwa.
A Cosatu, apelou aos " Amigos da Liga Juvenil do ANC", uma organização que surgiu em resposta aos líderes juvenis destituídos pelo ANC, para "pararem de andar por cima dos corpos" dos mineiros mortos no massacre, defendeu Dlamini.
Pela primeira vez, a Cosatu endereçou um aviso directo ao Malema, para que este parasse de usar a tragédia para fins pessoais. Dlamini, adianta ainda que está sobre ataque de Julias Malema, do Presidente da Amcu, Joseph Mathunjwa e do antigo Presidente da Satawu, Ephraim Mphahlele.
Ephraim Phahlele, demitiu-se há duas semanas da Satawu, para se juntar ao sindicato recém formado Amcu, que reivindica a autonomia dos sindicatos face a aliança existente entre o ANC e a Cosatu. Para o presidente da Cosatu, Mathunjwa e Malema estão envolvidos numa cruzada de vingança visto que eles foram expulsos da NUM, o Sindicato Nacional dos Mineiros, e do ANC, o Congresso Nacional Africano, respectivamente.
Homenagens vs batalhas políticas
No que deveria ter sido o momento de união na dor face as vítimas do massacre e das famílias enlutadas, a homenagem da quinta-feira (23) transformou-se numa autêntica batalha política, quando o expulso líder da ANCYL, Liga da Juventude do ANC, Julias Malema, usando da palavra responsabilizou o Governo de não estar ao lado do povo. Esta intervenção de Malema, fez com que os ministros do executivo de Zuma, abandonassem o local muito antes do fim do programa de homenagens. A intervenção de Malema não constava da lista das pessoas que teriam direito a palavra, segundo o programa traçado pelo Governo.
Mesmo com os apelos dos líderes religiosos de não se usar a cerimónia para fins políticos, Malema, no que é descrito de "hijack" fez uso do microfone para acusar os membros do Governo ali presentes de estarem, mais uma vez, a mentir para o povo e a derramarem lágrimas de crocodilo.
"O nosso Governo tornou-se num porco que come os seus próprios filhos," disse Malema.
Vários membros do executivo sul-africano, retiraram-se do local antes mesmo de concluírem a homenagem aos mineiros que tombaram nas mãos da polícia e dos seus colegas.
Entretanto, Roger Phillimore, Presidente do Conselho de Administração da companhia mineira de Lonmin, prestou condolências na ocasião aos familiares dos finados. Esta foi a primeira vez em que um membro de direcção da mina se dirigiu aos mineiros e a comunidade.
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