Cerca de duas semanas após a tragédia de Caphiridzange, no distrito de Moatize, continuam a ser registados óbitos no Hospital provincial de Tete. Dos 173 cidadãos que foram atingidos pela explosão da cisterna com combustível de um camião 100 tinham perdido a vida até esta quarta-feira(30). Desde há uma semana que a Polícia da República de Moçambique(PRM) não revela nenhum desenvolvimento relativamente aos responsáveis pelo roubo de gasolina que originou a desgraça, todavia há relatos de envolvimentos de agentes da corporação no crime.
A substituta da directora da maior unidade sanitária de Tete, Verónica de Deus, disse a Rádio Moçambique que entre terça-feira(29) e quarta-feira(30) mais um cidadão não resistiu as graves queimaduras no seu corpo e perdeu a vida. Existem na pequena localidade do centro de Moçambique 130 crianças que perderam os seus progenitores.
De acordo com a fonte hospitalar continuavam internados mais de quatro dezenas de feridos, entre eles oito crianças e uma mulher grávida, e pelo menos sete pacientes estavam em estado considerado muito grave.
Recorde-se que a explosão aconteceu no passado dia 17 na sequência de um roubo organizado de combustível com destino ao Malawi que não correu bem. Enquanto se aguardam os resultados da Comissão de Inquérito criada pelo Conselho de Ministros a PRM continua a não saber o paradeiro do motorista do camião que transportava a cistena e nem mesmo identificou os restantes envolvidos no furto.
Polícias envolvidos no roubo de combustíveis que despoletou a tragédia
Segundo o semanário Savana o motorista de nacionalidade malawiana terá acordado desviar o combustível que transportava para o revendedor ilegal moçambicano, identificado pelo nome Sabino e que vive no bairro da Liberdade em Moatize, que terá enviado para a colecta uma segunda carrinha, de marca Toyota Dina de 2 toneladas, com recipientes plásticos e uma moto-bomba.
Durante o roubo que aconteceu na véspera da explosão, na presença de dois agentes da PRM que, de acordo com o Savana, “já estavam no esquema desde a pré-negociação da gasolina para impedir intrusão”, registou-se um curto circuito na moto-bomba e originou fogo.
“O fogo começou na secção traseira do tanque, com os 15 mil litros de gasolina, e rapidamente se alastrou através da mangueira para os bidons que estavam na Toyota Dina, que continuava estacionado em paralelo com a plataforma. Nesta ocasião, com o céu coberto de nuvens após uma chuva miúda, o motorista do cisterna desengatou a cabine - arreando os suportes do atrelado e a alavanca de engate - e afastou uns 100 metros, na mesma ocasião em que o Toyota Dina igualmente era afastado das proximidades do cisterna, mas não foi além de uns 50 metros e ficou totalmente carbonizado”, revelou o Savana.
Na sequência deste primeiro incêndio cidadãos curiosos residentes em Caphiridzange aproximaram-se do local tendo impedido que as chamas atingissem a segunda secção do tanque, com outros 15 mil litros, que continuou intacta.
O semanário Savana refere que durante a noite o comprador moçambicano terá removido os restos da sua viatura assim como o motorista malawiano abandonou o local porém, durante a manhã do dia fatídico “um outro contingente de dois agentes da Polícia em Caphiridzange foi deslocado para a protecção do local”.
“Os Polícias chegaram e, quando deram conta que ainda havia gasolina na secção do tanque, pediram um grupo de jovens para tirar o combustível com bidões e começaram a vender para revendedores, até que a situação ficou incontrolável, havia uma inundação popular nos arredores do cisterna”, contou um sobrevivente ao Savana.
“Depois dos polícias terem tirado a parte deles, (estes) avisaram à população e começou a haver enchentes, porque cada um que ia a procura de mais recipientes voltava com outros convidados. E assim foi enchendo cada vez mais”, declarou um outro sobrevivente.
“Quando a situação começou a ficar sem controlo, um dos agentes, que tentavam parar a população à boca (sem resultados), disparou um tiro para o ar, e a seguir houve chamas, que começou de fora para dentro e cobriu a população, por isso houve mais mortes em baixo do que por cima do tanque”, explicou ao semanário outro sobrevivente.
O Savana reportou a existência de pelo menos dois agentes da PRM detidos mas oficialmente a Polícia só revelou a detenção de um cidadão que seria o alegado comprador do combustível roubado na véspera da tragédia.
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